Miguel Pinto
Miguel Pinto
20 Nov, 2025 - 15:00

Renault Trafic E-Tech: silencioso, mas não brinca em serviço

Miguel Pinto

Um clássico do trabalho está de regresso, agora em versão 100 por cento elétrica. Venha conhecer o Renault Trafic E-Tech.

novo renault trafic e-tech

Há veículos que nascem para o trabalho e ficam por aí. E depois há o Renault Trafic, que ao longo de quatro décadas se transformou num daqueles objetos de estrada que quase dispensam apresentação.

Agora, na sua versão E-Tech 100% elétrica, o modelo mantém o ADN que o tornou uma ferramenta essencial para frotas ou empresas de distribuição, ao mesmo tempo que o empurra, sem cerimónias, para a mobilidade limpa.

Um equilíbrio complicado. Mas, curiosamente, bem conseguido.

É que as reservas que muitas gente ainda coloca quando se fala em eletrificação vão caindo uma a uma, em especial quando estamos a falar de um carro essencialmente de trabalho.

Renault Trafic Van E-Tech: sólido e avançado

O novo Renault Trafic Van E-Tech não tenta fingir que é um automóvel elétrico futurista de ficção científica. Continua a ser uma carrinha sólida, quadrada, com cara de quem sabe trabalhar.

A diferença está no silêncio, aquele silêncio estranho, quase desconcertante, que só um comercial elétrico consegue ter quando arranca ainda de madrugada numa rua estreita. É aí que se percebe que algo mudou profundamente, e não só na mecânica.

O motor elétrico, com uma potência de 150 kW e um binário de 345 Nm é particularmente eficiente. Pode não impressionar quem vive rodeado de SUV musculados, mas que é mais do que suficiente para o universo real dos profissionais.

Aí, são arranques curtos, cargas pesadas, circulação urbana, manobras apertadas (tem um raio de viragem tão pequeno como o do Clio) e viagens ocasionais em autoestrada. A resposta imediata do motor elétrico ajuda na agilidade, sobretudo carregado.

Baterias e autonomias robusta

Para uma flexibilidade de utilização ideal, o Trafic Van E-Tech elétrico é fornecido com duas opções de bateria: autonomia urbana ou autonomia longa.

Para condutores que percorrem longas distâncias, a bateria de longo alcance com tecnologia NMC (níquel-manganês-cobalto) oferece a maior densidade energética, para uma autonomia máxima de cerca de 450 km WLTP.

Para utilizadores empresariais que trabalham principalmente na cidade, a bateria de autonomia urbana utiliza tecnologia LFP (fosfato de ferro e lítio) sem metais raros, como cobalto ou níquel.

Este modelo combina um preço competitivo, com uma autonomia de quase 350 km WLTP, o que é suficiente para muitos utilizadores empresariais.

Carregamento com tecnologia de 800 V

Além da sua autonomia versátil, as baterias também oferecem a nova tecnologia de carregamento rápido de 800 V. Sendo uma novidade para a Renault, esta funcionalidade facilita a organização do dia a dia dos utilizadores profissionais.

Com um ponto de carregamento rápido CC, a bateria carrega dos 15% aos 80% em cerca de 20 minutos, recuperando 260 km de autonomia.

Renault Trafic Van E-Tech: espaço generoso

O que não mudou, e ainda bem, são as capacidades que fazem do Renaul Trafic um veículo de trabalho a sério. Por isso, a marca francesa garantiu que a transição para o elétrico não sacrificava o espaço.

Na versão L1, oferece uma capacidade de carga de 5,1 m³, para um comprimento de 4,87 m, e uma largura de 1,92 m. A versão L2 apresenta uma capacidade de carga de 5,8 m³, para um comprimento de 5,27 m, e uma distância entre eixos 40 cm mais longa.

Atrás do volante, a experiência é inesperadamente civilizada. A ausência de vibrações torna-se viciante, e a suspensão, afinada para lidar com o peso extra da bateria, consegue um equilíbrio convincente: firme quando precisa, mas sem aquele “salto” desagradável típico dos comerciais vazios.

Em cidade, a condução é mais natural do que se imagina o torque elétrico ajuda na progressão no trânsito, e a direcção assistida, mais leve, transforma um veículo longo num companheiro mais dócil do que muitos carros familiares.

Sistema SDV incorporado: uma revolução na conetividade

O sistema Software Defined Vehicle (SDV) que também surge na Trafic E-Tech representa uma verdadeira viragem tecnológica no sector automóvel. Trata-se de veículos cujo hardware permanece fixo, mas cujo “software” pode evoluir continuamente ao longo do ciclo de vida do automóvel.

Na prática, o SDV assenta numa arquitetura centralizada. Em vez de dezenas de controladores electrónicos espalhados por todo o veículo, há sistemas-centrais
mais potentes, como unidades de computação que processam dados em tempo real.

Isto permite adicionar novas funcionalidades, atualizar sistemas
“over the air” (OTA), melhorar a segurança, integrar aplicações na “nuvem” e personalizar o veículo segundo os hábitos ou o perfil do condutor.

Assim, o sistema SDV traz-nos duas grandes consequências. Primeiro, o valor
residual do carro pode subir ou manter-se mais estável, porque o veículo
“aprende” e melhora com o tempo. Não se torna obsoleto tão rapidamente.

Segundo, os consumidores podem ter acesso a melhorias que antes só
os modelos topo de gama ou versões futuras ofereciam, como assistência
mais avançada, condução mais autónoma ou funcionalidades extra mediante assinatura.

Esta tecnologia permite ainda a integração do ecossistema empresarial
diretamente no sistema multimédia do veículo, abrindo o caminho para
uma configuração digital avançada. Ao colocar ferramentas profissionais
no centro da experiência de condução, o sistema atende às necessidades
específicas dos profissionais.

Para lá dos sistema SDV (ler acima), em termos tecnológicos o interior foi atualizado para fazer jus ao século XXI, com um painel de instrumentos de 10 polegadas e um ecrã central de 12 polegadas, inclinado em direção ao condutor.

Há, ainda, conectividade completa (Apple CarPlay e Android Auto), novos espaços de arrumação e uma ergonomia mais cuidada.

Não há luxo, mas há inteligência. E isso, para quem passa oito horas por dia dentro de uma carrinha, vale ouro.

O Renault Trafic Van E-Tech Elétrico não está aqui para ser estrela mediática nem para ganhar prémios de design. Vem provar algo muito concreto, ou seja, os comerciais elétricos deixaram de ser promessa e tornaram-se realidade funcional.

É uma carrinha elétrica que trabalha como uma carrinha deve trabalhar. E isso, no mundo real, é a maior vitória possível.

Veja também