Marta Maia
Marta Maia
09 Fev, 2019 - 10:04

Educação financeira para crianças: o que ensinar aos seus filhos?

Marta Maia

Preparar os filhos para o futuro também passa por apostar um pouco na educação financeira para crianças e por pô-la em prática. Saiba o que deve abordar.

Educação financeira para crianças: o que ensinar aos seus filhos?

Como preparar os seus filhos para se tornarem adultos financeiramente responsáveis e capazes de gerir um orçamento de forma equilibrada? A resposta está na educação financeira para crianças: um conjunto de princípios e valores financeiros que devem, desde cedo, ser incutidos nos mais novos para que a poupança e a gestão financeira sejam um hábito natural e não apenas uma prática ocasional.

A educação financeira para crianças pode ser posta em prática desde muito cedo e nem precisa de envolver os conceitos financeiros puros – pode (e deve) ser adaptada à idade da criança e incutida de forma subtil, através de pequenos jogos e atividades informais.

Antes de avançar para a pesquisa de jogos e ideias, contudo, é boa prática começar por elaborar um plano, uma lista informal de temas essenciais que as crianças devem aprender desde cedo. Vamos ajudá-lo nesse processo.

Os temas essenciais da educação financeira para crianças

educação financeira para crianças

1. A consciência do esforço

O primeiro conceito que deve procurar ensinar aos seus filhos é o do esforço. Faz parte da educação financeira para crianças a noção de que o dinheiro não cai do céu nem nasce das árvores, mas antes é fruto do esforço de quem o tem.

No caso do ambiente familiar, é importante que as crianças entendam que o dinheiro de que dispõem resulta do esforço de trabalho dos pais e, por isso, deve ser valorizado. Faça-as entender, por exemplo, que os pais precisam de trabalhar várias horas, dias ou até semanas para que elas comprem determinado brinquedo: isso vai dar-lhes consciência de que, para cada recompensa, tem de haver um esforço prévio.

Em idades mais tenras, é difícil explicar este conceito às crianças. Pode, no entanto, simplificar o conceito e fazê-las esperar mais por coisas de maior valor – elas vão entender que brinquedos mais caros exigem mais tempo de espera do que brinquedos baratos, o que já é o início da consciência que se procura.

Em idades mais avançadas, pode mesmo abrir o jogo e dizer às crianças que “para comprar isto, o pai e a mãe tiveram de trabalhar x horas”. Se ajudar, exagere nos números, para que elas vejam a diferença de esforços.

2. O conceito de escolha

É igualmente importante que inclua na educação financeira para crianças o conceito de escolha, ou seja, a noção de que, para terem algo, estão a abdicar de outra coisa.

As crianças devem entender que o dinheiro é finito e não chega para tudo, pelo que, sempre que escolhem comprar uma coisa, estão a abdicar de ter outra. Aqui é mesmo importante que elas tomem contacto com a escolha em si – mesmo que em causa estejam opções pequenas ou quase sem importância.

Em qualquer idade, pode transmitir o conceito de escolha às crianças fazendo-as optar entre um brinquedo e outro. Se elas já tiverem consciência do dinheiro, estabeleça um orçamento-limite para comprar brinquedos (onde, obviamente, não caiba tudo) e mostre-lhes que vão ter de fazer escolhas, porque o dinheiro não chega para tudo.

3. A construção da poupança

Este é um dos princípios mais importantes a incluir na educação financeira para crianças, não só porque as educa para a construção de um orçamento familiar saudável, mas também porque é algo que elas podem por em prática desde já.

A ideia aqui é que os mais pequeninos entendam que a poupança é um investimento no futuro e que, quanto mais pouparem, mais dinheiro vão ter.

Apesar de o clássico porquinho-mealheiro ser uma boa estratégia – porque as crianças habituam-se a guardar dinheiro em vez de o gastar -, a verdade é que esta técnica é frágil num ponto: não dá aos pequenos poupadores a sensação de que o dinheiro se multiplica, o que é uma recompensa muito útil quando o tema é educação financeira para crianças.

Assim, a nossa sugestão é que vá oferecendo uma mistura de objetivos e escolhas aos seus filhos: estabeleçam juntos algo que eles queiram muito comprar; depois, quando atingem o valor necessário, ofereça-lhes a escolha: ou compram o que queriam, ou guardam o dinheiro e juntam mais algum para comprar outra coisa melhor, já que estão pertinho de conseguir o orçamento necessário para ela.

O objetivo é que, degrau a degrau, as crianças entendam que a poupança cresce e que, quanto mais guardarem, melhores coisas podem comprar. Correndo bem, o jogo vai entusiasmá-las e fazê-las querer muito poupar cada vez mais.

4. A gestão dos gastos

Também faz parte da educação financeira para crianças a criação de hábitos de consumo saudáveis e conscientes, que mostrem às crianças que as pequenas tarefas do dia a dia podem fazer uma grande diferença no orçamento.

Fazer entender aos mais novos a importância de olhar várias vezes para a etiqueta antes de comprar e, sobretudo, de comprar só quando têm a certeza de que o dinheiro não será preciso mais tarde para outras coisas mais importantes não é fácil, mas é possível se os adultos participarem.

Leve as crianças consigo quando vai às compras – mesmo ao supermercado – e fale-lhes dos preços e das diferenças dos preços. Até pode fazer um jogo: para cada produto, desafie-as a encontrar a versão mais barata e, num papel, registar o preço do mesmo produto na versão mais cara.

Além de mantê-los muito entretidos o tempo todo, vai dar-lhes duas lições numa só: a primeira é a noção de quanto cada produto custa; e a segunda é a consciência, perante a comparação da soma real com a soma dos preços mais altos, de que escolhas inteligentes fazem diferenças enormes.

Numa fase mais avançada, como a adolescência, pode ainda começar a oferecer mesada aos seus filhos e deixá-los gerir o dinheiro ao longo do mês. Aqui é importante seguir religiosamente duas regras essenciais: primeiro, o valor da mesada não é flexível e não pode haver valores extra (para que não se habituem a que alguém resolva sempre os erros de má gestão que cometem).

O segundo é que não pode repreendê-los ou querer controlar a gestão que fazem. Se vão fazer más escolhas? Vão certamente, sobretudo no início. Mas é com elas que vão aprender, por isso dê-lhes espaço para errar – mais vale errar em adolescente, com a mesada, do que em adulto, com o salário!

Apostar na educação financeira para crianças é uma das tarefas mais importantes dos pais. As crianças não nascem com a capacidade de entender o mercado nem o funcionamento do dinheiro e da economia, por isso dependem dos adultos para aprenderem os conceitos mais básicos.

Cuide dos seus filhos dando-lhes as ferramentas necessárias para que se tornem adultos responsáveis, equilibrados e financeiramente estáveis: eles vão, com toda a certeza, agradecer-lhe mais tarde.

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