Marta Maia
Marta Maia
09 Jun, 2023 - 10:46

Devemos ou não emprestar dinheiro a amigos ou familiares?

Marta Maia

A pergunta não é de fácil resposta. Se equaciona emprestar dinheiro a amigos ou familiares, eis o que deve ter em conta antes de dizer que sim ou que não.

Emprestar dinheiro a amigos e familiares

Já diz o ditado que “amigos, amigos, negócios à parte”. Emprestar dinheiro a amigos ou familiares é um tema sensível e, que se não for bem gerido, pode acabar por causar estragos irreparáveis numa relação.

Ainda assim, é difícil ficar indiferente às dificuldades de quem gostamos. Se lhe pediram (ou vierem a pedir) dinheiro, saiba o que ter em conta antes de dar uma resposta e conheça os riscos que pode correr ao entregar dinheiro na mão de alguém que lhe é muito próximo.

6 coisas a considerar antes de decidir se empresta

Como em todos os assuntos que envolvem dinheiro, a pressa é inimiga da perfeição. Antes de dizer que sim – ou antes de recusar – avalie as circunstâncias do pedido e os riscos que pode acarretar para si. Durante essa reflexão, procure responder às seis seguintes perguntas:

1

O dinheiro não lhe vai fazer falta?

É ótimo poder ajudar os outros, mas não se o preço for a sua própria estabilidade financeira. Antes de tomar qualquer decisão, faça bem as contas. Assegure-se de que o valor em causa, no caso de dizer que sim, não lhe vai mesmo fazer falta nos próximos tempos.

Além disso, pense que não é por acaso que esse amigo ou familiar lhe está a pedir a si, em vez de pedir um empréstimo a um banco. A vossa proximidade permite acordar condições de reembolso mais suaves, além de ser expectável alguma tolerância ao incumprimento pontual.

É normal os empréstimos entre particulares demorarem mais a ser pagos, e é exatamente aí que entra a amizade. Não vale a pena emprestar e, dali a pouco tempo, querer exigir o reembolso apressado porque precisa do dinheiro para si. Se lhe faz falta, não empreste.

2

Qual é o motivo do pedido?

Não é a mesma coisa um amigo pedir-nos um empréstimo para fazer face a uma emergência ou porque simplesmente tem dificuldade em gerir as suas finanças pessoais. Compreender o motivo da necessidade é fundamental para perceber se emprestar esse dinheiro é boa ideia ou não, mesmo tratando-se de amigos ou familiares.

A questão que se coloca é a seguinte: a razão que levou ao pedido foi pontual ou é algo recorrente? Caso se trate da segunda hipótese, ao fazer um empréstimo pode estar a encorajar maus hábitos financeiros que invariavelmente conduzem a mais dívidas. Além disso pode nunca ver o seu dinheiro de volta.

Se a pessoa que lhe pede ajuda tiver um histórico de problemas em lidar com o dinheiro, o seu empréstimo pode até funcionar como um “balão de oxigénio” naquele momento, mas, em última análise, só servirá para retardar as consequências da má gestão financeira.

Para algumas pessoas, a ameaça séria de falência pode ser a única forma de se sentirem impelidas a corrigir comportamentos. E nestes casos, por muito que lhe custe, dar uma nega pode ser uma maior prova de amizade do que emprestar o dinheiro.

3

Quais são as condições do empréstimo?

Não é porque está a emprestar dinheiro a amigos ou familiares que não tem de haver regras. A menos que se trate de um donativo ou presente, um empréstimo pressupõe que, mais cedo ou mais tarde, o valor lhe seja devolvido.

É necessário, por isso, que as condições sejam discutidas e aceites por ambas as partes antes do dinheiro trocar de mãos.

Correndo o risco de parecer mesquinho, faça questão de ir ao detalhe: estabeleça uma taxa de juro (mesmo que seja de zero), um prazo de reembolso, se é pago de uma vez ou em prestações (mensais, anuais, etc.) e de que forma (por transferência bancária, MBWay ou outra). Deixe tudo por escrito, mesmo que não seja obrigatório por lei.

Só assim fica garantido que todos sabem as regras do jogo e que ninguém terá motivos para surpresa. Caso contrário pode dar origem a desentendimentos.

Homem a assinar contrato de mútuo
4

Há exigências legais a cumprir?

Dependendo do montante em causa, pode haver exigências legais a cumprir caso decida emprestar dinheiro a amigos ou familiares.

Se o empréstimo não for superior a 2.500 euros, o contrato é opcional e serve apenas para que as duas partes esclareçam as condições do empréstimo. Mas se o valor estiver entre os 2.500 e os 25 mil euros o contrato é mesmo obrigatório e deve ser assinado por quem recebe o dinheiro.

Empréstimos acima dos 25 mil euros têm regras ainda mais apertadas, uma vez que é exigida uma escritura pública ou um documento particular devidamente autenticado. Pode consultar os detalhes da lei a este respeito no Capítulo VII – Mútuo – do Código Civil ou no artigo abaixo.

Veja também Empréstimos entre particulares: como funcionam e regras
5

Consegue abster-se de controlar o que é feito ao dinheiro?

A partir do momento em que entregar o dinheiro a alguém, ele deixa de ser controlado por si. E tratando-se de amigos ou familiares, que são geralmente pessoas próximas, não será difícil de perceber onde e como estão a gastar o que lhes emprestou.

Mas por muito que entenda que esse dinheiro não está a ser tão bem gerido como devia, vai ter de se abster de comentar sobre (ou pior, tentar controlar) as compras e gastos da pessoa em questão. Se emprestou o dinheiro, ele já não lhe pertence.

Embora o empréstimo o coloque numa posição de poder, isso não lhe dá permissão de julgar o que é feito com o dinheiro. Se o fizer está a abrir a porta a ressentimentos por parte de quem lhe pediu ajuda e que agora se sente sob vigia a toda a hora.

Será que vai ter esse desprendimento? Faça uma introspeção. Se perceber que não vai conseguir respeitar a privacidade da pessoa que lhe pediu ajuda, mais vale recusar o empréstimo.

6

Consegue lidar com a hipótese de o dinheiro não ser devolvido?

Há que ser realista: em todos os empréstimos há sempre o risco de não se ser reembolsado, e o caso não muda de figura só porque está a emprestar dinheiro a amigos ou familiares. Assim, pondere todas as possibilidades e reflita com honestidade sobre como reagiria se a pessoa não lhe devolvesse o dinheiro que lhe emprestou.

Se sente que seria incapaz de perdoar um incumprimento, esteja ciente de que o simples ato de fazer o empréstimo já está a colocar em causa a vossa amizade.

Acima de tudo, faça por ser racional e razoável. Emprestar dinheiro a amigos ou familiares implica muito mais do que a possibilidade de perder uma soma. Pode arriscar-se também a perder uma amizade para sempre.

Se sentir que não é capaz de ultrapassar esse obstáculo, recuse o empréstimo e explique porquê. A pessoa vai, com certeza, compreender e agradecer o valor que dá à vossa relação.

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