Share the post "Fim de uma linhagem: Alpine A110 a combustão acaba em 2026"
A Alpine iniciou a contagem decrescente para o fim da produção do A110. O desportivo francês, símbolo de leveza e precisão, prepara-se para deixar de ser fabricado em meados de 2026, encerrando um ciclo que marcou o renascimento da marca sob a égide do Grupo Renault.
Este será o último Alpine com motor de combustão, um epílogo técnico e emocional antes da transição definitiva para a era elétrica.
Em termos de produção, a marca anuncia que serão feitas 1750 unidades da atual geração do A110, incluindo apenas 50 A110 R 70s.
Desta forma, a produção total do modelo chegará a quase 30 000 unidades, um recorde para a marca pensada e concretizada por Jean Rédélé.
Alpine A110: desportivo à moda antiga
O A110 foi concebido para seguir uma filosofia hoje rara na indústria, ou seja, peso reduzido, simplicidade mecânica, prazer de condução direto.
Assente num chassis inteiramente em alumínio e com motor central-traseiro, o coupé mantém proporções compactas e um equilíbrio que o torna excecionalmente ágil.
O bloco 1.8 turbo de quatro cilindros, partilhado com o Renault Mégane R.S., continua a ser o coração da gama. As potências variam entre 252 e 300 cv, consoante as versões (A110, GT e S), sempre acopladas à caixa de dupla embraiagem de sete relações.
Com pouco mais de 1.100 kg, o A110 é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 4,2 segundos e atingir 250 km/h de velocidade máxima.
Estes números são expressivos, mas não contam a história toda. O que define o A110 é a fluidez. A forma como entra em curva com leveza, como responde ao toque de volante, como o chassis parece ler o asfalto.
A suspensão de duplo triângulo e o centro de gravidade muito baixo criam uma ligação quase analógica entre carro e condutor, uma qualidade que o distingue numa era dominada por peso e eletrónica.

Despedida com precisão cirúrgica
O fim anunciado do A110 não é um golpe de marketing, mas sim uma inevitabilidade industrial. A Alpine confirmou que este será o último modelo de combustão interna produzido em Dieppe, antes da total eletrificação da marca.
A fábrica normanda, agora rebatizada “Manufacture Alpine Dieppe Jean Rédélé”, passará a montar os futuros modelos elétricos, designadamente o A290, o GT crossover e o sucessor elétrico do próprio A110.
Há um certo simbolismo neste fecho de ciclo. O A110 foi o primeiro automóvel do renascimento Alpine, lançado em 2017, e serviu de manifesto técnico, leve, compacto e focado.
Durante oito anos, resistiu às tendências do mercado, mantendo-se fiel à sua receita original. Agora, com as normas de emissões cada vez mais restritivas e o rumo estratégico do grupo Renault orientado para a eletrificação, o A110 despede-se com dignidade.
A marca descreve este momento como uma “transição de energia e de espírito”. Ou seja, o A110 termina, mas a filosofia Alpine, centrada na precisão e no prazer de condução, não desaparece, apenas muda de linguagem.
A110: automóvel que se tornou exceção
Num mercado dominado por SUV elétricos e GTs híbridos de duas toneladas, o Alpine A110 é, por assim dizer, uma anomalia técnica. Um desportivo leve, com potência suficiente, mas não excessiva.
A Alpine manteve a pureza da fórmula até ao fim. Não tentou transformar o A110 num produto de volume, nem seguiu a tentação de o hibridizar. É, nesse sentido, um carro com identidade rara: fruto de uma filosofia mais artesanal do que industrial.
O preço reflete essa exclusividade. Em Portugal, o A110 parte de valores próximos dos 73.000 euros, subindo até cerca de 90.000 euros nas versões GT e S. Já o R70 vai muito além dos 100 mil, mas é um carro exclusivo.
É, portanto, um desportivo para entusiastas informados, não para estatuto, mas para prazer de condução.
A herança e o futuro
Com o fim da produção previsto para 2026, o A110 fecha o capítulo térmico da Alpine. O sucessor elétrico pretende manter a mesma filosofia dinâmica, mas com propulsão elétrica e nova plataforma.
Até lá, o atual A110 permanecerá como uma espécie de elo entre eras, ou seja, o último Alpine de motor a combustão e o primeiro a ser verdadeiramente reconhecido como ícone moderno.
O seu desaparecimento marcará o fim de uma linhagem que remonta à berlinette dos anos 60. E, num tempo em que o automóvel se tornou cada vez mais digital e até asséptico, o A110 recorda o valor de uma mecânica pura, da condução tátil e da engenharia que privilegia o instinto.
O Alpine A110 não é apenas o fim de uma era. É o último sopro analógico antes do silêncio elétrico.