Diogo Campos
Diogo Campos
06 Abr, 2017 - 07:29

Um mês a cozinhar num hostel em Bariloche

Diogo Campos

Viver no hostel tanto tempo fez-me estar num registo de viagem totalmente diferente do que tinha feito até agora. Tinha comida, cama, banho quente e podia relaxar.

Um mês a cozinhar num hostel em Bariloche

Bariloche é uma cidade que fica rodeada pela natureza, sejam florestas com árvores milenares, lagos, montanhas com vários picos acima dos dois mil metros e miradouros com vistas de 360°.

Nunca vi uma cultura tão grande de andar à boleia para sair ou entrar na cidade. Há sempre alguém com o braço esticado e eu não era diferente, normalmente esperava 10/15 min e já estava dentro de um carro.

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Por vezes já tinha um destino definido quando queria ir a alguma montanha ou uma praia num lago, outras vezes apenas entrava no carro e ia até onde me deixassem, sempre havia uma praia ou uma floresta, para descobrir e onde poderia estar totalmente conectado com a natureza. Apenas tinha que estar às 17h no hostel para preparar o jantar.

Sempre influenciava os hóspedes do hostel a pedirem boleia… dizia que este era o local perfeito para o fazerem. Uma vez um casal de ingleses apareceu com um sorriso rasgado no rosto, dizendo que o tinham feito. Foram com mais seis pessoas na caixa aberta de uma pickup e partilharam o que foi uma experiência inesquecível. O caso mais louco que vi foi uma jovem com três filhos entre os dois e os nove anos de idade e mais o cão a pedir boleia.

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Nos dias livres ia até à montanha e ficava lá uma noite. Esses momentos foram dos melhores que a Patagónia me proporcionou. As caminhadas eram de cerca de 5/6 horas, no início começavam quase sempre por florestas com árvores enormes, entre rios e riachos e com a companhia de diferentes sons de pássaros.

Por vezes sentava-me numa pedra junto a um rio para me refrescar, outras vezes descansava em árvores que tinham caído no meio do caminho. Conforme continuava o percurso, o piso começava a ficar mais inclinado e entre as árvores a vista era cada vez mais ampla, entre montanhas e vales. Quando chegava ao topo era uma sensação incrível por ter conseguido.

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Se havia um lago ganhava coragem para mergulhar, caso tivesse sol e pouco vento, pois a temperatura da água normalmente estava a cerca de 5ºC. Aí relaxava nas rochas e apenas desfrutava do momento. Ao pôr-do-sol, com toda a roupa vestida, comia no topo da montanha sobre paisagens de tirar o folgo, às vezes sozinho outras vezes com mais gente.

Pela noite ficava a observar as estrelas e a via láctea que estavam mesmo ali por cima de mim. Estes eram foram momentos que sempre desejei ter durante a minha viagem.

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Durante a semana voltava à rotina, não que sentisse que fosse um trabalho onde a segunda-feira era o dia menos desejado da semana e a sexta o melhor dia, antes pelo contrário, eu adorava cozinhar para toda esta malta, sentia-me preenchido interiormente por poder fazê-lo. Apenas notava que todo este conforto, sem a dose de aventura que tinha tido até agora desde que andava à boleia na estrada, me tornava mais nostálgico e era cada vez mais frequente ter momentos que pensava sobre a minha família e como sentia falta da sua presença. Ainda assim, a aventura continua em Puririy.

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