Luana Freire
Luana Freire
25 Mar, 2024 - 14:39

Hora de verão: relógios adiantam uma hora no fim de semana

Luana Freire

É verdade, a hora vai mudar de novo. Este fim de semana, os relógios adiantam 60 minutos, adaptando-se à chamada hora de verão.

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Eis que estamos a entrar naquela altura do ano em que os dias ficam mais longos, com os ponteiros do relógio a adiantarem uma hora já neste fim de semana de Páscoa. A hora de verão chega na madrugada de domingo, dia 31 de março.

Por isso, já sabe: à meia noite de domingo é altura de adiantar os ponteiros para a 1 hora da madrugada. É menos uma hora de sono, é verdade, mas é também sinal que o verão está mesmo aí à porta.

Estas mudanças têm uma história. Não caíram do céu. Se bem se lembra, todos os anos é a mesma coisa: em março avançamos uma hora no tempo, enquanto que em outubro recuamos uma hora e regressamos ao horário de inverno. Mas será que já se perguntou sobre isso?

Siga a nossa explicação sobre a razão de andarmos a adiantar e atrasar relógios duas vezes ao ano.

Por que mudamos as horas duas vezes no ano

Numa altura do ano, ficamos um bocadinho gratos. Noutra, levantamos da cama entre queixas – e assim andamos por uns tempos. Até que o organismo entra no ritmo e já nem nos lembramos de questionar por que mudamos as horas duas vezes no ano.

Mais à frente, em março, também pelas primeiras horas de uma madrugada comum de domingo, desaparecem sessenta minutos do nosso relógio. Em outubro, magicamente, o tempo é-nos devolvido.

Será mesmo magia? A verdade é que não. A mudança de hora acontece porque, em outubro, entramos no tempo de poupar um bocadinho da luz do dia – enquanto que, em março, com dias naturalmente mais compridos, não temos essa necessidade.

Se queria que o dia contasse mais horas – para dormir um bocadinho, para aproveitar mais os tempos de lazer ao domingo ou para conseguir tratar de tudo o que precisa e não tem dado conta – é desta que o vai sentir assim. Quase à porta dos meses frios, é altura de “ganhar” uma hora.

Para entender o porquê de mudarmos de hora duas vezes no ano, devemos saber que, desde sempre, a alteração teve a ver com a economia de recursos energéticos.

Hoje temos energias renováveis e ciclos bi-horários de consumo de eletricidade, que revolucionam a questão da pegada energética – mas ainda mantemos o hábito de mudar de horas por duas vezes, todo os anos. Será que ainda faz sentido? Parece que sim.

Mulher a dormir demais

Hora de verão x Hora de inverno

A mudança de hora foi definida como forma de conseguir encurtar os dias com mais luz natural do sol (primavera/verão) e, em sentido contrário, poder prolongar um bocadinho os dias quando têm menos horas de luminosidade (outono/inverno).

Assim, com mais uma hora atribuída ao dia nos meses em que o período noturno é naturalmente maior, podemos fazer melhor uso das horas de luz solar e promover a poupança de energia.

Então, aos relógios de primavera, em março, fazemos um avanço de uma hora.

Mas como toda conta se cobra, em outubro, passamos a recuar nas horas e voltamos aquilo que podemos chamar de “padrão”.

Uma explicação com história dentro

Afinal, porque temos duas horas distintas ao longo do ano? A resposta a esta questão vem desde há muito, desde os tempos de Benjamin Franklin – um norteamericano diplomata, filósofo político, jornalista e escritor que, aos seus muitos ofícios, juntou o de ser um cientista que revolucionou conceitos de eletricidade.

Foi pelo ano de 1784 que Franklin sugeriu a ideia de se criar um horário de verão, para que se poupassem as velas – ou seja, já desde então, a mudança de hora tinha a ver com economia de recursos.

Pelo início do século XX, a ideia tomou forma de proposta e andou de mão em mão, e de boca em boca, causando alvoroço no Parlamento britânico. Nomes como Churchill, Lloyd George e o rei Eduardo VII eram vozes ativas nesse debate – mas, até aí, nenhuma mudança significativa nas horas estava difundida em larga escala.

Anos e anos de discussão sobre o tema da poupança de energia e… Uma guerra assola o mundo, uma e outra vez. A crise energética e o consequente abismo económico levaram a que os Estados Unidos experimentassem a ideia do horário de verão – no entanto, a medida aconteceu aos poucos, sem decisões tomadas como definitivas.

A hora de verão foi, assim, experimentada pelos norte-americanos durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de se poder aproveitar mais horas do dia e, de igual forma, poupar na energia.

Passadas as guerras, a ideia pareceu resultar e foi determinada, na prática, em alguns territórios dos EUA. Mais tarde, com as diferenças horárias entre cidades e estados do país, muitas vezes vizinhos, a questão de haver uma hora especial de verão gerou alguma confusão.

Foi assim que, nos anos que se seguiram até à última guerra, mais precisamente em 1966, o congresso norte-americano aprovou o chamado Daylight Saving Time – que, em tradução livre, é o nosso famoso horário de verão.

Ainda assim, para o mundo, saltavam questões como: haveria vantagens que justificassem os transtornos? Como se poderia implementar a ideia na generalidade dos territórios? Quem beneficiaria, efetivamente, com a alteração?

Hora de verão no mundo, ponto a ponto do globo

Grande parte do mundo adota, nos dias de hoje, a Hora de Verão – mas a verdade é que determinar medidas do género não é matemática simples e exige calcular quem beneficia com a medida, em maior ou menor grau.

Para entendermos que a Hora de Verão pode não ser benéfica para todos, basta pensarmos nos territórios localizados mais distantes da linha do equador – onde as horas diurnas, naturalmente, são muito mais longas no verão do que no Inverno. Vista a questão, é fácil entender que esses países – ou cidades – não têm qualquer benefício adicional em adotar um horário especial para os tempos de mais calor.

Em contrapartida, cidades e países equatoriais, que têm horas diurnas e noturnas equivalentes ao longo de todo o ano, podem assumir que, em termos de poupança de energia, um horário de verão faz todo o sentido.

Isso porque ficamos, de facto, com mais uma hora do dia preenchida de luz natural – para fazermos o que quer que seja, em tempos de calor, sem gastar eletricidade.

E quando Portugal decidiu ter hora de verão?

Na sequência dos EUA, em 1942, um pouco por toda a Europa aconteceu a mudança – Portugal, que desde 1911 seguia a hora de Greenwich, acompanhou a tendência dos vizinhos. A razão? Provavelmente, a mudança ocorreu por motivos económicos, políticos e militares.

Anos mais tarde, a Hora de Verão voltava a ter a sua importância destacada na Europa e, até, as próprias condições do mercado impuseram, à certa altura, que a alteração fosse feita.

A Comunidade Económica Europeia fez com que o mercado desse ordens aos relógios no continente. Em 1981, quando Portugal apenas aspirava fazer parte do bloco, foi estabelecida uma diretiva clara: todos os Estados membros eram aconselhados a adotar uma Hora de Verão – em sintonia, com a mesma data de início e fim.

Mas foi em 2007, com uma Comissão Europeia já bastante mais alargada, que se estabeleceu a relação direta entre economia e mudança de hora, passando a estar em evidência a importância económica de todos mudarem de horário na mesma data.

Mudança de hora e saúde

O que a ciência tem demonstrado ao longo de estudos publicados é que, em nome da saúde, as alterações de horas devem acabar.

Investigadores têm alertado que as mudanças de horas, feitas por duas vezes ao ano, podem ser bastante prejudiciais para a saúde física e mental de uma significativa fatia das populações que vivem estas alterações.

Miguel Meira e Cruz, especialista em Medicina do Sono, coordenou e divulgou à Lusa, em 2019, uma investigação sobre o tema. No documento, que reúne nove autores, é possível ler que o organismo humano possui “milhares de ritmos”, havendo a constante necessidade de adaptação para estar sincronizado.

Ora, quando algo determina a instabilidade do nosso relógio biológico central, no cérebro, que regula todos os nossos outros relógios biológicos, essa instabilidade é sentida por todo o corpo e mente. Isso quer dizer, em resumo simples, que mexer nas horas pode, de facto, ter consequências dramáticas na nossa saúde.

A discussão passa, sobretudo, pela questão do sono, mas o especialista relembra que alterações que afetam essa nossa necessidade básica, quando realizadas duas vezes todos os anos, podem estar relacionadas com eventos de saúde mais graves, como risco de cancro e maior frequência de episódios agudos do coração, como enfartes.

Quando entramos na Hora de Inverno?

No último fim de semana de outubro é altura de fazer umas festinhas a mais aos lençóis da cama: é quando atrasamos uma hora ao relógio.

Quando começa a hora de verão em Portugal?

Em toda a Europa, vivemos o horário de verão a partir do último fim de semana de março.

A hora de verão realmente faz poupar energia?

Uns dizem que sim, outros defendem afincadamente que não.

Quem acredita nos benefícios de mudarmos as horas para conseguirmos poupança de recursos, não tem dúvidas de que as pessoas utilizam menos energia para abastecer as suas casas e negócios durante o horário de verão.

Ao contrário, quem é descrente neste assunto também tem essa certeza – de pouparmos eletricidade -, mas afirma que esses consumos não ficam inexistentes: eles apenas passam a ocorrer durante os meses mais escuros que nos trazem o outono e o inverno.

Seja como for, a hora muda – e se está com mais ou com menos saudades da cama não interessa: é altura de alterar o relógio.

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