Miguel Pinto
Miguel Pinto
08 Dez, 2025 - 12:00

ChatGPT nos trabalhos da escola? O que deve fazer e o que evitar

Miguel Pinto

A utilização de ferramentas de IA como o ChatGPT nos trabalhos escolares está a vulgarizar-se. Mas há cuidados a observar.

inteligência artificial

A chegada de ferramentas como o ChatGPT às salas de aula tem gerado debates acesos entre educadores, alunos e pais.

Tal como aconteceu com a calculadora, a Wikipédia e os motores de busca, a inteligência artificial (IA) representa uma mudança de paradigma na forma como se aprende e estuda. Mas como devem os alunos usar estas ferramentas de forma ética e produtiva?

ChatGPT na escola: o que devem fazer os alunos

A inteligência artificial pode ser vista como um convite à preguiça quando se está a preparar trabalhos para a escola, usando ferramentas como o ChatGPT. Mas há que combater essa passividade.

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Ferramenta de apoio, não substituto

A inteligência artificial deve ser encarada como um assistente de estudo, não como alguém que faz o trabalho pelo aluno. O ChatGPT pode complementar o processo educacional, mas não deve substituir as atividades de aprendizagem.

Os estudantes devem pensar na IA como um tutor disponível 24 horas por dia, pronto para explicar conceitos difíceis ou para ajudar a organizar ideias.

Exemplos práticos

  • Pedir à IA que explique um conceito de matemática de formas diferentes até se compreender
  • Usar a ferramenta para criar um esquema inicial de um trabalho
  • Solicitar sugestões de estrutura para uma redação
  • Pedir exemplos práticos de teorias que se estão a estudar
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Transparência sobre uso da IA

A transparência no uso de ferramentas como o ChatGPT aumenta a confiança na relação entre alunos e professores. Se um estudante utilizou uma IA para ajudar num trabalho, deve indicar claramente em que parte e como a ferramenta foi utilizada.

Como fazer

  • Incluir uma nota no trabalho a indicar: “Utilizei o ChatGPT para brainstorming inicial de ideias”
  • Citar a ferramenta quando se usam informações específicas que ela forneceu
  • Falar com o professor sobre como se utilizou a tecnologia no processo de estudo
página do chatgpt
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Verificar sempre as informações

Um dos maiores perigos da IA é a sua capacidade de gerar informação incorreta com enorme confiança.

O ChatGPT não tem noção de verdade empírica e pode inventar dados para tornar a história coerente. Por isso, os alunos nunca devem confiar cegamente nas respostas.

Passos essenciais

  • Confirmar factos, datas e números em fontes fidedignas
  • Cruzar informações com pelo menos duas fontes diferentes
  • Verificar se as referências bibliográficas sugeridas pela IA existem realmente
  • Consultar livros, artigos académicos e sites oficiais para validar a informação
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Desenvolver competências nos prompts

A forma como se enquadram as instruções tem um impacto profundo na qualidade da resposta. Fazer boas perguntas é uma competência essencial no mundo atual.

Dicas para criar boas perguntas

  • Ser específico: em vez de “Fala-me sobre a Segunda Guerra Mundial”, perguntar “Quais foram as três principais causas económicas da Segunda Guerra Mundial?”
  • Dar contexto: “Sou aluno do 10.º ano e preciso de explicar a fotossíntese de forma simples”
  • Pedir formatos específicos: “Podes dar-me cinco exemplos práticos?”
  • Solicitar diferentes perspetivas: “Quais são os argumentos a favor e contra esta teoria?”
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Usar a IA para o pensamento crítico

Os alunos podem criar perguntas sobre uma temática e utilizar as respostas do ChatGPT como ponto de partida para debates. Em vez de aceitar passivamente a informação, devem questioná-la.

Atividades produtivas.

  • Pedir à IA que apresente argumentos contrários à sua posição
  • Usar a ferramenta para simular debates sobre temas controversos
  • Solicitar que a IA critique o trabalho e aponte falhas no raciocínio
  • Comparar respostas de diferentes perguntas sobre o mesmo tema

O que os alunos devem evitar fazer

É cada vez mais fácil determinar se um trabalho foi feito, ou não, por inteligência artificial. Por isso, evite os comportamentos seguintes.

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Não copiar diretamente textos de IA

Copiar e colar texto gerado por IA sem qualquer modificação ou compreensão é plágio eletrónico. É importante que os estudantes compreendam que devem usar as próprias palavras ao redigir trabalhos, e não simplesmente copiar informações de fontes externas.

Porquê evitar

  • É academicamente desonesto
  • O aluno não aprende nada com o processo
  • Muitas ferramentas conseguem detetar texto gerado por IA
  • Prejudica o desenvolvimento intelectual do próprio estudante
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Não ser a IA a única fonte

A ferramenta não deve ser utilizada como fonte única, já que o trabalho dos educadores ainda é essencial para promover um ensino de qualidade. A IA tem limitações sérias: pode estar desatualizada, ter preconceitos ou simplesmente estar errada.

Alternativas

  • Consultar sempre livros didáticos e material da aula
  • Usar bases de dados académicas e científicas
  • Recorrer a bibliotecas e centros de documentação
  • Falar com professores e colegas sobre os temas
inteligência artificial e chatgpt
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Desenvolver capacidades de escrita

Se os alunos usarem sempre a IA para escrever, nunca desenvolverão a sua própria voz e estilo. A escrita é uma competência fundamental que precisa de prática constante.

O que se pode perder

  • Capacidade de organizar pensamentos de forma coerente
  • Desenvolvimento de vocabulário próprio
  • Habilidade de argumentação pessoal
  • Criatividade e originalidade no pensamento
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Verificar as referências

A IA pode inventar referências bibliográficas que soam credíveis mas não existem. Este é um problema sério que pode comprometer todo um trabalho académico.

Cuidados a ter

  • Verificar se o livro ou artigo citado existe realmente
  • Confirmar se os autores mencionados são reais
  • Procurar as fontes em bases de dados académicas
  • Usar sistemas de citação que se conhecem e compreendem
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IA não substitui aprendizagem

Existe o risco de a ferramenta fazer a atividade sem haver um envolvimento efetivo dos alunos. O objetivo da escola não é apenas obter boas notas, mas desenvolver competências para a vida.

Reflexão importante

  • Que competências está o aluno a desenvolver quando usa a IA?
  • Está a aprender ou apenas a “passar” na disciplina?
  • Como se sentirá quando precisar destas competências no futuro?

ChatGPT e IA: boas práticas de uso responsável

A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa que pode enriquecer enormemente a experiência educativa dos estudantes, mas apenas se for usada de forma ética, transparente e crítica.

Para trabalhos de pesquisa

  1. Usar a IA para encontrar direções de pesquisa iniciais
  2. Recolher informação de fontes primárias e secundárias fidedignas
  3. Analisar e sintetizar a informação com as próprias palavras
  4. Citar todas as fontes, incluindo se se usou IA em alguma fase
  5. Rever o trabalho criticamente antes de entregar

Para estudar para testes

  1. Pedir à IA que crie questões de revisão sobre a matéria
  2. Usar a ferramenta para explicar conceitos que não se compreenderam
  3. Solicitar exemplos práticos e exercícios adicionais
  4. Verificar as respostas com o material do professor
  5. Praticar sem ajuda da IA para testar o conhecimento real

Para trabalhos criativos

  1. Usar a IA para brainstorming e geração de ideias iniciais
  2. Desenvolver as ideias de forma original e pessoal
  3. Manter a voz e o estilo únicos
  4. Adicionar experiências e perspetivas pessoais
  5. Rever e editar o trabalho para garantir autenticidade

E não se esqueça de que as escolas passaram de uma reação instintiva de banir a IA para encorajar e ensinar os alunos a usar melhor essas ferramentas. Esta mudança de atitude reflete uma compreensão importante e a IA não vai desaparecer. Assim sendo, é melhor aprender a usá-la corretamente.

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