Diogo Campos
Diogo Campos
10 Jun, 2017 - 11:10

O maior susto de toda a viagem

Diogo Campos

Estava impressionado com as scooters que passavam por mim, não por serem muitas, mas porque pareciam quase autocarros pela quantidade de pessoas que transportavam.

O maior susto de toda a viagem

Ver um casal com uma criança ou um bebé no colo e todos sem capacete era mais do que normal, também cheguei a ver mais que uma vez a mãe com três filhos, mas o que me deixou de boca aberta foi uma mãe com quatro filhos. A mãe e os três filhos mais velhos iam sentados no banco e o mais pequeno, talvez com três aninhos estava sentado aos pés da mãe e de um dos irmãos, de costas para o guiador.

O dia não estava a ser dos melhores para pedir boleia e já depois do sol se ter posto apenas tinha feito pouco mais de 200km. Tinha decidido que se às 20h ninguém parasse ia procurar um lugar próximo para montar a tenda. Estava junto à última casa da rua e poucas horas antes tinha trocado algumas palavras com um homem que lá vivia.

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Depois da casa só havia um cemitério e a seguir era um total descampado. Já de noite, poucos minutos antes das 20h, uma boleia levou-me até à próxima cidade, La Rioja, que ficava a 250km. Devemos ter viajado pelo menos duas horas, antes de ter parado na auto-estrada que rodeava a cidade.

Estava escuro e a iluminação que havia era das luzes altas que iluminavam a estrada e da bomba de gasolina que ficava do outro lado, onde muitos camiões estacionados aí pernoitavam. Esta boleia acabou por me salvar o dia e, depois de trocarmos algumas palavras, agradeci e atravessei a auto-estrada.

A noite estava perfeita e, pela primeira desde que tinha chegado à Patagónia, no início de Fevereiro, sentia uma brisa quente e praticamente não necessitei do saco de cama para me tapar durante a noite. Mas o dia seguinte tinha reservado para mim um dos maiores sustos que tive na viagem.

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Depois de desmontar a tenda, comer um pouco da sandes de panado que a mãe do Matias me tinha preparado, de lavar a cara e os dentes e ainda ter deixado uma mensagem de voz para Portugal a dizer que estava tudo bem, segui para a estrada e caminhei quase três quilómetros até chegar à última rotunda. Quase não esperei tempo nenhum até que pararam duas pick-ups.

Entrei na de trás que estava atrelada à da frente, por não ter motor. O condutor estava alcoolizado e, apesar de não precisar de acelerar ou travar, necessitava de guiar o volante e ainda me ofereceu cerveja que estava a beber de uma garrafa de plástico. Apesar de o início da viagem ter sido mais ou menos tranquilo com uns ligeiros “s’s”, coloquei o cinto de segurança, que é algo raro de se fazer na Argentina. Pensei que, como estávamos a ser puxados e não íamos a mais de 70km/h, não se iria passar nada.

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O que me preocupava era a viagem que tínhamos pela frente, de mais de 400km. Ao final de 100km começou a dizer que tinha sono e começou a fazer “s’s” mais largos e mais bruscos. Não conseguia fazer nada porque o carro da frente é que poderia parar e não conseguia sair de nenhum jeito deste filme. Finalmente encostaram e veio outro jovem conduzir, para meu grande alívio.

Nessa noite dormi no meio de um canavial e depois cheguei a Amaicha del Valle, uma vila indígena, onde supostamente era para ficar três dias mas acabei por ficar uma semana. No próximo artigo explico porquê! Siga a viagem em Puririy.

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