Paula Landeiro
Paula Landeiro
15 Jun, 2022 - 10:53

Inflação está a subir: saiba como afeta a sua carteira

Paula Landeiro

Presente na rotina de todos nós, a palavra inflação pode assustar. Saiba tudo sobre este tema tão importante: o que significa e como é calculada.

Inflação

Embora nos anos mais recentes a inflação tenha estado em valores muito baixos, o cenário está a mudar muito rapidamente. Dados do INE divulgados recentemente revelam que a taxa de inflação acelerou para 8% em maio de 2022, o valor mais elevado desde fevereiro de 1993.

Esta pressão inflacionista tem impacto na sua carteira: com certeza que já se deu conta que perdeu poder de compra e que a vida está mais cara. As previsões apontam que esta é uma tendência que parece estar para durar.

O que é a inflação e como é calculada?

A inflação é a subida generalizada dos preços de todos os produtos. É natural, por isso, pelo efeito da lei da oferta e da procura, os preços dos bens e serviços mudarem. Por exemplo, se há maior procura por um determinado produto, é normal que o seu preço suba.

Alguns preços sobem, outros descem. No entanto, em momentos de inflação, os preços sobem independentemente da aplicação dessa lei e essa subida generalizada dos preços verifica-se durante um período de tempo prolongado.

Como se calcula a inflação?

Índice de Preços no Consumidor (IPC)

A inflação é apurada mensalmente e é dada pela variação do IPC – Índice de Preços no Consumidor de mês para mês. Para se calcular o IPC, divide-se o custo do cabaz de compras em dado período pelo custo do cabaz no período-base e multiplica-se o resultado por 100.

Cabaz representativo

Por sua vez, para chegar ao IPC, é necessário definir um cabaz de produtos representativos do padrão de consumo de uma família.

Esse cabaz de compras contém uma ampla variedade de bens e serviços, como produtos alimentares, vestuário e calçado, automóveis, computadores, rendas de habitação, água, energia e combustíveis. Depois aplicam-se ponderações diferentes para cada produto, uma vez que têm pesos diferentes no orçamento familiar.

Ou seja, nem todos os bens vão ter o mesmo peso no cálculo da inflação. Os produtos em que se gasta mais, como a eletricidade, têm um peso maior, do que aqueles em que se gasta menos, como por exemplo o açúcar.

Também é preciso ter em conta que as famílias têm hábitos de consumo diferentes. Algumas comem carne e outras são vegetarianas, uns têm automóvel próprio e outras só utilizam transportes públicos.

Assim, a ponderação dada a cada produto é determinada em função do gasto médios de todas as famílias. Só assim,  é possível ter um valor mais perto do real impacto do aumento de preços nos bolsos das famílias.

Exemplo:

Pensando num cabaz de compras representativo da despesa anual de um estudante universitário, estas despesas podem corresponder a: renda do quarto, material escolar, transportes, propinas, 100 refeições e 50 bebidas.

Se quisermos fazer o cálculo anual, pensamos que, no ano base, o custo deste cabaz foi 2000 euros, aumentando para 2100 euros, um ano depois (ano 1), e para 2300 euros, dois anos depois (ano 3).

  • IPC para o ano 1 = (Custo do cabaz no ano 1 – Custo do cabaz no ano 0) x 100 = (2100€ / 2000€) x 100 = 105.
  • IPC para o ano 2 = (Custo do cabaz no ano 2 – Custo do cabaz no ano 0) x 100 = (2300€ – 2000€) x 100 = 115.

Taxa de inflação

A inflação é medida pela taxa de inflação, que indica a percentagem de aumento de um cabaz de produtos num determinado momento em relação ao outro momento anterior. Este cálculo está a cargo do INE – Instituto Nacional de Estatística, realizando-o todos os meses .

Existem várias taxas de inflação que se podem indicar, pelo que é importante conhecer o seu significado. Sendo que a taxa de inflação homóloga e é a mais utilizada.

  • Inflação Mensal: Reflete a variação dos preços entre dois meses consecutivos. Permite um acompanhamento corrente da evolução dos preços.
  • Inflação Homóloga: Reflete a variação dos preços do cabaz representativo entre o mês corrente e o mesmo mês do ano anterior.
  • Variação média dos últimos doze meses: compara a inflação média dos últimos doze meses com a dos doze meses imediatamente anteriores.

Como interpretá-la?

Se esta taxa estiver entre 0% e 1%, significa que os preços ficaram praticamente na mesma. Mas se for superior a 2% então estamos num período de inflação, que pode ser mais difícil controlar.

Se a taxa for negativa então significa que houve uma deflação. Os preços do período em questão diminuíram em relação aos preços verificados no período utilizado para comparação.  

Qual o impacto da inflação nas nossas vidas?

Uma inflação baixa e estável estimula o crescimento económico. Uma inflação elevada leva a uma perda significativa do poder de compra, isto é, com o mesmo dinheiro passa a comprar menos do que antes.

Este cenário pode ainda ser mais grave se os preços subirem sem controlo. Um dos piores casos de inflação ocorreu na Alemanha, depois da I Guerra Mundial. Entre 1921 e 1924, quando a moeda alemã perdeu quase 100% do seu valor e, por isso, um simples pão custava milhões de marcos alemães.

Efeitos no consumo e no custo de vida (poder de compra)

A inflação pode roubar poder de compra à sua poupança se estas não estiverem aplicadas, como acontece no caso de ter o seu dinheiro numa conta è ordem, que não lhe paga juros, e por isso equivale a guardar o dinheiro em casa.

Assim, cada euro que tem poupado vai valer menos por causa da inflação.

Por exemplo, se estiver a poupar para uma viagem que hoje custa 1.200 euros, supondo uma taxa de inflação anual de 5%, daqui a 2 anos a mesma viagem irá custar 1.320 euros.

Qual o impacto nos nossos investimentos?

A variação dos preços é bastante importante não só para avaliar o poder de compra das famílias, como também para medir o ganho real dos investimentos.

É importante garantir que com os seus investimentos não irá perder poder de compra. Desta forma, sempre que decidir colocar o dinheiro a render procure saber a taxa de inflação e se esse produto lhe oferece uma taxa superior.

Em que produtos investir se proteger da inflação?

Obrigações indexadas à inflação: oferecem uma taxa de juro igual à inflação, à qual acresce uma parte fixa, o “juro real”. Pode investir diretamente nestas obrigações ou subscrever unidades de participação de fundos de obrigações indexadas à inflação.

Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro: têm capital garantido e as suas taxas acompanham a inflação.

Aproveite taxas promocionais de depósitos a prazo – mas só se a taxa de juro for superior à taxa de inflação.

Fundos PPR, Fundos de Investimento ou ETF: são produtos com maior rentabilidade, normalmente bastante acima da inflação, mas atenção não têm capital garantido, o que é seguramente um risco que tem de ponderar se vale a pena correr.

Mas aplique o seu dinheiro, dinheiro parado na conta à ordem só estará a ser “comido” pela inflação. Dinheiro que seguramente lhe custou a ganhar.

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