Miguel Pinto
Miguel Pinto
03 Set, 2020 - 15:47

Colmeal: a aldeia despejada onde volta a existir vida

Miguel Pinto

Em 1957 todos os habitantes da aldeia do Colmeal foram despejados das casas por soldados da GNR. Descubra uma das jóias de Figueira de Castelo Rodrigo.

Vista da aldeia do Colmeal

Julho de 1957. Uma ordem do tribunal obriga ao despejo dos habitantes da aldeia do Colmeal, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Nesse dia, soldados da GNR dão corpo à sentença e o lugar esvazia-se de vida. A aldeia do Colmeal iria transformar-se num lugar fantasma. Nunca mais ninguém ali quis voltar, muito menos fixar-se. Só agora começa a recuperar a vida.

No fundo, o Colmeal era uma pequena aldeia dentro de uma enorme propriedade, uma lógica quase feudal e que haveria de ter um desfecho trágico. Ainda hoje, mais de meio século volvido sobre os acontecimentos de 1957, pouca gente se sente muito à vontade para falar sobre o assunto. Mas afinal, qual é história?

Colmeal: a vida dura do campo

Panorâmica da aldeia do Colmeal

Pertença de grandes proprietários, o Colmeal abriga várias famílias que amanham as terras das redondezas, num trabalho duro, de sol a sol, pago com uma parca recompensa que deverá servir para alimentar os filhos e manter as rendas em dia. E aqui começam a surgir os problemas.

As rendas começam a subir, a multiplicar-se, e os habitantes sentem-se impotentes para fazer face a tão elevadas despesas. O dinheiro não estica, os feitores não cedem e o Colmeal começa a fervilhar. Quando não chega para alimentar ao mesmo tempo as bocas da família e os bolsos dos proprietários, os habitantes decidem deixar de pagar.

Dá-se então início a um processo jurídico de despejo, que em pouco tempo atinge toda a aldeia. Subitamente, o Colmeal passa de aldeia secular a herdade recente e com o martelo da justiça a ser severo para com quem lá vivia. Em Julho de 1957, mais de duas dezenas de soldados da GNR entram de rompante, arrombam portas e expulsam do local 15 famílias, 60 pessoas. Foi a morte da aldeia.

Turismo traz vida

Muitos anos se passaram e foi o turismo que veio trazer alguma animação ao Colmeal, com alguns edifícios a serem reabilitados, ao mesmo tempo que é construída uma moderna unidade hoteleira. Num vale onde há muito impera o silêncio, o Colmeal começa a ser uma atração a não perder.

Desde logo pelos muitos percursos pedestres que ali existem e que permitem fruir a paisagem envolvente, principalmente a serra da Marofa, de uma forma única. Ali perto tem ainda uma série de locais que fazem parte do projeto Aldeias Históricas e que merecem uma visita.

Aliás, há vários locais no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo que podem muito bem fazer parte do itinerário de uma escapadinha de fim de semana.

colmeal: pelos domínios de castelo rodrigo

Ponte em Barca d'Alva

Castelo Rodrigo é umas das mais belas Aldeias Históricas de Portugal e tem no Palácio Cristóvão de Moura um dos seu maiores ex-libris, palco de grandes atos históricos no passado e de grandes eventos no presente. Outras atrações a não perder são o pelourinho quinhentista, a Igreja Matriz ou a cisterna medieval.

Outras das jóias do concelho é o Convento de Santa Maria de Aguiar, edificado no século XII, junto à ribeira de Aguiar, pela primitiva comunidade de beneditinos ou de eremitas, e que integrou a Ordem de Cister.

Barca d’Alva

Claro que nenhuma escapadinha a Figueira de Castelo Rodrigo pode passar ao largo de uma visita a Barca d’Alva, o lugar onde terminava a linha ferroviária do Douro e durante muito tempo ponto de passagem para quem se deslocava para o resto da Europa, fruto da ligação a La Fregeneda.

A lindíssima estação ferroviária, durante largos anos votada ao abandono, é também o ponto de partida para a Rota dos Túneis, um percurso inolvidável por uma paisagem absolutamente esmagadora. Barca d’Alva conta ainda com um cais fluvial, podendo por isso lá chegar de barco. A título de curiosidade, refira-se que é o último local onde é possível atravessar o Douro de e para território português, através da Ponte Almirante Sarmento Rodrigues, já que a partir dali só em terras de nuestros hermanos.

Bizarril

O Bizarril, que fica situado a nove quilómetros de Figueira de Castelo Rodrigo, é um lugar encaixado entre as serras do Cerejal e da Marofa, do lado direito da estrada que segue para Pinhel e relativamente perto do Colmeal.

Ali perto existem as ruínas de umas construções que serviam para abrigar os rebanhos que vinham da Serra da Estrela aqui passar o inverno, os “currais”. Junto do Rio Côa encontram-se as ruínas de muitos moinhos, demonstrando assim a intensa produção de cereal que se verificava nesta zona.

No centro da povoação está a Capela de Santo António, que no seu Altar-Mor ostenta a bela imagem de Nossa Senhora de Monforte, encontrada no local onde se erguia o Castelo de Monforte. Deste castelo hoje só existem algumas ruínas.

Na margem direita do Rio Côa ergue-se o templo de Nossa Senhora de Monforte, sendo que o nome de Monforte vem do local onde está situado e das funções que desempenhava, era uma fortaleza no alto de uma colina.

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Luzelos

A aldeia dos Luzelos é de fundação muito antiga, coeva do Colmeal talvez, e a demonstrar esse facto estão as sepulturas antropomórficas ali encontradas. Avista-se a Serra da Marofa e o morro mais alto de São Marcos.

Na aldeia há um edifício que segundo a tradição terá pertencido a um convento. Tem um portão monumental do qual sobressai o resto da casa senhorial, com as dependências agrícolas. Se seguirmos para norte entramos no coração da Serra da Marofa, com toda a sua beleza e grandiosidade.

Por isso, como se pode ver, o Colmeal pode ser o ponto de participara uma escapadinha repleta de história e de paisagens absolutamente encantadoras.

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