Mónica Carvalho
Mónica Carvalho
02 Fev, 2023 - 18:01

Vacina para o cancro da mama: estaremos perto da cura?

Mónica Carvalho

Avanços na investigação médica criam vacina para o cancro da mama. Será este o primeiro passo a caminho de uma cura?

Vacina para o cancro da mama

O centro médico Cleveland Clinic anunciou o primeiro teste em humanos de uma vacina contra o cancro da mama, mais propriamente contra a forma mais agressiva e mortal desta doença. Após a autorização autoridade do medicamento dos EUA, a Food and Drug Administration (FDA), o processo traz esperança a todas as mulheres.

Este estudo incide numa vacina que visa prevenir o cancro de mama triplo-negativo, a forma mais agressiva e letal da doença e encontra-se na fase I.

Será determinada a dose máxima tolerada da vacina em pacientes com este tipo de cancro de mama em estágio inicial, de modo a caracterizar e otimizar a resposta imunológica do corpo.

“Temos esperança de que esta pesquisa levará a testes mais avançados para determinar a eficácia da vacina contra este tipo altamente agressivo de cancro de mama”, afirmou G. Thomas Budd, MD, do Taussig Cancer Institute da Cleveland Clinic e principal investigador do estudo.

Continua: “A longo prazo, esperamos que esta seja uma verdadeira vacina preventiva que possa ser administrada a mulheres saudáveis ​​para evitar que desenvolvessem cancro de mama triplo-negativo, a forma de cancro de mama para a qual temos os tratamentos menos eficazes.”

Sobre o cancro de mama triplo-negativo

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Apesar de representar apenas cerca de 12-15% de todos os cancros de mama, o cancro de mama triplo-negativo é responsável por uma percentagem desproporcionalmente maior de mortes por cancro de mama e tem uma taxa maior de recorrência.

Esta forma de cancro tem duas vezes mais probabilidade de ocorrer em mulheres afro-americanas, e aproximadamente 70% a 80% dos tumores de mama que ocorrem em mulheres com mutações nos genes BRCA1 são cancro de mama triplo-negativo.

“Esta abordagem de vacina representa uma nova maneira potencial de controlar o cancro de mama”, disse Vincent Tuohy, Ph.D., o principal inventor da vacina e imunologista da equipa do Instituto de Pesquisa Lerner da Clínica Cleveland.

“O objetivo de longo prazo desta pesquisa é determinar se esta vacina pode prevenir o cancro de mama antes que ele ocorra, particularmente as formas mais agressivas desta doença que predominam em mulheres de alto risco.”

Como funciona a vacina?

A vacina experimental tem como alvo uma proteína de lactação específica da mama, α-lactalbumina, que está presente na maioria dos cancros de mama triplo-negativos. O objetivo é ativar o sistema imunológico contra essa proteína contra tumores de mama emergentes que expressam proteína.

A vacina também contém um adjuvante que ativa uma resposta imune inata que permite ao sistema imunitário criar uma resposta contra tumores emergentes para evitar que cresçam.

Esta vacina bem pode ser o início para o tratamento de outras doenças, visto que, de acordo com os investigadores “tem potencial para ser aplicada a outros tipos de tumor”, nomeadamente, cancro do ovário e cancro do endométrio.

“Se bem-sucedidas, essas vacinas têm o potencial de transformar a maneira como controlamos o cancro de início da idade adulta e aumentar a expectativa de vida.”

Como é feita esta fase do estudo clínico

O estudo é baseado em pesquisas pré-clínicas lideradas pelo Dr. Tuohy, “que mostraram que a ativação do sistema imunológico contra a proteína α-lactalbumina era segura e eficaz na prevenção de tumores de mama em camundongos” – uma espécie de ratos de laboratório.

A pesquisa também foi fundamental para descobrir que com uma única vacinação pode ser possível prevenir a ocorrência de tumores de mama, ao mesmo tempo que inibia o crescimento de tumores de mama já existentes.

Financiado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o importante estudo da Cleveland Clinic inclui entre 18 a 24 pacientes que completaram o tratamento para cancro de mama triplo-negativo em estágio inicial nos últimos três anos e estão atualmente livres de tumor, mas que possuem um alto risco de reincidência. As participantes recebem três vacinas, cada uma com duas semanas de intervalo.

Se os resultados decorrerem como o esperado, os investigadores preveem a realização de um ensaio subsequente que envolva mulheres saudáveis, sem cancro, mas com alto risco de desenvolver cancro de mama devido à existência de mutações no gene BRCA1 ou BRCA2.

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