Cláudia Pereira
Cláudia Pereira
19 Set, 2025 - 16:30

Bilhete único nacional: um só passe para todos os transportes públicos?

Cláudia Pereira

O bilhete único nacional promete simplificar os transportes públicos em Portugal. Descubra os desafios, vantagens e o que falta para o projecto 1Bilhete.pt sair do papel.

Portugal está a preparar uma mudança significativa na forma como se viaja de transportes públicos. O Governo quer implementar, já em 2025, um bilhete único nacional. A ideia é ambiciosa: um único cartão ou aplicação para aceder a autocarros, comboios, metros e outros meios públicos, em qualquer região do país.

Mas atenção, esta medida não é nova, já foi anunciada em governos anteriores, e até existe uma infraestrutura técnica preparada para o efeito. O problema? Nunca chegou a sair do papel.

Uma viagem sem paragens

Atualmente, quem vive em Lisboa mas trabalha no Porto precisa de gerir dois sistemas de bilhetes distintos. O mesmo vale para quem troca de região para estudar, trabalhar ou viajar. Com o novo modelo, essa fragmentação pode desaparecer.

O bilhete único baseia-se na plataforma 1Bilhete.pt, um projecto lançado para permitir a interoperabilidade entre os vários sistemas regionais. Está sob coordenação do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), com apoio técnico da TML (Lisboa) e da TIP (Porto). Em teoria, o sistema está pronto — o que falta é a implementação efetiva.

Para que serve?

A promessa é clara: tornar mais simples a vida de quem usa transportes públicos. A interoperabilidade permitirá validar um bilhete em qualquer transportadora, mesmo que o título tenha sido comprado noutra região. Um cartão Andante poderá ser usado em Lisboa e um Navegante poderá ser válido no Algarve.

O sistema prevê a utilização de cartões bancários físicos ou digitais, e aplicações móveis, como formas de pagamento e validação. Tudo isto reduz filas, dúvidas e a clássica pergunta: “Onde é que se compra o bilhete aqui?

Vantagens para os passageiros

A principal vantagem é a conveniência: menos cartões, menos aplicações, menos confusão. Um sistema nacional traz ainda ganhos de tempo e pode reduzir custos associados à emissão e manutenção de vários suportes físicos.

Há também um incentivo indirecto à mobilidade sustentável. Se for mais fácil usar os transportes públicos, mais pessoas o farão, o que pode significar menos carros na estrada, menos poluição e mais cidades respiráveis.

A digitalização do sistema, com integração de apps e tecnologia contactless, coloca ainda Portugal no caminho de modernização do setor dos transportes.

O que está previsto para 2025

O Governo sinalizou que quer retomar esta medida e avançar de forma efetiva em 2025. A proposta foi reapresentada pelo Ministério da Reforma do Estado, que a considera essencial para uma mobilidade mais eficiente e inclusiva. Assim, em 2025, espera-se:

  • a ampliação do sistema 1Bilhete.pt a todas as regiões;
  • a adesão dos operadores regionais ao modelo nacional;
  • o arranque de um sistema único, com cartão, app ou cartão bancário como suporte;
  • a definição de normas comuns para tarifas, validação e fiscalização.

Desafios no horizonte

Apesar do potencial, a criação de um bilhete único nacional enfrenta obstáculos. A harmonização dos tarifários é um dos mais delicados, já que os preços variam de região para região consoante subsídios locais, o que pode gerar desequilíbrios quando se tentar aplicar um modelo comum.

Outro desafio está na coordenação entre câmaras, operadoras e autoridades de transporte, que terão de alinhar processos e investir em novas infraestruturas e tecnologia. A modernização exige recursos, formação e interoperabilidade entre sistemas que até agora funcionaram de forma independente.

Por fim, permanecem questões legais e financeiras: quem financia a transição, como garantir a privacidade e a segurança dos dados dos utilizadores, e de que forma será feita a fiscalização. O sistema já existe no papel através do projecto 1Bilhete.pt, mas falta o arranque político e operacional que o torne real. Até lá, os portugueses continuam a viajar com demasiados cartões no bolso.

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