Teresa Campos
Teresa Campos
07 Nov, 2018 - 13:01

Cataratas nos cães: saiba identificar este problema ocular no seu amigo

Teresa Campos

O tema cataratas nos cães é muito familiar a quem tem patudos em casa. Descubra, agora, quais as caraterísticas, causas e tratamentos desta doença ocular.

Cataratas nos cães: saiba identificar este problema ocular no seu amigo

Já todos ouvimos falar em cataratas nos cães, mas será que sabemos identificar este problema oftalmológico nos olhos dos nossos amigos de quatro patas? Talvez não…

Então, fique já a saber que, como em quase todas as doenças, um diagnóstico precoce é meio caminho andado para um tratamento mais eficaz e bem sucedido. Portanto, é fundamental aprender como as cataratas nos cães se manifestam e, caso ache que o seu amigo de 4 patas já sofre deste mal, então não deve mesmo adiar a sua ida ao veterinário. Como irá ficar a perceber, este problema tem solução, só tem de a procurar e o mais cedo possível.

Cataratas nos cães: causas, diagnóstico e tratamentos

cataratas nos cães

O que é?

Dentro de cada olho, por detrás da íris, existe uma estrutura transparente chamada lente ou cristalino. Esta lente tem como função focar a luz na retina – parte detrás do olho que converte os sinais de luz em sinais nervosos, que serão interpretados pelo cérebro.

As cataratas dizem respeito a opacidades nessa lente, as quais impedem a passagem de luz para a retina, causando progressivamente cegueira.

Assim como surgem nos seres humanos, elas podem ocorrer em animais, como é o caso dos cães ou dos gatos.

Causas

As principais causas das cataratas nos cães e gatos estão, normalmente, relacionadas com a genética, defeitos congénitos no olho, inflamação e degeneração do olho ou doenças metabólicas. Assim, há algumas patologias ou circunstâncias que podem potenciar e muito o surgimento de cataratas, tais como:

  • doenças hereditárias, transmitidas geneticamente;
  • diabetes melitus, causadora da alteração da estrutura da lente;
  • traumatismo ou luxação da lente;
  • idade/envelhecimento;
  • reação a químicos tóxicos, como naftaleno, dinitrofenol, dialdeídos;
  • inflamação do olho (uveíte);
  • má nutrição;
  • baixos níveis de cálcio (hipocalcemia), em casos de insuficiência renal ou hipoparatiroidismo;
  • radiação e choque eléctrico.

Origem hereditária

As situações de causa hereditária merecem uma especial atenção, visto que a grande maioria das cataratas tem uma origem hereditária, devido à transmissão de um gene autossómico recessivo e, em algumas raças, de um gene dominante.

Em cães, podem estar presentes no nascimento – cataratas congénitas – ou desenvolver-se em qualquer idade – cataratas adquiridas.

Existem inúmeras raças de cães particularmente afetadas por cataratas. As cataratas em cães de raças Poodle, American Cocker Spaniels e Schnauzers Miniaturas, por exemplo, é mais frequente. Porém, outras raças como os Golden Retrievers, Boston Terriers e Huskies Siberianos são também muito atingidas.

Diabetes melitus

A desregulação da glicemia, isto é, dos níveis de açúcar no sangue causada pela diabetes é outro motivo para o aparecimento de cataratas. O sorbitol e a frutose são açúcares que, em casos de diabetes, se podem acumular na lente do olho do animal. Estes componentes têm poder osmótico, ou seja, atraem líquidos para o interior da lente, provocando o seu inchaço e posterior lesão das fibras que constituem a lente, originando cataratas.

A progressão da catarata em animais diabéticos pode ser bastante rápida e, mesmo, irreversível. Nestas situações, pode ser necessária a cirurgia, para remoção da lente, estando o sucesso da operação dependente do controlo da glicemia e da presença ou não de outras doenças oftalmológicas (como doença retinal e uveíte).

Idealmente, o estado de integridade da retina deve ser avaliado antes da cirurgia, através de electroretinografia. Se a retina se revelar irresponsiva, a cirurgia pode ser desnecessária.

Caraterísticas

O primeiro diagnóstico de cataratas pode e deve ser feito pelos próprios donos. Uma deteção precoce do problema pode ser uma mais-valia por isso, se o(s) olho(s) do seu cão parece(m) esbranquiçado(s) no interior e ele denota perda de visão, deve estar atento à existência ou não de alguns dos seguintes sinais, reveladores de catarata:

  • opacidade no interior do olho/ na lente;
  • olho enublado;
  • outras patologias oculares: degeneração da retina, caraterizada por perda de visão noturna, e/ou uveíte;
  • perda de visão.

Se realmente suspeitar que o seu cão tem catarata(s), então deve levá-lo de imediato ao veterinário que irá classificar o estado e nível de progressão da catarata, de uma das seguintes formas, da menos para a mais grave:

  • Catarata Incipiente: menos de 15% de opacificações na lente e visão intacta;
  • Catarata Imatura: opacificação intermédia e perda de visão à noite;
  • Catarata Matura: opacidade envolve toda a lente, perda de visão;
  • Catarata Hipermatura: a lente começa a desfazer-se causando inflamação (uveíte) e glaucoma.
cataratas nos cães

Diagnóstico clínico

O processo de diagnóstico da catarata pelo veterinário é simples e envolve a observação do olho do cão diretamente e utilizando um oftalmoloscópio. A catarata não deve ser confundida com a esclerose nuclear da lente que ocorre, naturalmente, em cães idosos. (A esclerose nuclear gera, também, uma aparência branca no olho do animal, mas permite a visualização do fundo do olho e a manutenção da visão por parte do cão.)

Tratamento

Existem dois tipos principais de tratamento para a catarata nos cães: os tratamentos com colírios – que têm, ainda, uma taxa baixa de sucesso – e a cirurgia – opção com maior taxa de sucesso e em que é removida a lente opaca do olho do animal. Esta última opção pode requerer a hospitalização do cão.

Seja qual for a escolha, o mais importante é que, após o diagnóstico de catarata, o tratamento seja iniciado o mais depressa possível, para evitar a progressão da catarata.

Colírios

Algumas medicações utilizadas no tratamento da catarata incluem prednisolona – para controlo da inflamação – e a aplicação de colírios. Estes últimos pretendem reduzir a opacidade da lente, mas a sua eficácia ainda não está totalmente comprovada.

No caso das cataratas imaturas pode, ainda, ser utilizada atropina tópica, três vezes por semana.

Cirurgia

A cirurgia é para já o único tratamento definitivo e pode implicar a extração da lente, principalmente quando já se deu a luxação da lente. A cirurgia pode ser por facoemulsificação, através de vibrações com ultrassons que fragmentam e removem a lente. Este é o procedimento preferencial e com uma taxa de sucesso acima de 90%, dependendo da progressão da catarata e das alterações no olho. É, ainda, possível ser implantada uma lente que permita recuperar a visão ao perto.

Prognóstico

As cataratas requerem uma monitorização atenta dos pacientes, de modo a avaliar a sua progressão. Este acompanhamento é especialmente importante em casos hereditários, em que a catarata pode progredir rapidamente.

A progressão da catarata depende da idade, causa e localização da mesma na lente. Quando provocadas por diabetes, elas têm uma evolução rápida. No entanto, as cirurgias a cataratas provocadas por diabetes ou por causa hereditária têm um ótimo prognóstico. Já outras causas terão prognósticos variáveis, sendo que o sucesso depende da cirurgia precoce.

Cuidados no pós-operatório

Como após qualquer intervenção cirúrgica, é importante tomar alguns cuidados que garantam a rápida e boa recuperação do animal. Tome nota de algumas boas práticas:

  • colocar um colar próprio de pós-operatório/cone protetor ao cão;
  • administrar todos os tratamentos indicados, como antibióticos e anti-inflamatórios;
  • fomentar o repouso, não permitindo a atividade física, nem qualquer movimento que interfira na zona ocular;
  • não dar banho;
  • manter o cão afastado de outros animais que possam tocar-lhe na zona ocular;
  • não passeá-lo em zonas com muita areia ou pó;
  • realizar todos os exames pós-operatórios, aconselhados pelo especialista.

Para os donos de felinos, vale também a pena dizer que as caraterísticas das cataratas nos gatos não são assim muito diferentes das das cataratas nos cães. Portanto, se suspeita que o seu felino pode estar a ficar com a visão comprometida, então não hesite em levá-lo ao veterinário e tirar todas as suas dúvidas.

É importante que os donos de animais de estimação, não assumam as cataratas nos cães e nos gatos como um problema inevitável e irreversível, mas tentem sim agir com rapidez e prontidão, de modo a salvaguardar a visão do vosso animal, garantindo assim o seu bem-estar e qualidade de vida.

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