Piscinas de água quente quebram o gelo na Serra da Estrela

É curioso como, no meio da vastidão gelada, surge um lugar que parece desafiar a lógica. Um refúgio aquecido, quase secreto, onde o ar frio corta a pele mas a água abraça tudo. São piscinas de água quente em plena Serra da Estrela.

O Aquadome, escondido no coração das Caldas de Manteigas, tem qualquer coisa de inesperado. Quase surreal. Como se alguém tivesse decidido que, já que o inverno manda ali, então ao menos que permitisse um gesto de indulgência.

Lá dentro, o tempo amolece. Não há outra maneira de o dizer. Aquele vapor leve que se levanta da superfície das piscinas parece fazer de filtro natural, daqueles que até a alma agradece (e o Instagram, claro).

Fala-se de bem-estar, de “termas reinventadas”, de experiências sensoriais, mas a verdade é mais simples. É um sítio onde o corpo pára e o pensamento desacelera. E, num mundo onde a pressa está sempre a berrar-nos ao ouvido, isso vale ouro.

Piscinas de água quente em plenas termas

À primeira vista, o Aquadome impressiona pelo desenho contemporâneo, todo ele vidro, pedra e luz suave. Nada de ostentação gratuita, apenas aquela arquitetura que não se impõe mas marca presença.

Lá fora, as montanhas. Lá dentro, as piscinas de água quente, várias, com diferentes temperaturas, profundidades, jactos, correntes, efeitos que dão a sensação de se estar num spa alpino… mas sem ter de apanhar um voo.

Não é exagero, mas há momentos em que se acredita genuinamente que a água respira. Talvez seja do contraste térmico ou daquele silêncio que só existe em lugares construídos para desligar.

Às vezes, um grupo de visitantes chega e quebra o sossego num burburinho simpático, outras vezes impera um mutismo quase reverencial, como se a água fosse sagrada. E, de certa forma, é.

Um outro lado da serra

Para quem conhece a Serra da Estrela apenas pelas estradas sinuosas, pelos cumes nevados e pelo inevitável queijo, este lado termal pode parecer um desvio, mas não é.

As Caldas de Manteigas foram, desde o século XIX, um ponto de encontro entre saúde e montanha, um lugar onde se procurava curar reumatismos e confortar o corpo cansado.

O Aquadome pega nessa herança e dá-lhe uma versão moderna, mais estética, mais sensorial, mais preparada para quem gosta de escapadinhas bonitas e fotografias com vapor ao fundo. O circuito interior, com hidromassagens, zonas de jatos cervicais, áreas de flutuação meio zen, é daqueles que não precisam de grande explicação: entra-se, flui-se, sai-se renovado.

Mas é a piscina exterior, aquecida, que rouba o protagonismo. Porque não há muitos lugares no país onde se possa estar mergulhado em água quente enquanto o ar frio belisca o nariz e, ao mesmo tempo, ver a serra ali tão perto, tão crua.

Destino terapêutico

É também este contraste que faz do Aquadome um destino quase terapêutico durante o inverno. Vem-se para aqui fugir ao ritmo cinzento das cidades, respirar ar limpo, sentir o corpo acordar por dentro.

E, num detalhe simpático, o espaço funciona muito bem para famílias, casais, grupos de amigos ou quem simplesmente quer um reset mental rápido. Quem procure complementar a experiência encontra no complexo outros mimos, como massagens, tratamentos inspirados na tradição termal da região, zonas de relaxamento com vista para o vale.

E depois há a derradeira vantagem para qualquer amante de viagens. É um sítio fácil de encaixar num fim de semana pela Serra da Estrela. Pode ser a pausa depois de um trilho, o ponto alto de uma roadtrip ou o motivo principal para subir a Manteigas numa tarde de inverno. O importante é esta certeza: poucas experiências na serra combinam tão bem com o frio como este mergulho quente.