Miguel Pinto
Miguel Pinto
03 Nov, 2025 - 16:00

300 cv de elegância híbrida: testámos o Renault Rafale

Miguel Pinto

Este Renault Rafale 4×4 debita até 300 cavalos e é uma das propostas mais excitantes da marca francesa. Venha conhecer.

Novo Rafale E-Tech 4x4 300 cv

O Renault Rafale E-Tech 4×4 de 300 cv é um SUV-coupé alto de mira, olhar afiado, com aquela mistura pouco comum de tecnologia séria e vontade de estrada que costuma incendiar debates no parque de estacionamento antes do café.

Há dias em que basta um quilómetro para perceber o tom. Neste ensaio bastou meia dúzia de curvas.

Primeiro, a pose. A silhueta coupé alongada, os vincos tensos, os detalhes de assinatura (o teto Solarbay, opacificante, é um mimo geek, passa de translúcido a escuro sem pedir chaves nem cortinas) e um habitáculo moderno sem folclore, dominado pelo openR link com Google integrado.

Tudo útil, nada supérfluo; como se alguém, lá dentro, tivesse dito que chega de distrações, foquemo-nos no que interessa. Não resisto a concordar.

Renault Rafale: entrega total

Põe-se a rodar e entra o capítulo que diferencia o Rafale do pelotão, a mecânica “hyper hybrid” E-Tech plug-in. Há aqui 300 cavalos combinados e tração integral, mas o jeito com que os entrega é o que surpreende e, sim, é diferente.

A potência extra nasce da adição de um motor elétrico no eixo traseiro. Não é um 4×4 “à antiga”, é um 4×4 inteligente, que cola o carro ao asfalto com uma naturalidade quase irritante para quem vem atrás a tentar acompanhar.

Junte-se a isto a direção traseira 4Control Advanced (as rodas de trás viram até 5° em manobras e 1° no mesmo sentido a alta velocidade) e percebe-se por que razão o Rafale parece encolher em estradas de serra. É grande, mas mexe-se pequeno. Um truque bonito e eficaz.

A bateria? Grande para um PHEV, com 22 kWh. Assim, pode usar o Rafale como elétrico puro nas voltas quotidianas, com até 105 km de alcance 100% elétrico em ciclo WLTP (claro, variando com o pé, a temperatura e a orografia; não façamos de conta que não sabemos).

Para muitos percursos urbanos e interurbanos curtos, isto equivale a sair e voltar sem tocar no depósito e quando a carga termina, o sistema passa ao “full hybrid” com a compostura que se espera da engenharia E-Tech. Sem drama, sem soluços.

Sensações únicas

Convém respirar e falar de sensações. Aquele momento dos 50 para 100 km/h, na faixa de ultrapassagem, onde o silêncio elétrico dá a mão ao motor térmico e a caixa multimodo costura tudo num ponto e é aí que o Rafale se mostra.

Há vigor, claro, mas mais do que isso. Há coerência. Não é só ir rápido, é ir certo. A suspensão ativa de leitura de estrada (com lógica preditiva) limpa muito do ruído vertical e impede as oscilações coreográficas que alguns SUVs adoram fazer para parecer que “trabalham”.

Aqui, trabalha-se mas não se mostra; o resultado é aquele conforto que quase passa despercebido, o melhor tipo. E quando a estrada fecha em gancho, a traseira ajuda a apontar o nariz 4Control a fazer magia discreta.

interior do Renault Rafale

Interior “enxuto”

Por dentro, o discurso continua. Ergonomia simples, ecrãs com informação que interessa (não cem submenus para ajustar o nada), materiais que não querem imitar o impossível.

A integração Google do openR link facilita a vida: mapas, voz, apps o ecossistema é familiar, o que reduz o atrito de aprendizagem.

E há o tal Solarbay. Num dia de sol duro, carregamos no comando e o teto escurece, preservando luz ambiente sem forno por cima da cabeça. Pequena coisa? Talvez. Mas são as pequenas coisas que nos fazem escolher a chave, de manhã.

Trunfo na autonomia

“Está bem, mas quanto faz?”, a pergunta chega sempre. A Renault comunica até 105 km em modo elétrico e uma autonomia total que roça os 1000/1100 km consoante versão e condições WLTP.

Não vou jurar fidelidade a números ideais (ninguém devia), mas o que posso dizer é que, em condução realista, a reserva elétrica generosa muda o jogo do dia a dia.

Há ainda a cereja, com a versão Atelier Alpine. Chassis afinado pelos especialistas da Alpine Cars, respostas mais vivas, aquele toque de “carro posto a preceito” que os entusiastas reconhecem nos primeiros metros.

renault 5 elétrico amarelo
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O Renault Rafale não pretende ser um hot-SUV barulhento. Prefere a eficácia elegante, a pressa contida, o ritmo que se mantém curva após curva sem esbaforidos. Honestamente, apanha-nos. E fica.

No fim do dia, o que sobra é uma sensação difícil de sintetizar numa folha de especificações. O Renault Rafale 4×4 de 300 cv é um automóvel que nos deixa escolher o modo de vida sem comprometer o modo de condução.

Cidade elétrica? Fácil. Nacional de fim de tarde com asfalto frio e duas bandas sonoras diferentes (a do motor, a do silêncio)? Também. Estrada molhada, miúdos atrás, bagagens até ao tejadilho? Sim, a tração integral e direção às quatro rodas mantêm o humor do carro no sítio

É um “super-híbrido”, diz a Renault. Eu diria que é um híbrido maduro, com cabeça de engenheiro e alma de viajante. E, às vezes, é mesmo disso que precisamos.

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