Share the post "O Machu Picchu Português: história, lendas e descobertas do sítio arqueológico do Prazo"
No coração de Portugal, escondido entre as paisagens de Freixo de Numão, no concelho de Foz Côa, encontra-se um dos tesouros arqueológicos mais fascinantes do país: o Sítio Arqueológico do Prazo. Embora não rivalize em dimensão com o imponente Machu Picchu no Peru, este local carrega uma riqueza histórica e cultural que atravessa milénios, merecendo o apelido de “Machu Picchu português”.
Um museu a céu aberto: do paleolítico à era contemporânea
Descoberto por acaso na década de 1980 durante plantações agrícolas, o Sítio Arqueológico do Prazo revelou-se um verdadeiro mosaico da história humana. Desde vestígios do neolítico até ruínas medievais, o local documenta a ocupação contínua desta região, ilustrando as diferentes formas de vida e crenças que moldaram o território ao longo de séculos::
- Vila romana (séculos I-IV d.C.) – um exemplo bem preservado de arquitetura romana, com estruturas que sugerem uma sociedade agrícola e senhorial organizada.
- Basílica paleocristã e necrópoles (séculos IV-XIII) – testemunhos da transição para o cristianismo e da importância espiritual da área.
- Monumentos megalíticos – uma estela antropomórfica e um menir que remontam à pré-história, comprovando a presença humana no local há milhares de anos.
Hoje, as ruínas oferecem aos visitantes uma visão imersiva da evolução cultural e social da região.
A descoberta e a investigação do Sítio do Prazo
A investigação arqueológica no Sítio do Prazo ganhou novo impulso nas décadas de 1980 e 1990, sob a liderança do arqueólogo António Sá Coixão. Combinando a minúcia das metodologias científicas modernas com a riqueza das lendas locais, Sá Coixão conseguiu desvendar muitos dos segredos que o Prazo guardava.
As escavações conduzidas ao longo destes anos trouxeram à luz 22 sepulturas contendo ossadas de diferentes períodos históricos. Esta descoberta não só testemunha a longevidade da ocupação humana na área, mas também confirma a importância do sítio ao longo dos séculos. Os vestígios encontrados indicam que o Prazo foi habitado de forma contínua por múltiplas civilizações, que aqui deixaram marcas de diversas épocas e culturas, tornando-o um lugar único no panorama arqueológico português.
O apelo turístico e a preservação
Apesar de ter sido progressivamente abandonado ao longo dos séculos, o Sítio Arqueológico do Prazo tem vindo a ganhar destaque como uma atração turística emergente. Visitantes, tanto portugueses como estrangeiros, são atraídos pelas suas ruínas que, mais do que testemunhos arqueológicos, oferecem uma experiência singular: uma viagem no tempo que atravessa milénios de história.
Nos últimos anos, o local tem despertado um interesse renovado, levando a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR Norte) a propor a sua classificação como património cultural. Este reconhecimento representa um grande passo não apenas para assegurar a preservação deste legado histórico, mas também para fomentar o turismo e o desenvolvimento cultural na região. Entre as medidas previstas estão a criação de roteiros turísticos organizados, que permitirão aos visitantes explorar o sítio de forma estruturada, e a promoção internacional do Prazo como uma atração cultural de relevo no Douro Superior.
Com esta proposta, o Sítio do Prazo está cada vez mais próximo de se tornar um ponto de referência no mapa cultural e turístico de Portugal, unindo passado, presente e futuro numa celebração única do património histórico.
As lendas e o fascínio do Prazo
O Sítio Arqueológico do Prazo não é apenas um local de grande riqueza histórica; é também um espaço envolto em misticismo, onde as lendas desempenham um papel crucial no imaginário local. Entre as histórias mais conhecidas está a peculiar narrativa de que os antigos habitantes fugiram devido ao medo das “formigas gigantes” que, segundo a lenda, eram capazes de devorar crianças. Esta explicação fantástica para o abandono do local, embora improvável, reflete as crenças populares que marcaram gerações.
Outra lenda curiosa menciona a existência de um tesouro enterrado nas ruínas, guardado por espíritos ancestrais que protegiam o local de intrusos. Diz-se que quem tenta escavar para encontrar riquezas sem respeito pelo local ou pelas suas histórias acaba amaldiçoado, um relato que gera tanto fascínio quanto precaução entre os habitantes locais.
Ainda há quem conte que a grande estela antropomórfica, encontrada no sítio, é na verdade um guardião místico do passado. Acredita-se que a figura representa uma divindade antiga que protege a terra e os seus segredos. Reza a lenda que tocar na estela com intenções malignas traria azar à pessoa e à sua família.
Estas histórias, passadas de geração em geração, alimentam a imaginação dos visitantes e criam uma aura de mistério em torno do sítio. Para muitos, as lendas são tão importantes quanto os achados arqueológicos, oferecendo uma janela para a forma como as comunidades do passado e do presente atribuem significado a este lugar especial.
Estas narrativas, entrelaçadas com os achados históricos, fazem do Sítio do Prazo muito mais do que um simples local de escavação: é um espaço onde a história e o mito se encontram, despertando o fascínio tanto dos amantes da arqueologia quanto dos entusiastas de histórias fantásticas.
Visite o Machu Picchu português
O Sítio Arqueológico do Prazo é uma oportunidade imperdível para explorar a rica tapeçaria da história portuguesa. Situado a poucos quilómetros da aldeia de Freixo de Numão, o local é acessível e oferece vistas deslumbrantes da região de Foz Côa. A proximidade com as famosas gravuras rupestres do Vale do Côa torna esta área um destino ideal para quem deseja explorar o património cultural e natural de Portugal.
A melhor altura para explorar o Sítio Arqueológico do Prazo é durante a primavera ou o outono, quando as temperaturas são mais amenas e o ambiente convida a passeios prolongados. Para tirar o máximo partido da sua visita, pode combiná-la com uma passagem pelo Museu do Côa e pelas famosas gravuras rupestres da região, que oferecem uma visão abrangente sobre a história e a cultura do Vale do Côa. Para uma experiência verdadeiramente enriquecedora, considere contratar arqueólogos ou guias certificados, que poderão partilhar informações detalhadas e curiosidades sobre o local e as suas fascinantes descobertas.