Pedro Andrade
Pedro Andrade
19 Jun, 2017 - 10:09

Pó de talco e cancro: há ligação?

Pedro Andrade

Será que o uso de pó de talco e o cancro estão relacionados? Saiba mais sobre este assunto que tantas dúvidas tem levantado.

Pó de talco e cancro: há ligação?

Esta história já não é nova: as ligações entre pó de talco e cancro já fizeram correr muita tinta na imprensa internacional à conta de diversos casos que chegaram às malhas judiciais.

O caso mais recente aconteceu no Missouri, um estado norte-americano, onde um tribunal condenou a mundialmente famosa Johnson & Johnson a pagar 110 milhões de dólares (algo como 101 milhões de euros) a uma mulher que garantiu que desenvolveu cancro nos ovários por ter utilizado durante décadas o pó de talco desta empresa.

Só no ano passado, no mesmo estado norte-americano, a companhia foi processada três vezes. Mas a verdade é que existem cerca de 2400 processos em tribunal contra a Johnson & Johnson: tudo porque, dizem, o pó de talco comercializado por esta empresa causa cancro.

Quais os componentes do pó de talco?

O talco é um mineral composto por silício, magnésio, oxigénio e hidrogénio. É extraído do solo e é muito utilizado em cosméticos e produtos de higiene pessoal, nomeadamente o pó de talco da Johnson & Johnson. Na forma mais natural, o talco contém amianto, um carcinogénico bastante conhecido. Ainda assim, a Sociedade Americana do Cancro diz que todos os produtos comerciais vendidos nos Estados Unidos estão livres de amianto desde a década de 1970.

Pó de talco e cancro: afinal, existe alguma ligação?

De acordo com as queixosas, a empresa não colocou nenhum aviso nos rótulos das embalagens onde explica que existe uma possibilidade de o pó de talco potenciar o aparecimento de cancro do ovário.

Será que é mesmo assim? O Grupo Português de Estudo do Cancro do Ovário, na publicação “Manual do Cancro do Ovário”, diz: “é possível que o talco possa ser transportado e alcance os ovários. O talco pode estar contaminado com quantidade significativa de asbestos. Tal facto conduziu ao estudo de grupos de trabalhadoras que lidam com asbestos (amianto) e foi assinalado um risco acrescido de cancro do ovário nesses grupos. Também operárias que contactam com aminas e hidrocarbonetos aromáticos estão em risco de virem a contrair cancro do ovário”.

Diz ainda que “o uso de talco cosmético no períneo, quer em loções de higiene íntima, quer em pensos higiénicos, preservativos ou diafragmas contracetivos, foi incriminado como possível fator de risco para o cancro do ovário”.

Também a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro diz que o uso do pó talco na zona genital “é possivelmente cancerígeno para os seres humanos”.

Ainda assim, os dados são contraditórios quanto às ligações entre pó de talco e cancro: Alison Reid, investigadora na Universidade da Austrália Ocidental, analisou os estudos publicados entre 1950 e 2008 que verificam se existe uma relação entre o pó talco e o cancro, nomeadamente o cancro do ovário. Os resultados desse estudo foram conhecidos em 2011 e os autores dizem que não existe nenhuma prova científica de que o amianto causa cancro do ovário.

Já o Cancer Research UK afirma que não há evidência científica que prove que o pó de talco usado nos contracetivos aumente o risco de cancro dos ovários.

Pó talco e cancro: provas não são conclusivas

De acordo com os especialistas, o cancro no ovário é bastante agressivo, tem uma elevada taxa de mortalidade, mas é bastante raro. De acordo com a Sociedade Portuguesa de Ginecologia, não existe um rastreio para estes tipos de cancro e os sintomas “não são específicos”. Por ainda não existirem certezas quanto à origem deste tipo de problemas, provar a ligação entre pó de talco e cancro, neste caso o cancro dos ovários, ainda está longe de ser cientificamente comprovada.

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