Diogo Campos
Diogo Campos
17 Mar, 2017 - 12:15

2 mil quilómetros à boleia até ao fim do mundo

Diogo Campos

Estava frio, chovia e o vento não dava tréguas, mas tinha de ir para a estrada tentar uma boleia até Esquel.

2 mil quilómetros à boleia até ao fim do mundo

Esquel era a próxima cidade mais a sul de El Bolsón na cordilheira dos Andes, onde tinha um couchsurfing à minha espera. Após uma pequena boleia fiquei no meio do nada.

A chuva cada vez mais forte começava a ensopar as minhas calças e nunca tinha desejado tanto que alguém parasse. Foram cerca de trinta minutos, que mais pareceram três horas, até que duas senhoras de meia idade pararam e me deram boleia até à porta da casa onde iria ficar.

Hospedar-me em casa de desconhecidos que nos abrem a porta de sua casa e nos dão todo o conforto que necessitamos é fantástico! Nesses momentos percebo que o mundo tem pessoas com um coração gigante.

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No dia seguinte fui novamente para sul e só tinha uma casa para me abrigar a quase 1500km de distância. Foram três dias e duas noites, literalmente plantado na estrada como uma árvore, à espera que me dessem boleia (estive duas vezes mais de 7h à espera). O sul da Patagónia mais parece o interior do Alentejo, onde além dos campos desertos não existe mais nada e onde a miragem de um carro é como a de um lago no deserto.

Várias foram as vezes em que me sentei e deitei no alcatrão com os olhos no horizonte, onde a estrada não tinha fim. Mas sempre havia alguém que parava e me levava por algumas centenas de quilómetros. Depois de duas noites a dormir na tenda entre os camiões que ficavam estacionados ao lado das bombas de gasolina, fiquei em casa de outro couchsurfer que me brindou ao jantar com uma bela pizza caseira.

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Estava no sul do continente e só tinha o estreito de Magalhães, sobre o qual tantas vezes li e me parecia tão distante e agora tão próximo, a separar-me da Terra do Fogo. Uma ilha entre o continente americano e a Antártida, dividida entre a Argentina e o Chile.

Atravessar o estreito foi uma viagem no tempo onde imaginei Fernão de Magalhães e toda a tripulação há 500 anos, com todas as dificuldades daquela época dos descobrimentos, a atravessarem estas águas geladas tão distantes do resto do mundo.

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Na Terra do Fogo, como em qualquer ilha, é muito fácil andar à boleia e em cinco minutos ou menos pára um carro disposto a levar-me. A temperatura tinha descido drasticamente e apesar de saber que assim era, não tinha as roupas adequadas, mais parecia o Inverno rigoroso de Portugal. Felizmente tinha outro couchsurfer para me receber, caso contrário, iria morrer de frio pela noite em Ushuaia.

Mais do que observar as montanhas dos Andes a abraçarem o mar, e toda a beleza que é poder estar no meio desta natureza tão virgem com paisagens de cortar a respiração, não há comparação com a energia que se sente em todo este lugar que quase beija a Antártida.

Sempre que falava com outros mochileiros, o sentimento era o mesmo. E tê-lo feito à boleia, a dormir onde calhasse e sem ter gasto um cêntimo durante a última semana é uma sensação que jamais vou conseguir descrever. Acompanhem a aventura em Puririy.

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