Mónica Carvalho
Mónica Carvalho
14 Set, 2020 - 16:50

Repor energias no Mosteiro de Singeverga. (Só para eles)

Mónica Carvalho

Longe de todas as férias que provavelmente já imaginou, o Mosteiro de Singeverga, em Santo Tirso, abre portas ao retiro e à reflexão. Mas é só para homens.

Porta do mosteiro de Singeverga

“Que todos os hóspedes que se apresentam no mosteiro sejam recebidos como se fosse o próprio Cristo, pois Ele dirá um dia: «Fui hóspede e recebestes-me». E dispense-se a todos a devida honra, principalmente aos irmãos na fé e aos peregrinos! – este princípio indicação faz parte da Regra de São Bento do Mosteiro de Singeverga, para a receção dos hóspedes.

Uma excelente indicação do ambiente que encontra neste espaço de reflexão, em Santo Tirso, que acolhe todos aqueles que desejem passar uns dias em clima de silêncio e oração, onde possam repor energias espirituais e físicas.

Todavia, dado tratar-se de uma hospedaria dentro de um mosteiro, apenas os homens poderão usufruir deste cenário, assim como utilizar o claustro e igreja e passear pela quinta e jardins.

Assim, cada hóspede poderá participar na oração litúrgica diária, bem como a tomar as refeições em conjunto com a comunidade.

O Mosteiro de São Bento de Singeverga destaca-se pela curiosa planta arquitetónica e da qual apenas foi construída 1/3 do que seria o projeto inicial. Data de 1892 e é um espaço verdadeiramente privilegiado, onde “poderá encontrar-se local de mais desafogados horizontes; mas não será fácil encontrá-lo dotado de tantos mimos e encantos naturais. No centro dum semi anfiteatro montanhoso (…), a natureza enrugou um combro enxuto.” – palavras de Gabriel de Sousa, o segundo abade do mosteiro, no livro Mosteiro de Singeverga – Cem Anos 1892-1992.

Hospedaria de Singeverga: local de tranquilidade

Não pense que o espaço da hospedaria do mosteiro é um local de luxo, como os mais requintados hotéis. Não é esse o propósito. Antes é um lugar modesto e sóbrio, com 15 quartos, cada um equipado com uma cama individual, mesa e cadeira, um pequeno armário de roupa e um aparelho de aquecimento. As casas de banho localizam-se no corredor e são de acesso comum.

É por lá que se encontram pessoas de todos os lados, de todas as camadas sociais, de diferentes profissões, de todas as faixas etárias e credos. Sim, não é perguntado à porta qual a religião que professa, ou a falta dela, estando de portas abertas para todos.

Há, todavia, um senão: o tempo de estadia não pode ultrapassar os oito dias.

Quanto ao pagamento, a hospedaria não estabelece preços de estadia, pelo que o pagamento é feito através de donativos.

A obra de Tintoretto

Altar no Mosteiro de Singeverga

Uma estadia no Mosteiro de Singeverga pode ser aproveitada para admirar uma obra de arte que não se vê todos os dias. Um monumental quadro denominado “Adoração dos Reis Magos”, atribuída ao pintor veneziano Tintoretto, foi doado à comunidade em 2003.

Trata-se de uma pintura a óleo de grandes dimensões (5,25m de comprimento por 2,25m de altura), que já foi analisada por técnicos com o objetivo de avaliar a sua classificação perceber se será mesmo de Tintoretto ou de alguém da sua escola.

Antes de ser doada ao Mosteiro, a pintura pertenceu à família do empresário e financeiro Jaime Pinho, católico fervoroso e cavaleiro da Ordem do Santo Sepulcro. Ainda era vivo quando manifestou a sua vontade em entregar a obra aos monges beneditinos.

Há ainda outra hipótese em cima de mesa: que esta tela corresponda a uma “Adoração dos Reis Magos” pintada por Tintoretto para uma igreja de Veneza, que já não existe e que, entretanto, foi dada como desaparecida.

Tintoretto é o nome popular de Jacopo Robusti, um pintor italiano nascido em Veneza em 1518, tendo falecido em 1594.”

No Mosteiro de Singeverga também se faz licor

Para lá da arte e da oração, em Singeverga também se trabalha, e bem. Além da quinta que rodeia o espaço, e de onde saem muitos dos alimentos utilizados na cozinha, há um produto cuja fama já ultrapassou fronteiras. Trata-se do licor que ostenta o mesmo nome do mosteiro e que se pode encontrar em quase todas as garrafeiras.

A famosa bebida é preparada em exclusivo pelos monges beneditinos, a partir de escolha criteriosa de plantas aromáticas e balsâmicas que a compõem, num total de 27.

É o único licor monástico existente em Portugal e o seu aparecimento remonta à época da Revolução Francesa. Nas imediações do mosteiro, cultivava-se a matéria-prima para criar a bebida, recorrendo a processos rudimentares de destilação, através dos quais se extraia a essência que era, depois, submetida a técnicas secretas de envelhecimento.

Atualmente, os meios são bem mais sofisticados, mas todo o processo continua em segredo. Afinal, só assim é possível manter-se uma bebida tão genuína e incomparável.

Garrafa de licor de Singeverga

Conhecer Santo Tirso

Depois de energias no Mosteiro de Singeverga, pode sempre aproveitar para conhecer um pouco do concelho de Santo Tirso. Para continuar na sendo dos monumentos religiosos, visite o Mosteiro de S. Bento, implantado na margem esquerda do rio Ave. Remonta ao longínquo ano de  978, sendo que a atual igreja matriz foi construída em 1659 – 79.

Ali ao lado, tem o Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso, um espaço gizado pelos arquiteto Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura. O museu  é hoje uma referência no panorama artístico internacional.

Assim que chegar a hora do lanche, é fundamental uma visita à Confeitaria Moura, casa dos famosos jesuítas de Santo Tirso. Bem no centro da cidade, delicie-se com o saboroso crocante de jesuítas e limonetes. Será o remate perfeito para uma semana que se pretende ideal para carregar as baterias ao máximo.

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