Viviane Soares
Viviane Soares
22 Abr, 2017 - 08:00

Mitos sobre o leite humano e o aleitamento materno

Viviane Soares

Há vários mitos sobre o aleitamento materno. Com a ajuda de especialistas, desvendamos 10 destes mitos e reunimos informação sobre o leite humano.

Mitos sobre o leite humano e o aleitamento materno

São muitos os mitos sobre o leite humano e o aleitamento materno e as contribuições científicas, resultantes da investigação em torno deste assunto, são cada vez mais decisivas para esclarecer a opinião pública e para distinguir, com rigor, aquelas que são as verdades e as mentiras sobre o aleitamento materno. 

A este propósito, os investigadores que participaram no XII Simpósio Internacional de Aleitamento Materno – que teve lugar no dia 8 de abril, em Florença (Itália) –, responderam a muitas das dúvidas que mães, pais e profissionais de saúde têm neste campo.

O evento, que reuniu cerca de 400 profissionais de todo o mundo, deu a conhecer ao mundo, precisamente, as novas contribuições científicas relacionadas com os benefícios do leite humano e o aleitamento materno.

Mitos sobre o leite humano e o aleitamento materno

Conheça as verdades e mentiras sobre o leite humano e aleitamento materno, segundo especialistas na área.

1. Cerca de 80% dos bebés em todo o mundo são alimentados exclusivamente com leite humano durante os primeiros seis meses de vida.

FALSO. Apesar das sucessivas recomendações de instituições e especialistas sobre os benefícios do leite humano, menos de 40% dos bebés no mundo são alimentados exclusivamente com leite humano.

2. Impedir aos pais o acesso à sala de prematuros traduz-se em menores taxas de aleitamento materno e menor desenvolvimento do bebé.

CERTO. Incorporar o contacto e cuidado dos pais no programa neonatal ensina-lhes como cuidar melhor dos seus bebés prematuros. É importante que os pais participem, desde o nascimento, de forma plena no cuidado do bebé prematuro.

3. O leite humano pasteurizado com o método Holder conserva todas as suas propriedades bioativas.

FALSO. Caso o leite humano seja administrado ao bebé nas 24 horas seguintes à extração, não requere um tratamento térmico prévio, nem que se realize um cultivo de rotina. No caso dos bancos de leite materno, o leite humano é submetido a um processo de pasteurização (aquecer o leite a 62,5°C, durante 30 minutos), mediante o método conhecido como Holder, que garante a segurança microbiológica mas que destrói numerosas propriedades nutricionais e bioativas do leite humano.

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4. O leite humano é apenas uma fonte de nutrição para a criança em crescimento. A fórmula infantil substitui-o facilmente.

FALSO. O leite humano proporciona benefícios para a saúde do bebé a longo prazo, como menos obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. O leite materno tem proteínas fundamentais para o desenvolvimento do bebé. Estes benefícios não são fornecidos pelo leite de fórmula.

Além disso, investigações recentes das crianças pré-termo alimentadas predominantemente com leite humano mostram um melhor crescimento do cérebro, maior coeficiente intelectual, memória, rendimento académico e função motora aos sete anos de idade.

5. O leite materno é igual em todos os mamíferos. O leite humano e o leite de vaca têm aproximadamente o mesmo número de açúcares.

FALSO. A composição do leite materno raras vezes é a mesma para as distintas espécies, pelo que uma variação substancial entre os indivíduos parece influenciar a sobrevivência e bem-estar infantil.

No leite de vaca, até ao momento, os científicos identificaram aproximadamente 40 oligossacáridos (açúcares), ao passo que o leite humano tem mais de 200. Estes oligossacáridos servem como pré-bióticos, estimulando a digestão infantil, destruindo bactérias intestinais nocivas e ativando o sistema imunológico do bebé.

6. Os recém-nascidos prematuros carecem de uma estrutura craniofacial desenvolvida que lhes permita pegar no peito.

FALSO. Um bebé prematuro que desenvolva gradualmente a força do vácuo e a coordenação de chupar-engolir-respirar para amamentar pode ajudar a sua estrutura craniofacial a desenvolver-se ao longo de uma trajetória mais normal e saudável. Além disso, a má oclusão reduz-se em cerca de 68% nos bebés que tenham sido amamentados.

7. Fomentar o contacto pele com pele entre as mães e os recém-nascidos reduz a morte súbita dos recém-nascidos nas primeiras horas e dias depois do parto.

CERTO. O contacto pele com pele imediatamente depois do parto favorece a adaptação metabólica cardiorrespiratória e térmica, além de propiciar a colonização da pele do trato gastrointestinal do recém-nascido com microorganismos não patogénicos da mãe.

8. O aleitamento materno pode prevenir a morte por cancro.

CERTO. O leite humano está associado a reduções dramáticas no risco de cancro de mama para as mães que amamentam. Isto dá-se devido às características de HAMLET, um complexo anti tumoral que induz a apoptose (morte celular programada) em células tumorais, sem afetar as células saudáveis.

A nível mundial, morrem quase 100.000 crianças menores de 15 anos a cada ano. Cerca de 40% desses cancros são leucemia ou linfoma e o aleitamento materno pode reduzir em 64% o risco desses cancros infantis.

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9. Para um bebé nascido pré-termo o leite humano, seja doado ou materno, é a melhor opção.

FALSO. Os bebés prematuros evoluem de forma mais satisfatória se ingerem leite da própria mãe fortificada. Se esta opção não é possível, o leite doado e o leite de fórmula são, por esta ordem, as melhores alternativas.

10. O aleitamento materno facilita a poupança de custos para os Serviços Nacionais de Saúde.

CERTO. Embora apenas 10% da população neonatal anual nasça prematura, a nível mundial, o tratamento hospitalar dos neonatos prematuros representa cerca de 50% de todos os custos de atenção da saúde do recém-nascido.

Segundo o relatório Euro-Peristat, Portugal é um dos países da Europa com maior taxa de bebés prematuros, na proporção de um a cada 13 nascimentos, pelo que nascem anualmente cerca de 7.736 crianças prematuras. A poupança de custos estimada para Portugal, tendo por base as conclusões do estudo, ascenderia a 8,04 milhões de euros anuais.

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