Ricardo Ferreira
Ricardo Ferreira
17 Mar, 2017 - 11:13

Vitamina K: para que te quero?

Ricardo Ferreira

Os processos de coagulação do sangue e a síntese de várias proteínas fundamentais estão dependentes de vitamina K.

Vitamina K: para que te quero?

A vitamina K compreende uma família de diferentes compostos lipossolúveis com uma estrutura química comum: as quinonas. Na natureza ocorre sob a forma de fitoquinona, ou vitamina K1, e menaquinona, ou vitamina K2.

A principal fonte nutricional de vitamina K é a fitoquinona (K1), presente em vários alimentos e suplementos alimentares. Já a menaquinona (K2) funciona como reserva corporal de vitamina K e é sintetizada a partir da vitamina K1 pelas bactérias intestinais e em alguns tecidos do corpo humano, tornando a sua ingesta desnecessária.

São ainda conhecidas três outras formas sintéticas de vitamina K, apropriadamente apelidadas K3, K4 e K5.

Funções da vitamina K

Esta vitamina foi inicialmente implicada na coagulação sanguínea. Em 1929, o bioquímico dinamarquês Henrik Dam identificou um composto, a que chamou Koagulationsvitamin ou vitamina da coagulação, que quando removido da ração para galinhas provocava hemorragias (“sangramentos”) nestes animais.

Assim, a vitamina K impede-nos de sangrar descontroladamente mas tem ainda, sabemos hoje, um papel importante ao nível dos ossos e do cérebro, no normal metabolismo ósseo e capacidade cognitiva. Estas e outras funções, conhecidas há menos tempo, são uma promissora área de investigação médica nomeadamente em relação a doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer.

Fontes de vitamina K

A vitamina K tem, nas plantas, um papel fundamental na fotossíntese e é por isso encontrada essencialmente em vegetais de folha verde, algumas frutas e óleos vegetais, ao contrário, por exemplo, da maioria das raízes e tubérculos. Destacam-se, entre os alimentos com teor significativo de vitamina K:

  • Agriões
  • Alface
  • Beterraba
  • Brócolos
  • Chá verde
  • Coentros
  • Couve
  • Espinafres
  • Fígado
  • Hortelã-pimenta
  • Kiwi
  • Nabiça
  • Salsa

Já no leite materno, a quantidade desta vitamina é habitualmente muito baixa e o recém-nascido só ao fim de duas semanas tem o seu intestino colonizado por bactérias produtoras de vitamina K.

Durante anos, a doença hemorrágica do recém-nascido foi uma causa significativa de morbilidade e mortalidade infantil. Como tal, em Portugal e em muitos países desenvolvidos instituiu-se a administração intramuscular de vitamina K nas primeiras 6 horas de vida do recém-nascido.

A administração oral de vitamina K, na prevenção da doença hemorrágica, é menos eficaz e não está recomendada. Também as fórmulas alimentares infantis, os leites especiais para prematuros e os fortificantes do leite materno são suplementados com esta vitamina.

A carência de vitamina K é rara mas pode ocorrer em casos de doença hepática e intestinal, geralmente associada à diarreia, síndromes de má absorção ou de destruição da flora intestinal. O uso prolongado de antibióticos, alguns anticoagulantes, como a varfarina, e os anticonvulsivantes utilizados no tratamento da epilepsia podem também provocar uma redução acentuada de vitamina K. O sangramento difícil de estancar é o principal sintoma de carência de vitamina K e pode facilitar, entre outros:

  • Sangramento do nariz
  • Sangramento das gengivas
  • Menstruação muito intensa
  • Sangue na urina e/ou nas fezes
  • Hematomas (“nódoas negras”) sem trauma aparente

Por seu turno, a toxicidade da vitamina K em altas doses está quase exclusivamente associada às formas sintéticas. Presente em alguns medicamentos e suplementos alimentares entretanto proibidos, a vitamina K3 ficou associada à anemia hemolítica, à icterícia e ao kernicterus (uma forma grave de icterícia nos recém-nascidos), por induzir o romper das células vermelhas do sangue, libertando um pigmento, a bilirrubina, que confere uma cor amarelada à pele.

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