Share the post "Novo recorde: Portugal atinge 294,3 mil milhões de euros de dívida pública"
No mês de setembro de 2025, a dívida pública das administrações públicas portuguesas aumentou em cerca de 6 mil milhões de euros, atingindo 294,3 mil milhões de €, o que corresponde a 97,6 % do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Este aumento resulta de emissões líquidas de títulos de dívida por parte do IGCP – Instituto de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública superiores a 6 mil milhões de €, segundo a nota divulgada pelo Banco de Portugal.
Por outro lado, embora os depósitos das administrações públicas tenham aumentado em 10 mil milhões de €, para 39,2 mil milhões de euro, quando se deduzem esses depósitos, a dívida pública “líquida” caiu para 255,2 mil milhões.
O que torna este momento crítico para a dívida pública
Portugal regista dez meses consecutivos de aumento da dívida pública. Esta trajectória persistente levanta preocupações sobre a sustentabilidade das finanças públicas, sobretudo num contexto global de incerteza económica e possível subida das taxas de juro.
Mesmo com a expectativa de uma descida do rácio até ao final do ano, o facto de a dívida bruta se aproximar dos 100 % do PIB coloca o país numa posição vulnerável, especialmente se houver choques externos ou desaceleração económica.
As razões por detrás da subida da dívida pública
Emissões e necessidade de financiamento
O aumento da dívida deve‑se, em grande medida, à necessidade de financiamento para suportar despesas correntes, pagamentos de juros e amortizações. Para garantir liquidez, o IGCP recorreu ao mercado e emitiu novos títulos de dívida. O resultado foi mais dinheiro disponível, mas também um stock de dívida mais volumoso.
Depósitos e a leitura “líquida”
Embora o valor bruto da dívida tenha atingido um novo recorde, os depósitos das administrações públicas também cresceram, ultrapassando os 39 mil milhões de euros. Ao subtrair esse montante, a chamada dívida “líquida” registou até uma ligeira descida. É um dado que não altera o quadro geral, mas permite uma leitura menos alarmista.
Rácio dívida/PIB em alta
O rácio da dívida em relação ao PIB situou‑se nos 97,6 %, um valor elevado e que merece atenção. Ainda assim, com amortizações significativas previstas até ao final do ano, o Governo antecipa uma descida para os 90,2 %. Um alívio possível, mas que depende de vários factores jogarem a favor da economia.
Implicações para a economia e para o cidadão
Para o Estado
Um nível elevado de dívida obriga o Estado a manter uma gestão apertada do financiamento, dos prazos e dos custos associados. Se as taxas de juro subirem ou os mercados se tornarem menos favoráveis, o serviço da dívida poderá ficar mais oneroso e o impacto sente‑se no Orçamento.
Para o cidadão
Para o cidadão comum, uma dívida pública elevada pode traduzir‑se em menos espaço para investimento público, maior pressão fiscal a médio prazo ou eventuais medidas de contenção. Ainda assim, a existência de depósitos acumulados e o calendário previsível de amortizações ajudam a reduzir os riscos imediatos.
Para os mercados
Os mercados financeiros seguem estes dados com atenção redobrada. Um rácio de dívida elevado tende a abalar a confiança dos investidores, pode inflacionar o prémio de risco e acabar por tornar o financiamento futuro mais caro para o Estado e, por arrasto, para todos.
O que esperar daqui para a frente
Portugal enfrenta um nível historicamente elevado de dívida pública, ainda que parcialmente compensado pelos depósitos das administrações públicas. No entanto, a tendência de crescimento contínuo deixa o Estado mais exposto a riscos externos e internos, exigindo uma gestão criteriosa.
Nos próximos meses, o Governo poderá optar por antecipar novas emissões de dívida para aproveitar condições de mercado mais favoráveis. Em paralelo, não estão excluídas medidas de contenção orçamental ou uma reavaliação da despesa pública para reforçar a confiança e manter o equilíbrio.
O cenário poderá melhorar se a economia acelerar, se as amortizações forem significativas e se o serviço da dívida se mantiver sob controlo. Não é um momento para alarmismos, mas sim para vigilância e planeamento. Mais do que olhar apenas para o valor absoluto da dívida, importa compreender a sua estrutura, os compromissos envolvidos e a capacidade de resposta do país.