Diogo Campos
Diogo Campos
03 Abr, 2017 - 08:29

O lado chileno da cordilheira

Diogo Campos

As últimas duas semanas foram passadas praticamente na estrada, talvez tenha emagrecido dois, três quilos.

O lado chileno da cordilheira

Além de ter ficado mais magro, nos últimos dias devido à humidade e à chuva miudinha constante que se faziam sentir, no lado Chileno da cordilheira, não tinha coragem para mergulhar nos lagos e fiquei sem tomar banho durante cinco dias!

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Mas para compensar tudo isto a Carretera Austral, que é a única estrada do Chile que vai até ao sul do país por mais de mil quilometros e na grande maioria através de uma estrada de brita, foi sem dúvida a estrada com as paisagens mais bonitas que vi na vida.

Por momentos parecia que estava no filme do Jurássico Parque, 100km à frente no filme da Grande Cruzada da saga Indiana Jones, e noutro trecho, no meio das paisagens, no filme Avatar.

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A viagem à boleia de ida e vinda ao Ushuaia tinha terminado e estava de novo no hostel onde vou cozinhar novamente por algumas semanas em troca de comida vegan, uma cama e banho quente. O ideal para recarregar as energias e comer decentemente.

Cheguei às 21h e a forma como fui recebido foi fantástica, abraços atrás de abraços, abraços argentinos, abraços chilenos, abraços russos, abraços de todo o mundo e um prato com comida quentinha. Voltar a encontrar pessoas na viagem é um sentimento indescritível.

A liberdade que tinha na cozinha era total. Eu decidia o que cozinhava e que alimentos utilizar, a única condição era que só podia gastar cerca de vinte euros nas compras por dia e Bariloche não é barato… é bem mais caro que Lisboa, ainda assim tinha uma despensa cheia de alguns alimentos o que ajudava.

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Fiz falafel, tahini, húmus, alho francês à brás, caril de legumes, massa com vegetais e pesto no forno… Os cozinhados fluíam de uma forma tão natural que parecia já tê-lo feito no passado, e acredito que tudo se deve à energia do hostel, que era fantástica.

Ajudei também alguns dias no pequeno-almoço, que era melhor do que em muitos hotéis de cinco estrelas. Fazíamos o pão, o café, diferentes tipos de doces com frutas biológicas, o leite de coco (a minha bebida favorita) e manteiga de amendoim. Toda a gente amava a comida e a energia do hostel, mais de metade dos hóspedes pensavam ficar uma, duas noites e acabavam por ficar cinco, seis, sete dias.

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Aqui não existiam fronteiras, apesar de existirem muitos europeus, principalmente franceses, alemães e ingleses as conversas cruzavam todo o mundo. Havia gente que estava de férias duas semanas, outros um mês, outros três e outros estavam sem previsão de quando terminar.

Normalmente a faixa etária encaixava-se entre os vinte e os trinta, mas uma noite apareceu uma senhora com mais de setenta anos. Nas costas trazia uma mochila verde enorme, na cara um sorriso de pura felicidade e perguntou se havia comida. Fui-lhe buscar um prato do que ainda tinha sobrado do jantar. A conversa foi super inspiradora e só a aparência física denunciava a idade, porque em tudo o resto era uma jovem, com todos os sonhos pela frente e uma grande vontade de correr o mundo. A aventura continua em Puririy.

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