Share the post "E se umas simples gotas substituírem os óculos de leitura?"
À medida que se envelhece, muita gente enfrenta um problema comum e inevitável, ou seja, a dificuldade crescente em focar objetos próximos, uma condição conhecida como presbiopia. E começam a surgir os óculos de leitura.
São alterações natural da visão que dificultam atividades tão simples como ler um livro, consultar o telemóvel ou examinar um rótulo no supermercado.
Mas e se existisse uma alternativa mais simples? E se, em vez de óculos, bastasse aplicar umas gotas nos olhos para recuperar a capacidade de ver ao perto com clareza?
É que a mudança pode estar ao virar da esquina.
Óculos de leitura com os dias contados?
Uma investigação inovadora, apresentada no 43.º Congresso da Sociedade Europeia de Cirurgia de Catarata e Refrativa (ESCRS), sugere que esta possibilidade pode estar ao nosso alcance.
O estudo, conduzido pela oftalmologista argentina Giovanna Benozzi, diretora do Centro de Investigação Avançada em Presbiopia de Buenos Aires, demonstrou resultados extraordinários que podem revolucionar o tratamento da presbiopia.
A investigação envolveu 766 pacientes com uma idade média de 55 anos e testou colírios especialmente formulados que combinam duas substâncias fundamentai,: a pilocarpina e o diclofenac.
Esta combinação única foi desenvolvida pelo falecido Dr. Jorge Benozzi, pai da investigadora principal.
Como funciona esta fórmula
A eficácia destes colírios baseia-se na ação sinérgica de dois componentes. desde logo a pilocarpina, fármaco que atua contraindo tanto a pupila como o músculo ciliar do olho, facilitando o processo de focagem em diferentes distâncias. É o ingrediente ativo principal que permite melhorar a visão ao perto.
Depois há o diclofenac, um anti-inflamatório não esteróide que tem como função reduzir o desconforto que frequentemente está associado ao uso da pilocarpina, tornando o tratamento mais tolerável para os pacientes.
Resultados superam expectativas
Os resultados são verdadeiramente impressionantes, dizem os responsáveis pela investigação. Após a aplicação dos colírios, os pacientes experimentaram melhorias quase imediatas na sua capacidade visual.
Em média, conseguiram ler mais três linhas na escala Jaeger apenas uma hora depois da primeira dose, uma melhoria significativa que se traduziu numa maior autonomia visual no dia-a-dia.
Mais notável ainda é a durabilidade dos efeitos. Cerca de 83% dos pacientes mantiveram uma boa visão funcional ao perto ao fim de 12 meses e muitos prolongaram os benefícios até dois anos.
Esta longevidade dos resultados representa uma vantagem considerável face a outras soluções temporárias.
A eficácia variou consoante a concentração utilizada, ou seja, com 1% de pilocarpina, 99% dos pacientes conseguiram ler pelo menos duas linhas adicionais. Com 2% de concentração, 69% dos participantes leram três linhas extra. Finalmente, na concentração de 3%, 84% obtiveram ganhos equivalentes
Segurança e efeitos secundários
Um aspeto crucial de qualquer tratamento médico é a sua segurança, e este estudo demonstrou um perfil de segurança encorajador.
Os efeitos adversos foram, na maioria, ligeiros, como visão temporariamente mais escura (32%), irritação (3,7%) e dor de cabeça (3,8%). Significativamente, nenhum paciente foi obrigado a interromper o tratamento devido aos efeitos secundários.
Contudo, é importante manter uma perspetiva equilibrada. O uso prolongado de pilocarpina pode, em casos raros, causar complicações mais sérias como descolamento da retina.
Adicionalmente, a utilização contínua de anti-inflamatórios tópicos pode representar riscos para a córnea, aspectos que requerem monitorização médica adequada.
Segundo Giovanna Benozzi, “estes resultados demonstram que esta combinação terapêutica é segura, eficaz e bem tolerada, reduzindo de forma significativa a dependência dos óculos de leitura”.
A investigadora destaca que se trata de uma opção não invasiva que pode ser personalizada consoante o grau de presbiopia de cada paciente.
Esta personalização é particularmente valiosa, uma vez que a presbiopia afeta cada pessoa de forma diferente.
Alguns indivíduos desenvolvem dificuldades visuais mais cedo, enquanto outros mantêm uma visão ao perto relativamente boa até idades mais avançadas. A possibilidade de ajustar a concentração do tratamento permite uma abordagem mais precisa e eficaz.
Limitações e perspetivas futuras
Apesar dos resultados encorajadores, é essencial reconhecer as limitações do estudo. A investigação foi realizada num único centro e de forma retrospetiva, o que pode limitar a generalização dos resultados a populações mais amplas e diversificadas.
Os investigadores afirmam de forma clara que os colírios não eliminam totalmente a necessidade de óculos de leitura em todos os casos e não substituem a cirurgia, mas constituem uma solução valiosa para quem procura evitar o desconforto ou os riscos de outros métodos mais invasivos.
Para milhões de pessoas que enfrentam diariamente os desafios da presbiopia, esta investigação representa uma luz ao fundo do túnel. A possibilidade de recuperar a visão ao perto através de um tratamento simples, não invasivo e de longa duração pode ter um impacto transformador na qualidade de vida.
Imagine poder ler um menu num restaurante sem ter de procurar as lentes, consultar o telemóvel com facilidade ou desfrutar de um livro sem a constante preocupação de ter os óculos de leitura sempre à mão…