Cláudia Pereira
Cláudia Pereira
02 Out, 2025 - 18:00

Mercado de trabalho em Portugal: recordes e surpresas no verão

Cláudia Pereira

Em agosto de 2025, Portugal bateu um novo recorde de emprego com mais de 5,26 milhões de trabalhadores, mas a taxa de desemprego subiu para 6,1%. Descubra o que está por trás destes números.

Agosto costuma ser mês de boas notícias para o mercado de trabalho com o sol, o turismo em alta e os empregos sazonais a reforçar as estatísticas. Mas 2025 trouxe uma exceção: o emprego bateu novo recorde, enquanto o desemprego também subiu.

Mais emprego, mais desemprego: o paradoxo de agosto

Segundo o INE, Portugal tinha em agosto 5.265.400 pessoas empregadas. Um máximo histórico. Só em relação a julho, entraram mais 2.100 trabalhadores. Em termos anuais, foram mais 174.700 empregos criados.

No entanto, existe um problema. A taxa de desemprego também cresceu. Subiu 0,1 pontos percentuais face a julho e fixou-se nos 6,1%. Parece um paradoxo, mas a explicação é simples: mais pessoas entraram no mercado de trabalho à procura de emprego, portanto, mais ativos, mais competição, mais desemprego.

Quem sentiu mais o aumento foram sobretudo os homens, com mais 7.300 desempregados (+4,6%). Também os adultos entre os 25 e os 74 anos sentiram o impacto, somando mais 11.100 pessoas sem trabalho (+4,3%). Já os jovens (16-24 anos) escaparam à tendência: menos 3.400 desempregados (-4,5%).

Desemprego regional: o Algarve escapou

Os dados do IEFP mostram que havia 301.638 desempregados registados em agosto. Mais 8.813 do que no mês anterior. Mas nem tudo foi negativo, o Algarve foi a única região a fugir à regra: menos 103 inscritos (-1,1%). No resto do país, a subida foi generalizada, com destaque para o Norte (+4.568) e Lisboa (+2.427).

Em comparação com agosto de 2024, o panorama é mais simpático: menos 11.783 desempregados registados. Lisboa e Vale do Tejo lideraram as descidas anuais, com menos 7.412 pessoas em situação de desemprego.

Salários: recuo sazonal

Quanto ao dinheiro no bolso, julho trouxe uma descida. O salário médio declarado à Segurança Social foi de 1.710,55€, menos 11,8% face a junho. A quebra deve-se sobretudo a efeitos sazonais como o pagamento de subsídios. Em comparação com 2024, houve aumento de 5,2%. Lisboa continua no topo da tabela, com 1.927,02€.

O que significa tudo isto?

Agosto de 2025 quebrou o padrão histórico. Normalmente, o INE e o IEFP divergem: um mostra subida, o outro descida. Este ano, ambos apontaram para mais desemprego. E com força: foi o segundo pior agosto da última década.

O setor dos serviços foi o grande culpado. Mais 6.077 pessoas desempregadas, reflexo da sazonalidade. Fim de contratos de professores e auxiliares em julho, que só voltam a ser recontratados em setembro.

Os números de agosto lembram que nem sempre o verão é sinónimo de boas notícias. E que, mesmo com recordes, o mercado de trabalho continua sensível a ciclos e sazonalidades.

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