É estranho ao início. Sentar-se no Polestar 4 e perceber que não há óculo traseiro, nada, nem um vislumbre. Apenas um ecrã no lugar do retrovisor. A ausência, curiosamente, grita mais do que muitas presenças.
E é nesse detalhe que se entende a filosofia deste carro, ou seja, um elétrico sueco de sangue escandinavo, mas com vontade de mexer no status quo.
O design é… quase uma contradição assumida. Por fora, linhas afiadas de coupé, cintura larga e baixa, proporções agressivas; por dentro, a serenidade de um SUV familiar, espaço folgado, bancos que parecem mais poltronas minimalistas do que simples assentos.
A marca chama-lhe “aerodinâmica de coupé, espaço de SUV” e, desta vez, o chavão encaixa como uma luva.
Polestar 4: quilómetros de audácia elétrica
Ao volante, é outro campeonato. Na versão Long Range Dual Motor com 400 kW (544 cv), o 0-100 km/h cumpre-se em 3,8 segundos. É daquelas acelerações que deixam o estômago a protestar, mas com uma suavidade quase clínica. Nada de dramas, apenas potência entregue como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Para os mais comedidos, a versão Long Range Single Motor oferece 200 kW (272 cv) e, ainda assim, uma resposta vigorosa.
E depois há a autonomia, esse calcanhar de Aquiles dos elétricos. O Polestar 4 chega a 620 km WLTP em condições ideais, cortesia da bateria de 100 kWh no Dual Motor. No Single Motor pode ir até aos 590 km WLTP.
Claro, em estrada real o número desce, mas ainda assim coloca-o no patamar dos gigantes do segmento. E sim, carrega rápido, até 200 kW em corrente contínua, o que significa cerca de 30 minutos para 10-80%.
Minimalismo nórdico
Curioso é o ambiente a bordo. Minimalismo nórdico levado ao extremo, mas sem cair no vazio estéril. O ecrã central de 15,4’’ domina o tablier, com Google integrado (Maps, Assistente, Play).
O painel de instrumentos digital e o retrovisor-câmara criam aquela sensação de estar num futuro paralelo, mas ainda suficientemente tangível para não parecer ficção científica barata.
E a segurança? É Polestar, não Volvo, mas a herança nota-se. Sistemas avançados de assistência à condução, câmaras em redor, até lidar com autoestrada em modo semi-autónomo. Não é um carro que se limite a transportar. Protege, vigia, quase educa.
(Clique na galeria para ver mais imagens do Polestar 4)
Desportivo e familiar
Na estrada, a suspensão adaptativa filtra irregularidades com um equilíbrio raro: firmeza de carro desportivo, conforto de carro familiar. E há aquele detalhe meio nerd que adorei, a acústica. Vidros laminados, isolamento meticuloso, som do vento quase inexistente. O silêncio aqui não é vazio, é luxo.
Agora, não vamos fingir que é barato. Em Portugal, começa nos 64.900 €, podendo facilmente escalar com pacotes de jantes de 22’’, acabamentos interiores e packs tecnológicos.
Mas o preço é o passaporte para um objeto que não é apenas carro: é manifesto de design e de filosofia automóvel.
Será que vai roubar clientes a outras marcas do mesmo segmento? Talvez. Mas o Polestar 4 não parece estar tão preocupado em copiar. Prefere trilhar caminho próprio, arriscando, como fez ao abdicar do vidro traseiro. E é nesse risco que reside a sua maior força.
No fim, conduzir o Polestar 4 é como experimentar um protótipo que, por milagre, chegou à linha de produção sem cortes. Há algo de ousado, imperfeito até, mas irresistível.
E saio com esta impressão: a Polestar não quer apenas vender carros. Quer redefinir o que esperamos deles, como acontecerá no Polestar 5 que já aí está.