A abstenção eleitoral em Portugal continua a lançar preocupações sobre a saúde democrática do país. Saber quem são os cidadãos que não votam — e porquê — é essencial para entender o afastamento crescente entre o povo e a política.
Com foco nos mais jovens e no eleitorado conservador, um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos revela os padrões sociais, ideológicos e económicos que caracterizam o perfil do eleitor português menos participativo. Compreender estas causas é um passo fundamental para fomentar uma maior participação cívica em eleições.
Juventude e participação política em queda
Por que os jovens se abstêm mais do que os adultos?
A juventude e participação política parecem cada vez mais distanciadas. O estudo mostra que os eleitores entre 18 e 30 anos estão entre os que menos participam nas eleições. A perceção de que o voto tem pouco impacto prático, somada à desilusão com os partidos políticos, contribui para esta realidade.
Fatores como menor grau de escolaridade, estatuto de inquilino e pertença a minorias étnicas aumentam ainda mais a probabilidade de abstenção nesta faixa etária. Isto confirma que a ligação entre escolaridade, classe social e participação é significativa no comportamento dos abstencionistas.
O impacto da escolaridade e da classe social no voto
Eleitores com maior nível de instrução e estabilidade socioeconómica sentem maior responsabilidade cívica e remorso por não exercerem o direito ao voto. Por outro lado, os menos escolarizados ou de classes mais vulneráveis veem a política como distante ou irrelevante.
Este padrão tende a perpetuar desigualdades no sistema representativo. Garantir o acesso à educação e estimular o interesse político são estratégias fundamentais para inverter a tendência de abstenção, especialmente nas faixas jovens.
O perfil conservador entre os abstencionistas
A posição política dos abstencionistas
Ao contrário da perceção comum noutros contextos, em Portugal os abstencionistas tendem a inclinar-se para a direita política. Defendem impostos mais baixos, veem com desconfiança as instituições políticas e desejam maior presença de “cidadãos comuns” nos círculos do poder.
Este cenário aponta para uma sub-representação do eleitorado conservador português nas urnas — com possíveis efeitos na composição da Assembleia da República e na definição de políticas públicas.
Questões ideológicas não explicam tudo
Ainda que mais abstencionistas se posicionem à direita, os seus posicionamentos em temas centrais como imigração, ambiente ou economia não diferem em muito dos eleitores ativos. Ou seja, a posição política dos abstencionistas não explica totalmente a sua ausência.
O contexto político também influencia. Entre 2021 e 2022, enquanto o PS tinha maioria absoluta, partidos emergentes como Chega ou Iniciativa Liberal ainda conquistavam espaço. Alguns eleitores podem ter sentido que o seu voto não fazia diferença ou não tinham opções políticas com que se identificassem.
Tendências e desafios na participação eleitoral
A evolução da abstenção desde 1974
A evolução da abstenção eleitoral em Portugal é marcada por um crescimento constante desde o 25 de Abril. Parte deste aumento deve-se à inscrição automática de cidadãos emigrados, que raramente regressam ao país para votar.
Apesar desta tendência, as Legislativas de 2024 trouxeram um novo fôlego participativo, o que pode indicar uma inversão. Conforme discutido no artigo Ciclos autárquicos longos são mais produtivos do que legislaturas curtas, a perceção de estabilidade política e relevância das decisões impacta a motivação do eleitorado.
Autárquicas e legislativas mobilizam mais do que presidenciais e europeias
As eleições onde há possibilidade real de mudança — como autárquicas e legislativas — mobilizam mais eleitores face às europeias ou presidenciais, sobretudo em cenários de recandidatura presidencial.
Para combater o desinteresse, é crucial reforçar as campanhas de incentivo ao voto, bem como explicar o impacto que todas as eleições têm na vida quotidiana. Só assim será possível envolver mais cidadãos na participação cívica em eleições.
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