Em Portugal, a ideia de pôr dinheiro de lado para um dia melhor parece, cada vez mais, uma utopia distante. Um estudo da Universidade do Porto revela que a maioria dos portugueses considera que poupar é difícil ou extremamente difícil.
Mas o que está a acontecer nos bastidores desta realidade? E o que significa isto para quem tenta equilibrar contas, sonhos e imprevistos?
Primeiro, há a realidade dos rendimentos. Muitos agregados familiares vivem com orçamentos muito apertados, salários que mal chegam para o dia a dia, despesas fixas em crescendo (energia, habitação, transportes) e pouca margem para o “extra”.
Quando se ganha o suficiente apenas para fazer a “normal”, sobra pouco para o que chamamos de “reserva”. Assim, o reflexo é rápido e quando se aperta, o plano de poupar fica para segundo plano.
Mas não é só isto. Há também a questão da literacia financeira, ou da sua falta. Poupar implica planeamento, saber onde colocar o dinheiro, entender o risco vs retorno, escolher entre depósitos, PPR (Planos Poupança Reforma), etc.
Muitos portugueses sentem-se inseguros ou pouco informados sobre essas opções.
O relatório da Universidade do Porto sugere que entre os jovens e adultos a percepção de “não conseguir” ou “não saber” poupar é largamente partilhada.
Poupança: consumismo é obstáculo
Há um outro problema subjacente e que é a cultura do consumo imediato. No nosso contexto, as facilidades de crédito, as promoções constantes, a pressão social para ter “coisas” e a incerteza futura (emprego, saúde, ambiente) criam um cenário em que “vou gastar agora porque amanhã posso não poder” se torna quase automático.
E quando se gasta para viver decentemente ou para ter conforto, poupar acaba por ficar no plano das boas intenções.
As consequências desta dificuldade são múltiplas. Sem poupança, a vulnerabilidade perante imprevistos aumenta, seja uma despesa inesperada, um problema de saúde ou uma falha no emprego.
Para aqueles que olham para a reforma, o cenário é ainda mais inquietante, uma vez que se hoje não se consegue poupar, como acumular capital para vários anos de vida sem trabalhar? A urgência da reforma complementa-se com esta fragilidade na poupança.
Mecanismos para poupar
Mas há mecanismos que podem ajudar. Por exemplo, começar cedo, mesmo com valores pequenos.
Se o dinheiro que se coloca mês a mês for consistentemente canalizado para produtos de poupança ou investimento (mesmo que modesto), o efeito composto pode fazer diferença ao longo dos anos.
Também é relevante procurar produtos com custos transparentes, entender taxas, escolher bem.
Outras medidas úteis passam por definir um objetivo claro (uma reserva, reforma, educação dos filhos), automatizar o processo (debitar para poupança logo que entrar salário) e rever regularmente a estratégia (o que resulta, o que não resulta).
Mesmo num contexto em que “é difícil”, e o estudo confirma-o, essas acções reduzem a barreira psicológica.