Catarina Reis
Catarina Reis
01 Out, 2018 - 13:25

Será mesmo possível conciliar trabalho e filhos?

Catarina Reis

Muitos casais atrasam a constituição de família em prol do investimento na carreira. Seria mais fácil conciliar trabalho e filhos, mas como?

Será mesmo possível conciliar trabalho e filhos?

Trabalho e filhos parecem, a muitas pessoas, dois projetos de vida incompatíveis. Os horários extensos, as necessidades/oportunidades de deslocação a outros países, o desejo de conquistar maior responsabilidade no contexto profissional – entre outras motivações associadas ao investimento pleno no trabalho – contrastam, inúmeras vezes, com o desejo de ser um pai ou uma mãe disponível, presente a  tempo inteiro na educação e no crescimento dos filhos como pessoas.

É desejável, mas será possível conciliar trabalho e filhos?

Assim, se há casais que adiam a parentalidade, também os há que desinvestem nas suas carreiras para se dedicar a 100% à família.

As duas opções de vida são válidas e tão louváveis como quaisquer outras. Só que todos ambicionaríamos que não fosse necessário prescindir de nada, conciliando verdadeiramente as diferentes áreas da vida.

trabalho e filhos

Trabalho e filhos: duas realidades irreconciliáveis?

Lembremo-nos de que não estamos apenas a educar os nossos filhos, mas sim, os seres humanos adultos de amanhã. Como crianças, adolescentes e adultos, eles deverão ambicionar educar-se, antes de mais, e depois, desenvolver-se profissionalmente, atingir o seu máximo potencial.

E para que o ambicionem, é importante que possam ver os pais como modelos de crescimento, auto-educação, investimento na carreira, desenvolvimento intelectual e emocional ao serviço do bem comum – como pais que gostam de trabalhar e de se desenvolver.

Os próprios pais poderão desejar transmitir aos filhos o valor do trabalho – seja realizado ao serviço de uma empresa, ou ao serviço da empresa mais complexa do mundo: a família.

Assim, seja qual for a escolha – conciliar, adiar a parentalidade ou adiar a carreira – o foco nunca deve deixar de estar no seu desenvolvimento e crescimento pessoais. Tal como a criatividade, o ímpeto de crescer parece ser contagioso. Explicamos de seguida.

O desafio da liderança

Em casa ou no trabalho, ser líder implica, antes de mais, desenvolvimento individual. Isto significa que, antes de poder atender às necessidades de crescimento dos outros, tem que investir em si e nas suas.

O contexto profissional é rico em oportunidades de desenvolvimento, pois é rico em desafios e obstáculos. O contexto familiar também. Podemos dizer que num mundo ideal, um alimenta o outro de novas ideias, competências, relações. E podemos também afirmar que quando investimos em nós como indivíduos, mais facilmente os filhos se deixam contagiar pela vontade de crescer e desenvolver-se.

Trabalhar é e pode ser muito mais do que exercer uma profissão: é toda a atividade que conduz a um resultado com significado e utilidade.

Riscos psicossociais no trabalho conduzem a riscos psicossociais em casa

É amplamente documentada a transposição dos problemas domésticos para o trabalho; não tão falada é a transposição dos problemas profissionais para o contexto familiar. Mas, estudos demonstram que as más relações em contexto laboral têm como principais “vítimas” os filhos. Leu bem: os atritos relacionais em contexto de trabalho provocam nos pais um baixo sentimento de competência parental, que se traduz em comportamentos parentais e educacionais mais rígidos, controladores e autoritários.

Um estilo parental mais autoritário, por sua vez, promove o desenvolvimento, por parte das crianças, de comportamentos agressivos fora do contexto familiar, a associação entre amor, sucesso e obediência, pobre desenvolvimento das competências sociais e relacionais e consequentes problemas de autocontrolo, depressão e ansiedade.

O que fazer para conciliar trabalho e filhos?

Tendo em conta os resultados apontados, a primeira medida de conciliação entre trabalho e filhos seria encontrar um ambiente profissional saudável, onde as relações sejam cultivadas positivamente. Mas existem outras estratégias, que pode implementar a partir deste momento, e que dependem mais da sua ação do que de fatores externos.

conciliar trabalho e família

Tempo de qualidade

Invista na qualidade e profundidade dos momentos passados em família: desligue o telemóvel, abstraia-se do email e da televisão quando estiver com os seus filhos. Faça com que o tempo que lhes dedica seja significativo, mesmo que não seja muito. Um dos erros mais comuns dos pais atarefados é desperdiçarem o tempo que têm disponível. Faça questão de tornar memoráveis os momentos em família: brinque mais, faça perguntas, partilhe experiências – a sua experiência de vida. De que lhe serve dispor de muito tempo se apenas o gastar com conversas superficiais? Permita que os seus filhos o conheçam.

Concentração em casa

De igual modo, a organização e limpeza da casa nunca estão 100% concluídas. Ter a casa limpa e arrumada exige investimento contínuo, diário. Tome consciência deste facto e não se exija ter a casa perfeita. Há tarefas que podem esperar – ou ser partilhadas por todos, pais e filhos.

Crie rotinas para os momentos de lazer

Discuta com os seus filhos qual o programa que querem para as sextas-feiras à noite. Se todas as sextas houver uma noite de cinema em casa – com escolha partilhada dos filmes a ver – verá que esta “rotina” agradável funcionará como uma recompensa. Verá também que todos começarão a fazer deste momento uma prioridade.

Partilhe com os seus filhos as suas vivências profissionais

Não estamos a sugerir que detalhe como correram as reuniões da semana. Uma vez mais, a nossa proposta é que vá para além do trivial e das banalidades e converse sobre os seus sentimentos, preocupações, dilemas, alegrias e relações em contexto de trabalho. Envolva-os e verá que, por muito novos que sejam, têm opinião – válida – sobre estes assuntos. Esconder a realidade dos filhos por se acreditar que não têm maturidade suficiente para conversar sobre o assunto bloqueia excelentes oportunidades para se conhecerem mutuamente e para desenvolverem a sua inteligência emocional.

Não se esqueça de si

Não é apenas mãe/pai e profissional. É também filho/a, irmão/irmã, amigo/a, esposo/esposa; e pode ser mais: aluno/a (se investir num curso ou formação), músico/a (se decidir dedicar-se ao estudo da Música), voluntário/a, desportista… Reserve tempo para as atividades que são apenas suas. Tal como dissemos antes, sentir-se realizado e completo como pessoa é fonte de tremenda inspiração para os seus filhos.

Reveja o orçamento familiar

Procure as áreas em que tem maiores gastos e procure reduzir alguns deles, de forma a poder planear a negociação de uma redução de horário com a sua entidade patronal, ou de forma a contratar serviços de limpeza doméstica, entre outras soluções que possam facilitar a gestão do seu tempo.

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