Margarida Ferreira
Margarida Ferreira
11 Jan, 2017 - 11:34

As mil e uma maravilhas de Melgaço

Margarida Ferreira

Este é o concelho mais setentrional de toda a terra lusitana. Ladeado pelos rios Minho e Trancoso, a norte e a este, respetivamente, estes traçam as linhas de fronteira com Espanha. 

As mil e uma maravilhas de Melgaço

A sul da nascente do Trancoso, do lado Este, a fronteira desenha-se na chamada raia seca. Continuando para sul, descemos pelo lindo vale do rio Laboreiro que completa a fronteira do lado Este com terras espanholas. A oeste de Melgaço, está Monção e a sul encontramos Arcos de Valdevez, os únicos vizinhos lusos.

À descoberta de Melgaço

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Melgaço é terra abençoada pela Mãe Natureza e sempre embelezada pelas suas gentes ao longo do tempo, numa comunhão perfeita entre a mão de Deus e a obra do Homem. Ao longo dos tempos, a interioridade ditou a necessidade de muitos dos filhos desta terra procurarem melhores condições para as suas famílias noutras paragens. Brasil, França e outros destinos europeus, Estados Unidos da América, entre muitos outros “portos de chegada” por esse mundo fora acolheram gente desta terra.

Melgaço é assim uma terra que sofre bastante com o despovoamento que atualmente procura inverter com todas as suas forças esse fenómeno.

A origem de Melgaço perde-se na penumbra da História. Da sua vila, sobranceira ao rio, pouco se sabe acerca das suas origens. A sua localização parece ter motivações de defesa militar. No tempo de D. Afonso Henriques, havia ali uma fortificação de origem árabe que se encontrava em ruínas. Terá sido o primeiro rei de Portugal que a reconstruiu e que a dotou de uma forte cintura de muralhas com vista a desempenhar o importante papel na defesa da fronteira em vários momentos da História.

Podemos dizer com toda a certeza que esta Praça Forte de Melgaço foi vital na defesa da nossa Pátria lusitana, desde a Idade Média até às Guerras da Restauração no século XVII. Melgaço foi também a primeira praça portuguesa a fazer ouvir o grito de libertação contra o as tropas de Napoleão, durante a 2ª invasão francesa, enchendo o resto do país de coragem para expulsar o invasor.

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Nesta vila onde a arquitetura antiga e as edificações modernas se mistura numa agradável simbiose, é obrigatório a visita aos seus museus e outros espaços onde vale a pena entrar. Podíamos começar pelo Solar do Alvarinho instalado num edifício muitos séculos de História, onde já se localizou inclusivamente a própria Câmara Municipal em tempos. Aí pode provar variadíssimas marcas de alvarinho produzido concelho e certificar-se da qualidade deste néctar.

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Passe também pelo Núcleo Museológico localizado na torre do castelo e ficará a saber algo mais sobre as origens desta fortificação e deste centro histórico onde se insere. Visita obrigatória nesta vila, é igualmente o Museu do Cinema Jean Loup Passek, único do género em Portugal. O recentemente falecido cineasta francês que dá nome a este museu ofereceu o seu valioso espólio e a autarquia encarregou-se de lhe construir um museu condizente com o seu valor incalculável e espera a sua visita.

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Para completar o circuito museológico dentro desta vila, visite também o espaço museológico “Memória e Fronteira” e será transportado para um tempo antigo onde a emigração ilegal e o contrabando fizeram parte do modo de vida desta gente. Melgaço é mesmo assim, uma terra que não esquece o seu passado.

O peso da sua História dá às gentes melgacenses uma identidade muito própria. Melgaço é identidade mas é também diversidade. A norte, o rio Minho, o seu verde vale com as suas vinhas, as hortas e os milheirais. A sul, os montes, as terras altas onde a cor da paisagem é totalmente diferente e o verde é substituído pelas cores do monte que vão alternando segundo a estação do ano. 

Costuma-se dizer que o território de Melgaço se reparte entre a ribeira e o monte. Na área ribeirinha, dominam as vinhas do aclamado vinho alvarinho, casta rainha dos vinhos verdes, que pintam as encostas e o fundo do vale. Subindo às terras altaneiras, os campos dão lugar a frondosas manchas florestais e finalmente estas vão desaparecendo até atingirmos as altitudes maiores da Serra da Peneda e ou então o planalto e os Montes do Laboreiro, em terras de Castro Laboreiro.

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Para chegar a terras castrejas, pode subir pela estrada que passa por Fiães, ou então pela mais nova estrada nacional. Impossível dizer qual o itinerário mais bonito. A primeira corresponde a um antigo caminho que durante muitos séculos ligou as vilas de Melgaço e Castro Laboreiro, e passa pelo histórico mosteiro de Fiães e depois segue o vale do rio Trancoso, um pequeno afluente do Minho que desenha a linha de fronteira durante o seu curto trajeto. 

Hoje em dia, aquela ligação, geralmente, faz-se pela estrada nacional, concluída apenas em meados do século passado. Aproveite a viagem, não tenha pressa e aprecie a forma como a paisagem vai mudando e as suas cores se vão transformando.

Quando chegar à vila de Castro Laboreiro, suba ao castelo. Vá com calma, percorra o trilho e entre nas ruínas de um antigo castelo cujas pedras tem longas e antigas estórias para contar. Quando atingir o ponto mais alto, olhe demoradamente à sua volta. Contemple e assimile! A paisagem, essa é agreste onde o cinzento do granito a nu alterna com as cores da vegetação dos montes.

Desta antiga fortificação, não estamos certos quanto às suas origens no tempo. Será contudo anterior à fundação da Pátria portuguesa. Foi absolutamente fundamental na defesa das fronteiras do país na região.

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Contudo as terras de Castro Laboreiro não se resumem à vila e às ruínas do seu velho castelo. Tem um roteiro de pontes que parecem saídas de um livro de histórias de um reino maravilhoso. São edificações com muitos séculos de História, outrora fundamentais para se percorrerem os caminhos destas terras altas em épocas onde nem se sonhavam com automóveis.

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Saiba também que em Castro Laboreiro existe um costume secular quase único em Portugal. A freguesia é composta por lugares fixos, brandas e inverneiras. Esta organização deve-se ao facto de, em tempos, boa parte dos castrejos possuírem duas casas: uma na branda e uma na inverneira. As primeiras correspondem a lugares em locais de elevada altitude, onde as gentes passavam a Primavera e o Verão.

Todavia, por estas paragens os invernos são muito rigorosos e desta forma, as populações praticavam uma migração em direção às inverneiras, localizadas em vales a altitudes mais baixas onde a estação invernal é mais suportável e aí permanecem até à Primavera.

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Um escritor, no século XIX, escreveu que o castrejo era como um lord inglês porque tinha duas casas, uma na branda outra na inverneira. Contudo, este modo de vida não acontece por luxo mas sim como uma adaptação às adversidades impostas pela austeridade do clima por aquelas bandas. Se quiser saber mais sobre o modo de vida destas terras, não deixe de visitar o Núcleo Museológico de Castro Laboreiro, situado na vila castreja.

Na volta, não se esqueça também de visitar Lamas de Mouro e a Porta Norte do Parque Nacional Peneda- Gerês, perto da nascente do rio Mouro. Pare no seu parque de merendas, no meio de um pequeno santuário natural inserido num cenário abençoado pela mão divina.
Nas terras altas de Melgaço, atreva-se a percorrer os seus bonitos trilhos de montanha.

Escolha um a seu gosto e adequando o grau de dificuldade à energia que tenha disponível. Se prefere outros desportos ou atividades, sempre tem os impressionantes rápidos do rio Laboreiro que lhe vão fazer saltar os níveis de adrenalina.

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Melgaço tem mais para oferecer. Não abale daqui sem visitar os conventos de Paderne e de Fiães. Faziam parte, juntamente com o extinto Mosteiro de S. Paio, do restrito conjunto de mosteiros mais antigos do norte da Península Ibérica cujas origens remontam a tempos anteriores à independência de Portugal.

Contudo, temos outras igrejas antiquíssimas no concelho tais como são os casos da igreja de S. João Baptista de Lamas de Mouro, de origem templária; a igreja de Santa Maria de Castro Laboreiro, de origem medieval; as igrejas de Santa Maria da Porta e da Misericórdia, de origem também medieval, ambas no centro histórico na vila sede de concelho.

Não nos podemos esquecer de referir ainda a capela de Nossa Senhora da Orada, mandada construír pelos monges de Fiães na Idade Média. Esta fica à face da estrada que liga a vila a São Gregório, aldeia raiana. Há cerca de 100 anos, um escritor foi dar um passeio a S. Gregório por esta estrada e ficou encantado classificando estas paisagens como as mais belas de todo o Portugal.

Aproveitando o passeio, visite também Cevide, ali perto, a aldeia mais setentrional deste nosso país, onde o rio Trancoso, abraça o rio Minho. Por estas fronteiras, muitos contrabandistas fizeram passar as suas mercadorias que variavam desde bens alimentares, o ouro, o volfrâmio, entre outros produtos. Por aqui, passaram inclusivamente judeus fugidos durante a 2ª Guerra Mundial. Enfim, locais com muita História e muitas estórias para contar.

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Cansado de passear por terras de Melgaço? Dê um salto ao Parque Termal do Peso, que dista cerca de 3 Km’s da vila sede de concelho. Descanse um pouco e depois caminhe demoradamente por este parque luxuriante em ambiente bucólico e respire a frescura destes ares enquanto aprecia toda esta beleza natural. Todo o património arquitetónico das termas, quase centenário, foi recentemente alvo de uma cuidada recuperação.

Durante boa parte do século XX, as termas de Melgaço conheceram tempos de muita prosperidade contando com a presença regular de muitas individualidades da alta sociedade portuguesa da época, inclusivamente presidentes de república. Depois veio a decadência. Os melgacenses anseiam por um futuro onde este bonito parque termal recupere a sua importância e que possa trazer a Melgaço muitos e muitos visitantes.

Tantas voltas por terras melgacenses devem ter-lhe aberto o apetite. Pode encontrar excelentes restaurantes em vários pontos de Melgaço: desde a vila sede de concelho a Penso, Peso, Branda da Aveleira ou Castro Laboreiro. Essencialmente, aí encontrará menus onde os produtos da terra são os reis da mesa.

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O segredo da cozinha de Melgaço são os ótimos ingredientes produzidos com o saber ancestral da tradição onde a qualidade é assegurada. Pode optar pelos sabores do rio, como a lampreia, ou os sabores do monte, onde o cabrito da serra, é presença frequentemente solicitada. Tudo acompanhado pelos vinhos excelentes produzidos  no concelho onde certamente o alvarinho é rei.

Como vê, há tanto por descobrir em Melgaço. Verá que no fim, à vontade de vir visitar-nos há-de juntar-se a vontade de voltar. Melgaço é assim, gera em nós um singular mix de sensações. Experimente Melgaço!

Texto de Valter Alves, do blog Melgaço, entre o Minho e a Serra.

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