Miguel Pinto
Miguel Pinto
12 Jun, 2022 - 17:09

NOS Primavera Sound: do terramoto Cave ao pandemónio Gorillaz

Miguel Pinto

Finalmente de volta, o NOS Primavera Sound levou cerca de 100 mil pessoas ao Parque da Cidade do Porto. E foi tão bom o reencontro.

Nick Cave no NOS Primavera Sound

O NOS Primavera Sound de 2022 já era especial antes de arrancar. Após dois anos de adiamentos, fruto da pandemia, havia um nervoso miudinho no rosto da generalidade do público presente. Não um nervoso de receio, mas o nervoso de quem esperou demasiado tempo para ver concertos, para se encontrar com os amigos, para celebrar a música em toda a sua diversidade.

O Parque da Cidade do Porto recebeu, ao longo de três dias, mais de 100 mil pessoas, assumindo-se esta como a maior edição de sempre do festival. Gente dos quatro cantos do mundo, de todas as zonas do país, convergiram para a cidade Invicta para testemunhar o poder da música, em quatro palcos distintos.

O alinhamento não deixou ninguém de fora e aos consagrados habituais, juntaram-se algumas surpresas. É impossível acorrer a todas as capelas? É. Mas com jeitinho a experiência global é sempre inesquecível.

NOS Primavera Sound: a casa de Nick Cave

O primeiro dia do NOS Primavera Sound estava ganho à partida. É impossível a Nick Cave e aos seus Bad Seeds dar um mau concerto. Um vez mais (foi a terceira vez que o músico se apresentou no festival), o músico de origem australiana provocou um verdadeiro pandemónio em palco, numa comunhão total com uma audiência rendida.

Nick Cave tem a centelha do performer, a genialidade do compositor e o músico de exceção a correr nas veias. Para além de temas dos seus últimos trabalhos, foi possível ouvir alguns clássicos, como Tuppelo, The Ship Song, Mercy Seat ou, claro está, Into my Armas, cantado em uníssono pela maior enchente de sempre do festival. Mais de 35 mil pessoas, seguramente.

Antes de Cave tomar o palco de assalto, a pop escorreita da também australiana Stella Donnely marcou pontos no Parque da Cidade do Porto, sendo possível ainda ouvir nos outros palcos a melancolia dos Cigarettes After Sex, os muitos esperados DIIV ou uma dececionante Kim Gordon, longe dos gloriosos tempos dos Sonic Youth.

O primeiro dia fechou com a festa dos Time Impala, numa grande produção que não deslustrou. A banda tornou-se já num caso sério, abandonando a capa indie onde andou abrigada por muito tempo. Um pouco como os The National, por exemplo. O primeiro diz terminava não só com o sentimento do dever cumprido, mas, principalmente, com a certeza que estávamos de volta ao festival. Desta vez era mesmo verdade.

O indie nasceu onde?

O segundo dia do NOS Primavera Sound fica marcado, segundo este escriba, pelo poderoso concerto que Jehnny Beth deu no Palco Binance. Toda ela é nervo, toda ela é interação com o público, toda ela é rock, pop e punk. Um cocktail explosivo que merecia um palco com mais exposição e, claro está, muito mais gente.

O primeiro cabeça de cartaz a subir ao palco foi Beck, um nome que já tinha passado pelo Porto há cerca de 25 anos. O autor do imortal hino “Loser” proporcionou um concerto escorreito, num desfile de êxitos que obrigou os corpos a mexer sem parar. Foi um espetáculo visualmente excitante e irrepreensível sob o ponto de vista musical.

Mas o que toda a gente esperava eram mesmo os Pavement, considerados como a primeira banda indie, se é que assim se pode falar. O concerto foi morno, mas não dá para negar a influência que os Pavement têm em muita bandas e artistas que hoje se passeiam pelos palcos mundiais. Um dos exemplos mais evidentes será, claramente, os Pixies. Extremamente profissionais, não falhou uma nota, nem um êxito, num concerto que estava destinado a ser um sucesso. Dividiu opiniões, é verdade, mas não deixou de ser um marco para mais tarde recordar.

Primavera Sound 2022

O pandemónio

Como se não bastasse tudo o que já tinha acontecido durante os dois primeiros dias, o NOS Primavera Sound ainda tinha mais um trunfo na manga. Mas antes de jogar essa cartada, foi ainda preciso passar pelos sofríveis Interpol. Já não é a primeira vez que estão no festival, nem é a primeira vez que dão um concerto morno, a confirmar tratar-se muito mais de uma banda de estúdio. Como tudo o que isso tem de bom e de mau. Assim sendo, nada como dirigir os ouvidos para propostas mais estimulantes, como foram o caso dos Dry Cleaning.

Como já dissemos, para o fim, estava guardado o melhor. Os Gorillaz, projeto liderado por Damon Albarn (mais conhecido pelas suas aventuras com os Blur), deixaram o Parque da Cidade do Porto a ferro e fogo, num concerto brutal a que nem a falha técnica durante uma das músicas mais conhecidas (“Clint Eastwood”) retira qualquer brilho. Foi um pandemónio de dança e comunhão entre artistas e público, a chave de ouro com que encerrou esta edição de 2022 no NOS Primavera Sound.

Ganhos para a cidade

 Ao longo dos três dias do festival – que, segundo a organização, recebeu 100 mil visitantes – houve muitos momentos memoráveis e gerou-se um impacto global de 36,1 milhões de euros na economia da cidade e da região.

Com 33 nacionalidades diferentes identificadas no recinto, destacaram-se Espanha, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e ainda Brasil, Estados Unidos da América e Suíça como os principais países de origem. O NOS Primavera Sound é já uma proposta incontornável na oferta cultural da cidade do Porto. E estará de volta no próximo ano e no sítio do costume.

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