Diogo Campos
Diogo Campos
24 Mar, 2017 - 14:03

À boleia pela cordilheira dos Andes

Diogo Campos

Supostamente devia ter saído no sábado de manhã de Ushuaia, mas os meus mais recentes amigos convenceram-me a ficar mais uma noite.

À boleia pela cordilheira dos Andes

A única razão porque quase rejeitei era porque que tinha de estar sábado em Bariloche e pior, tinha que subir quase 2000km à boleia para norte por uma estrada que é conhecida como “cemitério dos mochileiros”, por ser uma estrada muito pouco transitada e onde se multiplicam as histórias de quem ficou à espera de uma boleia mais de dois dias à chuva.

Domingo era dia de começar a subir, e pelo menos chegar ao continente, mas isso não aconteceu. Quando estava a pedir boleia à porta da cidade, um carro parou e levou-me. Não iam muito longe, mas habitualmente aceito sempre independente de ser uma viagem curta ou longa.

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Passados cerca de vinte minutos os dois jovens, mais ou menos da minha idade, um deles com uma filha com menos de um ano, disseram-me que iam para um churrasco e que eu estava convidado. Pensei que não iriam surgir muitas oportunidades destas e um churrasco é sempre um churrasco, em qualquer canto do mundo. Aceitei e apesar de saber que me iria atrasar mais um dia, sabia também que viajar sozinho, sem obrigações e sem dinheiro é estar disponível para a magia que o mundo tem para oferecer.

Foi fantástico! Comi pela primeira vez carne na Argentina, um cordeiro assado na estaca que estava delicioso. Além do cordeiro bebemos vinho da Patagónia, tive oportunidade de andar a cavalo e ouvi histórias de infância dos mais velhos.

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Ainda bem que disse que sim e, como eles diziam, se eu contasse esta história em Portugal poucos iriam acreditar. Eram 19h, fazia muito frio e apesar de me terem convidado para pernoitar decidi ir para estrada, pois o dia ainda tinha duas horas de luz. Com sorte ou não, em duas boleias consegui fazer quase 400km, o que foi muito bom. Nessa noite dormi no posto da fronteira entre a Argentina e o Chile.

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A minha subida foi um constante zigzag entre os dois países, que estão separados pela cordilheira dos Andes. Cada vez sentia os dias mais quentes, conforme subia para norte, como se tivesse ido diretamente do Inverno para a Primavera. Acabei por não conseguir desfrutar de alguns locais que ficavam no meio do caminho, mas que também na grande maioria era necessário pagar para entrar, algo impossível para mim.

Foram muitas horas à espera em locais perdidos no mundo, por vezes sozinho, outras vezes apareciam pessoas como eu… em casal, sozinhos ou em grupos de três e quatro e rapidamente começávamos a falar como se já fôssemos amigos de longa data, até que aparecia um carro e levava o primeiro, com sorte levava dois e com muita sorte era uma carrinha que levava toda à gente que estava à espera, como se fôssemos parte da carga.

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Das várias boleias que apanhei, algumas de 30min outras de 6h tomávamos mate, ofereciam-me bolos, sandes, refrigerantes e até guloseimas, mas o melhor era ficar a conhecer as pessoas locais e as suas histórias. A aventura continua em Puririy.

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