Share the post "Tarifas de 30% dos EUA: impacto direto na economia europeia"
A política comercial internacional voltou a aquecer. A administração norte-americana, liderada por Donald Trump, anunciou a aplicação de tarifas de 30% sobre as importações da União Europeia, com efeitos a partir de 1 de agosto.
A notícia não só causou inquietação nos mercados, como reacendeu o debate sobre o real impacto destas medidas. Será esta uma jogada estratégica para pressionar negociações ou uma mudança estrutural nas relações económicas transatlânticas?
Exportações em perigo
Num cenário global cada vez mais interligado, os EUA são o maior parceiro comercial da União Europeia, representando aproximadamente um quinto de todas as exportações. Em 2024, a UE vendeu para os EUA bens no valor de 531,6 mil milhões de euros, o que corresponde a quase 3% do PIB da UE.
A aplicação de tarifas mais elevadas pode traduzir-se em preços mais altos para os consumidores americanos e uma quebra acentuada da procura por produtos europeus. E isso, claro, faz soar os alarmes em Bruxelas, Berlim, Dublin e em várias capitais europeias.
Quem são os países mais afetados?
O impacto não será distribuído de forma uniforme, alguns países e setores estão mais expostos que outros. A Alemanha lidera a lista de vulnerabilidade: os EUA absorvem 10% das suas exportações, o que representa 3,7% do PIB alemão. O setor automóvel, em particular, está sob forte pressão — 13% da produção segue para os EUA. E os sinais já estão à vista: só em abril e maio de 2025, as exportações alemãs de automóveis para os EUA caíram 13% e 25%, respetivamente.
A Irlanda também está numa posição delicada. Mais de 53% das suas exportações vão para os EUA, e o setor farmacêutico, que representa 55% do total, é crítico. Aliás, as exportações farmacêuticas para os EUA correspondem a 18% do PIB irlandês. Trump já acenou com uma bomba: tarifas de 200% sobre medicamentos num horizonte de 12 a 24 meses.
Os setores na linha da frente
As áreas mais expostas às novas tarifas são:
- Produtos farmacêuticos (mais de 20% das exportações da UE para os EUA);
- Setor automóvel (cerca de 10%);
- Maquinaria industrial e elétrica (cerca de 12%);
- Maquinaria especializada (5%).
Estas indústrias, fundamentais para várias economias da UE, enfrentam agora um ambiente comercial mais incerto e competitivo.
O que dizem os economistas?
As previsões variam, mas o consenso é que haverá impacto. A Bloomberg Economics estima uma redução de 0,3% no PIB da Zona Euro com tarifas de 10%. Com tarifas de 30%, o impacto pode duplicar. A Goldman Sachs calcula que, mantidas as tarifas até 2026, o PIB da Zona Euro poderá cair até 1,2%.
Outras instituições — como o Parlamento Europeu ou o think tank Bruegel — colocam o impacto entre 0,2% e 0,8%, dependendo da resposta da UE. Não é o fim do mundo, mas também não é uma brincadeira de verão.
Jogo político ou ameaça real?
Muitos analistas olham para este movimento com ceticismo. A Oxford Economics chama-lhe “teatro das tarifas”. Trump tem mudado várias vezes de tom: em abril sugeriu 20%, em maio 50%, e agora fala em 30%. Até escreveu à UE que estaria disposto a recuar nas tarifas, desde que os europeus “abrissem os seus mercados”.
Os mercados parecem partilhar este ceticismo. O euro enfraqueceu ligeiramente, mas não houve pânico, as ações de empresas exportadoras oscilaram, mas sem quedas dramáticas. Por agora, há mais expectativa do que medo.
E a resposta da União Europeia?
Ursula von der Leyen decidiu prorrogar a suspensão das medidas de retaliação até 1 de agosto, afirmando claramente a preferência por uma solução negociada. Mas isso não significa passividade.
A UE já tem na manga várias respostas possíveis. Está pronta para avançar com uma lista de retaliações sobre produtos americanos no valor de 21 mil milhões de euros. Caso a situação se agrave, existe ainda uma segunda lista preparada, que pode atingir os 72 mil milhões.
Também está em cima da mesa o chamado Instrumento de Anti-Coerção (ICA), muitas vezes apelidado de “bazuca comercial da UE”. Este mecanismo permite limitar o acesso de países como os EUA aos contratos públicos europeus, aplicar tarifas retaliatórias e impor restrições ao comércio de serviços e exportações. Não é um brinquedo, é um recado claro de que a UE sabe jogar quando é preciso.