Miguel Pinto
Miguel Pinto
16 Dez, 2025 - 14:00

Imigração: entrada de trabalhadores estrangeiros cai 35% num ano

Miguel Pinto

O Banco de Portugal alertou para a queda abrupta da entrada de trabalhadores estrangeiros no país. A imigração está a retroceder?

imigração está a cair

Depois de um período de crescimento sem precedentes da imigração, Portugal parece agora enfrenta agora uma inversão desta tendência.

Uma análise publicada no Boletim Económico de dezembro do Banco de Portugal revela que o saldo migratório de estrangeiros entrou em queda acentuada em 2024, com a situação a agravar-se ao longo deste ano.

Os dados mostram uma dupla preocupação em que não só o número de estrangeiros a entrar em Portugal está em forte declínio, como o número daqueles que abandonam o país duplicou em apenas dois anos.

A evolução mensal do saldo migratório, calculada com base nos registos da Segurança Social, evidencia uma inversão de tendência que pode ter consequências profundas para a economia portuguesa.

Imigração: entradas caem mais de um terço

Segundo a análise do Banco de Portugal, o movimento de entrada de estrangeiros em Portugal registou uma desaceleração considerável no último ano.

Nos primeiros oito meses de 2025, deram entrada no país cerca de 95,2 mil indivíduos estrangeiros registados na Segurança Social, correspondendo a uma média mensal de 11,9 mil pessoas.

Este valor representa uma queda abrupta de 35,4% face ao mesmo período de 2024, quando entraram 147,4 mil novos estrangeiros.

Recuando a 2023, o número de entradas atingiu 175,9 mil indivíduos no mesmo período, equivalente a uma média de 22 mil por mês. A trajetória descendente é evidente, com uma queda de 22 mil para 18,4 mil e agora para 11,9 mil, num movimento de deterioração progressiva.

A segunda metade de 2024 marcou a acentuação desta tendência, com as entradas líquidas a diminuírem para cerca de 7,3 mil indivíduos por mês, em média.

No mesmo período de 2023, esse valor situava-se em cerca de 16,5 mil mensais, o que representa uma redução de mais de metade.

Recorde de saídas acende sinal de alarme

Se as entradas estão em queda livre, as saídas seguem o movimento contrário com intensidade preocupante.

Segundo os dados mais recentes da Segurança Social compilados pelo Banco de Portugal, referentes a 2024, mais de 45 mil estrangeiros deram saída dos registos no ano passado, um aumento de 39,6% face a 2023.

Este crescimento surge na sequência de outro aumento significativo de 41,3% em 2023, comparativamente a 2022. A dimensão do êxodo é acentuada e o número de saídas em 2024 é quase o dobro do registado em 2022 e mais do quádruplo do registado em 2018.

Há sete anos consecutivos que o número de saídas de estrangeiros registados na Segurança Social está a aumentar, sinalizando um problema estrutural que vai muito além de flutuações conjunturais.

Maio de 2023: o ponto de viragem

trabalhadores imigrantes

O Banco de Portugal identificou maio de 2023 como o momento do pico histórico, com 24,9 mil entradas líquidas de indivíduos de nacionalidade estrangeira. A partir daí, o cenário alterou-se radicalmente.

Em maio de 2024, esse número já tinha caído para 22,4 mil indivíduos. Este ano, no mesmo mês, o saldo caiu para 13,1 mil, uma queda de 47% em apenas dois anos.

Esta evolução é determinada essencialmente pela diminuição das entradas, que passaram de cerca de 20 mil na segunda metade de 2023 para cerca de 12 mil no período homólogo seguinte.

Imigração: desafio estrutural para a economia

Este movimento de saída de estrangeiros, muitos deles qualificados e com emprego, representa um desafio estrutural para a economia nacional, que depende cada vez mais da mão de obra imigrante para sustentar o crescimento e compensar o envelhecimento populacional.

Os dados do Banco de Portugal surgem num momento em que o debate público sobre imigração atingiu níveis elevados.

No entanto, a análise económica dos números revela uma realidade complexa e Portugal está, de facto, a perder capacidade de atrair e reter cidadãos estrangeiros.

Metodologia e limitações

A análise do Banco de Portugal baseia-se num indicador construído a partir dos registos administrativos da Segurança Social, que inclui todos os indivíduos que pagam contribuições ou recebem prestações sociais.

A existência de registos ativos fornece uma indicação fiável da presença de um indivíduo no país.

No entanto, o Banco de Portugal reconhece limitações importantes no indicador. Nos meses mais recentes, é difícil distinguir os movimentos permanentes dos temporários, o que implica que as observações mais recentes são mais propensas a revisões.

Para assegurar uma análise robusta, as saídas apenas consideram registos com oito ou mais meses consecutivos de ausência, ou seja, até dezembro de 2024.

A base de dados exclui os indivíduos mais jovens e os mais velhos, sub-representados por serem menos provável que tenham ligação com a Segurança Social, e apenas abrange indivíduos com situação legal regularizada.

Refira-se que a comparação com as estatísticas oficiais do Instituto Nacional de Estatística revela diferenças significativas.

Entre 2011 e 2023, as entradas líquidas acumuladas calculadas com base nos registos da Segurança Social situaram-se em cerca de 830 mil indivíduos, enquanto o INE apurou um saldo migratório acumulado de cerca de 470 mil indivíduos.

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