Ekonomista
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19 Set, 2022 - 14:39

Cruzeta ou cabide? Ténis ou sapatilhas? Mais um Porto-Lisboa

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A distância entre Porto-Lisboa ronda os 300 quilómetros. Mas qual será a distância linguística entre as duas cidades? É só os v pelos b?

Porto-Lisboa

Nestas temáticas Porto-Lisboa, o leitor pode alapar algures e ler este texto em vez de laurear a pevide. Pode fazê-lo enquanto bebe uma imperial e come um bitoque, por exemplo. Pode ainda pensar com os cordões das sapatilhas que ténis é apenas um desporto. E podíamos ir por aqui fora.

Quando falamos nesta disputa entre as duas maiores cidades do país, podíamos estar a referirmo-nos a uma corrida, a um itinerário de fim-de-semana, mas na verdade estamos a falar de palavras ou expressões que, apesar de se referirem à mesma coisa ou objeto, assumem designações diferentes nas duas cidades.

Claro que se for do Porto e for até Lisboa, ou vice-versa, certamente irá conseguir comunicar sem dificuldade, mas rapidamente irá aperceber-se de que há termos que não são tão habituais nessa cidade e que são usadas outras palavras no lugar dessas expressões mais regionais. Preparado para conhecer algumas destas particularidades regionais Porto-Lisboa?

Cruzeta e ténis: mais um Porto-Lisboa

1

Sertã – Frigideira

Se em Lisboa falar em “sertã”, o mais certo é que pensem que se refere à vila situada no distrito de Castelo Branco. A verdade é que este é o termo usado a Norte quando nos referimos a uma frigideira. Entre tachos e panelas, haverá sempre um testo que fica de fora.

2

Aloquete – Cadeado

Ambos os termos correspondem a uma espécie de fecho, utilizado em cacifos, malas de viagem e, até, nos diários da infância (será que os mais novos sabem do que falamos?). Também não é um termo pacífico, mas se um portuense diz orgulhoso que precisa de um aloquete, o lisboeta estica-lhe um cadeado, essa é que é essa.

3

Repa – Franja

Quem for cortar o cabelo no Porto e quiser fazer uma franja, talvez deva usar a palavra “repa”, para que melhor percebam o que pretende. A franjinha lisboeta, celebrizada pela eterna Beatriz Costa, começa a mudar de nome enquanto viaja para Norte, transformando-se numa imponente repa.

4

Pinchar – Pular

Ambas as palavras são sinónimo de uma outra, bem conhecida e usada de Norte a Sul do país: saltar. Porém, se preferir usar o regionalismo, deve falar “pinchar” no Porto e “pular” em Lisboa.

5

Sapatilhas – Ténis

Também no que toca ao calçado há diferenças significativas no glossário nortenho e sulista. Este é um daqueles desafios Porto-Lisboa que gera muitas vezes divertidas discussões. Quem vai a uma loja a Norte deve pedir umas sapatilhas, a Sul o termo mais corrente é ténis. E não, não se refere ao desporto.

Terreiro do Paço
O Terreiro do Paço, símbolo maior da importância de Lisboa no país
6

Carteira – Mala

Embora ambos os termos se usem em ambas as cidades portuguesas, é mais comum ouvir-se dizer carteira, no Porto – referindo ao saco onde se transportam os objetos diários – e mala, em Lisboa.

7

Tacões – Saltos

Regressando ao universo do calçado, há mais diferenças entre Porto e Lisboa que podemos apontar. Se decidir comprar uns sapatos ou botas que não sejam rasos, então deverá ter em atenção o comprimentos dos tacões (no Porto) ou dos saltos (em Lisboa).

8

Sostra – Preguiçoso

De Norte a Sul, sem exceção, todos sabem o que significa preguiçoso. Mas, provavelmente, só os naturais de terras próximas do Porto é que saberão o significado da palavra “sostra”. Com efeito, a Norte, dizer que alguém é sostra é, no fundo, o mesmo que dizer que se trata de uma pessoa preguiçosa, sem grande atividade, que só gosta de dormir e de não fazer nada.

9

Estrugido – Refogado

Pois talvez seja esta uma das duplas onde as diferenças são mais evidentes e onde, realmente, a primeira palavra é muito mais comum no Porto, enquanto a outra é bastante mais utilizada em Lisboa. Estrugido ou refogado, conforme preferir, refere-se ao preparado que inicia quase todas as receitas salgadas e que consiste em saltear cebola e alho em azeite.

10

Cruzeta – Cabide

Ambas as palavras designam o objeto que serve de suporte e no qual se pendura a roupa, nomeadamente as calças e as camisas. Porém, se a norte falar em cabide, é bem provável que pensem que se está a referir a uma estrutura de pé ou de parede, capaz de receber casacos ou outros acessórios.

Mais diferenças Porto-Lisboa

  • breca – câimbra
  • pingo – garoto
  • picheleiro – canalizador
  • chicla – pastilha
  • fino – imperial
  • espinha – borbulha
  • calcar – pisar
  • morcão – estúpido
  • azeiteiro – bimbo
  • briol – frio
  • testo – tampa da panela
  • alapar – sentar
  • aguça – afia
  • molete – carcaça

E é assim. Apesar de todos falarmos a mesma língua, há idiossincrasias muito próprias que acabam por revelar alguns regionalismo. Mas no fim, toda a gente se entende e isso é que é mais importante.

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