Luana Freire
Luana Freire
11 Fev, 2023 - 00:00

No Dia Mundial do Doente conheça a medicina sem pressa

Luana Freire

Menos medicamentos e exames, e mais conversa: esta é a filosofia do movimento Slow Medicine, que está a conquistar o mundo.

Uma ida ao médico pressupõe uma rotina conhecida: chegar ao consultório, responder a perguntas da praxe, fazer queixa de eventuais incómodos e ir embora com a prescrição de medicamentos ou de exames – certo? Mas esta prática, que já é uma velha conhecida, tem sido alvo das críticas de inúmeros médicos em todo o mundo. A proposta que eles fazem é apenas uma: mudar a forma de tratar os doentes – e para isso, uma nova filosofia, a slow medicine, a medicina sem pressa, assenta no princípio básico de alterar a maneira como pacientes e profissionais se relacionam e se veem.

Já ouviu falar? Em bom português, a “medicina sem pressa” surge para contestar o modelo padrão de tratamentos da medicina moderna. Como? Propõe enterrar no passado a ideia pré-concebida de que os profissionais de saúde têm da medicina moderna. O movimento atual quer menos medicamentos e exames e mais conversas no consultório.

Mas afinal, o que é Slow Medicine?

Este movimento é a versão de uma filosofia que teve início na gastronomia italiana, em 1986, e que ficou conhecida como Slow Food – ou, em português, comer sem pressa. A ideologia ganhou o mundo a partir de 2004, com a publicação do livro “In Praise of Slowness: Challenging the Cult of Speed”, do jornalista britânico Carl Honoré.

O movimento nascido na Itália tem sido levado para os mais diversos campos sociais e esta rede de ideias tem um denominador comum: pedir calma a uma sociedade envolvida na pressa do dia a dia e no stress quotidiano. A versão médica do movimento Slow, chamada em português de Medicina Sem Pressa, nasceu em 2002, quando o termo foi utilizado pela primeira vez pelo médico cardiologista italiano Alberto Dolara.

Na altura, Dolara publicou um artigo em que afirmou que o Slow Medicine poderia ser uma forma de contrariar o “constante impulso de aceleração na sociedade moderna”, fazendo uso de recursos humanos para tratar os pacientes. O médico queria abrandar o ritmo das pessoas e acreditou que o movimento, se adotado por médicos, pudesse ajudar.

Como funciona o movimento Slow Medicine?

Para a  Medicina Sem Pressa, as consultas devem levar mais tempo – sendo este um dos principais pilares da filosofia médica.  A ideia central é fazer com que os profissionais de saúde aprendam a ver os doentes como pessoas completas, e não apenas como hóspedes de doenças. No entanto, há ainda mais aspetos envolvidos na questão. Entre eles estão o compartilhamento das decisões, a ênfase na saúde (e não na doença) e a prevenção como terapia.

Tratamento de doente

Menos remédios e mais conversa

O movimento Slow Medicine está atento às necessidades únicas e individuais de cada paciente e quer priorizar o diagnóstico clínico, em detrimento do diagnóstico concebido através de exames. A prevenção também é umas das palavras-chave desta filosofia, que aposta nos cuidados para manter a saúde e afasta a prescrição massiva de medicamentos.

O movimento não fecha os olhos para o valor dos fármacos e entende eles são essenciais para combater doenças que antes eram fatais. No entanto, a filosofia “Slow” acredita que existe um exagero na prescrição, que resulta no uso abusivo e excessivo de medicamentos. O mesmo acontece com a prescrição desenfreada de exames.

Slow Medicine: médicos contra o marketing da saúde

A  Medicina Sem Pressa também quer acabar com as mediáticas campanhas de conscientização do cancro, como o Outubro Rosa, que alerta para a prevenção do cancro da mama, e o Novembro Azul, que promove a importância do diagnóstico prematuro do cancro da próstata. Para o movimento Slow Medicine, estas campanhas são meras ações de marketing e provocam o aumento massivo do número de procedimentos invasivos – e desnecessários.

Entre as inúmeras críticas a este tipo de iniciativas, os médicos que seguem a filosofia da Medicina Sem Pressa apontam o alto custo gerado com o excesso de exames e o stress provocado nos pacientes que, muitas vezes, têm que esperar por até uma semana pelos resultados.

Importante será frisar que a Medicina Sem Pressa não quer acabar com os exames de rotina, pois acredita que a prevenção é a maior chave para uma boa saúde. A ideia principal do movimento Slow Medicine é, na verdade, humanizar o atendimento e os tratamentos, ensinando profissionais a observarem os seus pacientes como seres únicos e com necessidades específicas.

A grande questão que fica é: teremos a paciência necessária para efetivar esta prática no nosso dia a dia? Diante da pressa que atinge todas as esferas da sociedade moderna, será o movimento Slow Medicine aceite pela população?

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