Artur Mariano
Artur Mariano
16 Nov, 2018 - 13:19

As dores de crescimento do alojamento local

Artur Mariano

Sendo eu investidor, embora defenda a iniciativa privada no sector, tento chamar a atenção para os problemas do alojamento local.

As dores de crescimento do alojamento local

Sempre que há alterações às leis do alojamento local, existem imensas vozes contra de proprietários que se levantam.

Não há nada que estranhar. Acontece em todos os sectores e sempre que alguma lei vem alterar aquilo que gera rendimento, simplificação ou eficiência.

Só temos é que enquadrar as coisas. O alojamento local tem vindo a crescer de uma forma surreal em Portugal. Aliás, nos últimos dois anos, proporcionalmente, vimos Lisboa crescer mais do que Paris ou Roma, duas cidades tradicionalmente históricas no que diz respeito ao turismo.

As consequências do crescimento do alojamento local em Portugal

As dores de crescimento do alojamento local

Este crescimento provocou “dores”. Aliás, usar a palavra “dores” nalguns casos pode até ser insultuoso, dado que este crescimento provocou algumas histórias de autêntico terror, como despejos de inquilinos idosos que habitavam naquelas casas há décadas, ou casos em que doentes crónicos tiveram que sair das suas habitações de sempre por excesso de barulho durante a noite e lixo (para não dizer vandalismo) à porta de suas casas.

E sendo eu investidor, lidando com várias pessoas e amigos que investem em alojamento local, tenho que tentar chamar a atenção para os problemas do alojamento local junto dessas mesmas pessoas, embora defenda a iniciativa privada no sector (e em geral).

A essas pessoas peço para considerarem os seguintes pontos:

1. Leis que defendam a permanência dos habitantes locais são benéficas, no curto, médio e longo prazo. Bem sei que no momento estas leis podem grandemente limitar os ganhos, mas não fará sentido que se despirmos as cidades de habitantes locais os turistas não queiram mais voltar? É que os turistas querem visitar cidades e países genuínos, conhecer as culturas locais, etc.

2. Não será justo que haja zonas de contenção, exactamente para prevenir que não existam zonas em que a habitação para idosos e habitantes de longa data sejam acauteladas? E que hajam medidas que atenuem a especulação acentuada, em que um jovem estudante tem que pagar 500€ por um quarto?

É claro que não estou a dizer que todas as novas leis são benéficas e que o alojamento local deva ser sufocado só porque estamos a crescer muito rápido. Tenhamos conta, peso e medida.

Por exemplo, enquanto investidor entendo que deve haver limites por zonas e em determinados contextos, mas não defendo particularmente a ideia de haver um limite de número de alojamentos por entidade.

E se é investidor em alojamento local, tem desde já o meu apoio. Houvesse mais iniciativa privada do género, iniciativa que acolhesse bem estrangeiros e renovasse e dinamizasse os imóveis devolutos e em ruínas. E com isso gerar valor, financeiro e não financeiro.

E é claro que os casos de despejos despropositados e injustos não são a regra! Se calhar o leitor é investidor e nunca compactuaria com tal situação, sentindo-se hoje lesado pelas várias imposições que está a sofrer. Eu compreendo o seu lado (muito bem) e em alguns casos está coberto de razão.

Porém, peço apenas à maioria dos proprietários de AL que se coloque no outro lado e que pense no longo termo. Ninguém vai desejar uma cidade onde os locais foram despejados para alojar turistas. Nem mesmo os turistas!

Se quiser saber mais sobre as últimas alterações às leis do alojamento local, pode ver este vídeo, onde explico em detalhe.

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