Quando se pensa em festivais de cinema, imagina-se tapetes vermelhos, salas escuras e cidades grandes. O Periferias faz tudo ao contrário. Desde 2013, este evento instala o cinema onde antes só havia silêncio noturno e ruas de pedra. Este ano, entre 8 e 16 de agosto, volta a fazê-lo com energia redobrada e um tema urgente: a valorização da cultura cigana.
O palco? As localidades fronteiriças do Alentejo e da Extremadura espanhola, muitas delas sem salas de cinema permanentes. O objetivo? Levar cultura onde normalmente ela não chega. E não se trata apenas de exibir filmes. É uma experiência comunitária, sensorial e, vá, um pouco mágica.
Uma homenagem com banda sonora
A edição de 2025 é um tributo direto à riqueza do povo cigano. O festival constrói uma ponte de reconhecimento com uma programação que mistura géneros, geografias e formatos. Entre as 26 longas e documentários exibidos, encontramos histórias que abordam identidade, resistência e herança cultural.
O destaque vai para “Chaplin, espírito cigano”, realizado por Carmen Chaplin, neta do icónico Charlie Chaplin. E também para “A menina da cabra”, um drama sensível sobre amizade e descobertas, e “Entrelaçadas pela interseccionalidade”, que une vozes de mulheres ciganas e migrantes em narrativas entrelaçadas pela luta social.
A música também marca presença com o documentário-concerto “A guitarra flamenca de Yerai Cortés”, premiado nos Goya. E, claro, não faltam atuações ao vivo com raízes ciganas, portuguesas e africanas — como o flamenco puro de Celeste Montes ou o afrobeat de Alberto Mvundi.
Cinema com vista para o Tejo
Sob a curadoria do crítico Rui Pedro Tendinha, o festival apresenta títulos de 15 países. Entre eles, filmes aclamados como “Flow”, vencedor do Óscar® de Animação, e “O último azul”, que abre oficialmente o evento no Castelo de Marvão, com um manifesto cinematográfico sobre envelhecimento e liberdade.
Mas o Periferias vai além da tela, é também um fórum de ideias. O Encontro da Rede de Festivais do Tejo Internacional, por exemplo, discute temas como os direitos culturais, a ação climática e a cooperação transfronteiriça.
Salas ao ar livre e público ao relento
Nada contra poltronas reclináveis, mas há algo de especial em ver cinema ao ar livre, sob as estrelas, numa praça de aldeia. No Periferias, os espaços tornam-se extensões das histórias que se contam: castelos, estações de comboio, largos e igrejas servem de ecrã gigante e de sala improvisada.
O público é variado: há quem venha de propósito de Lisboa ou Madrid, e há quem apenas desça da sua casa para a praça. E todos, miúdos e graúdos, acabam por partilhar a mesma manta de silêncio atento, rasgado por aplausos no fim.
Um festival à prova de GPS
A XIII edição do festival percorre locais como Marvão, Beirã, Valencia de Alcántara, Salorino, La Fontañera, Castelo de Vide, Galegos, Cáceres, Alconchel, Portalegre e Piedras Albas.
Antes da abertura oficial, há extensões programadas desde o início de julho, com sessões em Arronches, Cáceres e Alconchel. Cada paragem tem a sua alma, a sua plateia e a sua história. No site oficial, o programa completo está disponível com horários, trailers e mapas.