Há marcas que se reinventam sem perder o pé no chão. A Dacia é uma delas. Depois de conquistar o título de automóvel mais vendido entre particulares na Europa, o Sandero regressa de cara lavada e alma refinada.
O Jogger, por sua vez, confirma o seu papel de aventureiro prático, aquele carro que parece dizer: “leva tudo, vai longe, não compliques.”
Ambos partilham um novo espírito (e uma estética mais ousada) que mostram como a Dacia aprendeu a fazer o essencial… com estilo.
Mas comecemos pelo que salta à vista.
Dacia: olhar novo, presença diferente
A nova assinatura luminosa LED é, talvez, a mudança mais simbólica. Aquele “T” invertido nos faróis (agora ligados por uma grelha pontilhada de branco) é uma espécie de código visual para esta nova fase da marca: robustez, simplicidade, e um toque de modernidade inesperada.
O Sandero parece mais sólido, o Stepway mais destemido, o Jogger mais confiante.
Na traseira, o jogo continua, com as luzes verticais a reforçarem a largura, os ombros parecem mais definidos. Pequenos detalhes fazem a diferença, como a antena tipo barbatana de tubarão, de série a partir da versão Expression, ou a nova cor amarelo âmbar, que parece saída de uma estrada do deserto ao entardecer.
Mas há uma coisa que a Dacia soube preservar e que é a honestidade visual. Nada é gratuito, nada pretende ser mais do que é.
O plástico reciclado Starkle, usado nas proteções da carroçaria, é prova disso, um material inventado pelos engenheiros da marca que dispensa pintura e contém 20% de material reciclado.
Visualmente, as pequenas partículas brancas dão-lhe um ar de granito industrial. Funcional e bonito.

O conforto das pequenas coisas
A Dacia nunca fez do luxo o seu argumento, mas agora sabe jogar no campo da conveniência com elegância. O novo painel de instrumentos adota o mesmo “T” invertido do exterior, criando continuidade visual.
As versões Expression e Journey trazem um tecido azul, ora em ganga, ora em tonalidade escura, que dá calor e textura ao habitáculo.
Os bancos, mais resistentes e ergonómicos, misturam tecidos duráveis com materiais fáceis de limpar. E há um detalhe que diz muito sobre a filosofia Dacia: o sistema YouClip, ou seja, pontos de fixação espalhados pelo interior onde se pode encaixar desde um suporte de telemóvel a um estojo para óculos ou um saco de compras.
O novo ecrã central de 10 polegadas, agora HD, é um salto qualitativo face à geração anterior. O sistema multimédia Media Display ou Media Nav Live, consoante a versão, integra navegação conectada, compatibilidade sem fios com Apple CarPlay e Android Auto e até atualizações remotas de mapas durante oito anos. O painel digital de 7” acrescenta o toque tecnológico que faltava — nítido, intuitivo, agradável à vista.
Ah, e há carregador por indução. Finalmente.
Motores novos, alma de sempre
A grande novidade está sob o capot, com o novo motor Hybrid 155, já disponível no Jogger e previsto para o Sandero Stepway. Junta um bloco a gasolina de 1,8 litros e dois motores elétricos, com uma potência combinada de 155 cv.
A caixa é automática sem embraiagem e um prodígio de suavidade, com o modo 100% elétrico ativo até 80% do tempo.
Para quem prefere a alternativa mais acessível e flexível, o Eco-G 120 (gasolina/GPL) é agora mais potente e, pela primeira vez, disponível com caixa automática de dupla embraiagem. A autonomia combinada (GPL + gasolina) chega a 1.590 km no Sandero e Logan, um número que, por si só, explica metade do sucesso da marca.
E sim, o pequeno TCe 100 sobrealimentado continua lá para quem quer simplicidade e economia. Às vezes, menos é mesmo mais.

Condução e segurança: mais firmeza
Na estrada, o novo Sandero continua fiel à sua promessa de ser sólido, previsível, confortável. O Jogger, mais longo e aventureiro, ganha com o reforço da suspensão e o novo volante, mais espesso, mais ergonómico.
Os novos sistemas de assistência à condução elevam a experiência: travagem automática de emergência, alerta de atenção do condutor, faróis automáticos e até uma câmara multiview que mostra a viatura de cima, facilitando estacionamentos em ruas apertadas.
No fundo, a Dacia está a aproximar-se dos grandes, sem nunca abandonar o seu território, o da inteligência prática.
E a marca conseguiu esta metamorfose sem trair o ADN que a fez crescer. O Sandero e o Jogger não tentam ser premium. Apenas provam que a acessibilidade e a qualidade não são inimigas. Há uma coerência na forma como o design, a tecnologia e a eficiência se unem aqui.
Talvez o segredo seja esse, o de não tentar ser outra coisa. E é isso que o novo Sandero e o Jogger continuam a ensinar: que o automóvel do dia-a-dia ainda pode emocionar, não pelo luxo, mas pela inteligência das escolhas.