João Abreu
João Abreu
10 Dez, 2018 - 00:00

Afinal, o que polui mais: carros elétricos vs gasolina?

João Abreu

A produção de baterias pode penalizar mais o meio ambiente do que os motores a combustão. Saiba o que polui mais, comparando carros elétricos vs gasolina.

Afinal, o que polui mais: carros elétricos vs gasolina?

Nunca uma boa oferta tem apenas atributos positivos e, apesar da mobilidade elétrica ser uma realidade presente na consciência dos fabricantes de automóveis, existe sempre uma batalha entre carros elétricos vs gasolina no que toca às questões da poluição. É coerente assumir que um modelo elétrico não representa nenhuma ameaça ao meio ambiente, quando circula nas estradas.

Porém, quando abordamos a questão da sua conceção – nomeadamente na produção das baterias de iões de lítio – existem outros fatores que podem “chumbar” toda a lógica sustentável, uma vez que a simples produção das baterias tem um impacto ambiental semelhante ao de conduzir um automóvel a gasolina durante vários anos.

Carros elétricos vs gasolina: quais os mais poluentes?

Previsões e preocupações ambientais

As presentes propostas de automóveis elétricos no mercado são um fenómeno cada vez mais mediático, em que as marcas lutam pela capacidade de autonomia das baterias, assim como os recursos que podemos ter em quando colocamos um modelo elétrico no nosso quotidiano, quer seja ao carregá-las em condução através da inércia e travagens do carro, quer através da tomada, em diversos postos de carregamento.

Em 2017, se retirarmos a totalidade de automóveis particulares vendidos no mundo, apenas 1% representa os modelos elétricos. Embora a luta entre carros elétricos vs gasolina possa continuar por alguns anos, esta realidade poderá mudar consideravelmente se a força política pisar com mais força na sua agenda o pedal de toda a lógica da mobilidade elétrica. Em média, as emissões de CO2 dos automóveis novos vendidos na Europa rondam os 111 g/km. No entanto, os novos regulamentos aprovados para os próximos anos exigem que em 2020 esses valores baixem para 95 g/km e, em 2030, a meta é reduzir mais de 30%.

Esta previsão vai acabar por obrigar os construtores de automóveis a enveredar por modelos híbridos, particularmente elétricos, uma vez que a tecnologia e os custos no desenvolvimento de motores a combustão não serão suficientes e praticáveis com a perspetiva de cumprir as normas de redução de CO2. Perante esta realidade, os motores a gasolina e a diesel serão gradualmente penalizados, sabendo ainda que as projeções anunciadas para 2050 é de que as vendas de automóveis elétricos estabeleçam um volume total de vendas de 50% no mercado.

A preocupação ambiental está também nos olhos da política, uma vez que que ter as cidades limpas de emissões poluentes traduz-se na redução dos gastos com a saúde pública. Se os níveis de CO2 agravam o efeito estufa, as emissões localizadas de óxidos de azoto e de monóxido de carbono provocam ou agravam problemas cardio-vasculares, respiratórios e podem culminar com um efeito cancerígeno. Esta consciência ambiental está permanentemente ligada com a saúde e qualidade da vida pública.

Produção de baterias e as emissões de CO2

carros elétricos

A alternativa da mobilidade elétrica parece ser o caminho mais sólido, quando se trata de reduzir drasticamente as emissões de poluição. Mas enquanto um carro com motor de combustão, emite a maior parte das sua emissões poluentes quando está a circular durante o seu período de vida, nos automóveis elétricos, essa fase acontece antes mesmo destes saírem dos concessionários, onde a conceção e produção de baterias assumem um impacto maior no nosso ecossistema.

Normalmente, as baterias são produzidas em países asiáticos como China, Coreia do Sul e Japão. Acaba por ser um método de produção bastante dispendioso que obriga a gastar muita energia elétrica. Estimativas de entidades independentes apontam alguns valores em que, por exemplo, na sua fabricação, cada KWh de capacidade de uma bateria corresponde à emissão de 150kg  a 200kg de CO2.

É necessário dizer que cada país é um caso e um critério fundamental é a origem da energia elétrica correspondente, em cada nação. Existem, portanto, factores de diferenciação pela forma como ela foi produzida, sendo que a produção de 1 KWh de energia elétrica pode variar em termos de custos e emissões. Em França, a produção de energia é 80% fornecida pelas centrais nucleares. Já na Noruega, as barragens são a principal fonte.

Assim sendo, com esta simples previsão, basta multiplicar estes mesmos valores pelo número de baterias disponíveis em cada modelo à venda no mercado e chegar à conclusão de que 40% de todas as emissões de CO2 de um automóvel elétrico são, essencialmente, produzidas no decorrer da fabricação das baterias. Outra previsão comparativa entre carros elétricos vs gasolina, especificamente no  segmento de utilitários, é de que são precisos 50.000 km para que o veículo elétrico atinja o balanço zero de emissões de CO2. A partir desse momento, serão precisos mais 100.000 km para que o modelo elétrico tenha emitido três vezes menos emissões CO2 do que um modelo que possua motor a gasolina.

Ciclos de vida e benefícios da mudança

Um relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA) documenta e salienta que a promoção das energias renováveis deve ser interpretado  como uma oportunidade de fazer a economia circular e, neste sentido, são apontados exemplos sobre a reutilização de materiais para a mudança do design dos carros, o desenvolvimento de veículos partilhados, entre outros, pretendendo maximizar os benefícios da mudança entre carros elétricos vs gasolina.

Este documento, denominado “Veículos elétricos, ciclo de vida e perspetivas de economia circular”, pretende analisar o impacto dos carros elétricos nas alterações climáticas, na qualidade do ar, ruído e preservação dos ecossistemas, fazendo uma análise comparativa com os modelos a combustão.

Uma vez comparadas as emissões de gases com efeito estufa em todo o ciclo de vida, o relatório enuncia que os veículos elétricos poluem menos 17% a 30% do que os modelos a gasolina ou gasóleo. De acordo com as novas políticas ambientais europeias aplicadas, as emissões do ciclo de vida de um veículo elétrico deverão ser 73% menores até o ano de 2050.

Os modelos elétricos são, naturalmente, melhores para a qualidade do ar, não produzindo emissões de escape, nem de poluição sonora. Em conclusão, a Agência demonstra-se confiante em apresentar um modelo que promova um sistema de economia circular que facilite a reutilização e a reciclagem de baterias, por forma a minimizar as questões ambientais neste segmento.

Sabe-se ainda que o volume atual de vendas de veículos elétricos em Portugal tem vindo a aumentar, sendo que por cada 100 carros vendidosmais de 5 são elétricos. Números expressivos que demarcam os novos ciclos de mudança na mentalidade dos nossos condutores.

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