O acesso à habitação continua a ser um dos maiores desafios sociais e económicos em Portugal. Apesar de uma ligeira descida na procura por casas para arrendamento no segundo trimestre de 2025, a pressão sobre o mercado mantém-se intensa.
Segundo dados recentes divulgados pelo portal idealista, cada imóvel anunciado para arrendamento recebeu, em média, 17 contactos, ainda assim um número elevado, que evidencia a escassez de oferta face à procura.
Mas também se verifica um abrandamento no mercado. Comparando com o mesmo período de 2024, os contactos por casa anunciada caíram 45%, passando de 32 para 17.
Esta quebra, segundo o porta-voz do idealista, Ruben Marques, não deve ser interpretada como um desinteresse repentino por parte das famílias. Pelo contrário, reflete um ligeiro aumento na disponibilidade de imóveis para arrendar, num contexto em que os preços continuam a escalar.
As rendas subiram 3,5% no segundo trimestre do ano, o que reforça a percepção de inacessibilidade para grande parte da população portuguesa.
Arrendamento: desigualdade territorial
Os dados revelam também disparidades marcadas entre diferentes regiões do país. Portalegre lidera a lista das cidades com maior número médio de contactos por anúncio (53), seguida de Faro (33), Évora (32) e Ponta Delgada (30).
Estes números sugerem uma procura particularmente elevada em zonas tradicionalmente menos pressionadas, o que pode estar relacionado com a fuga das famílias dos grandes centros urbanos em busca de alternativas mais acessíveis.
Por outro lado, cidades como Porto (8) e Coimbra (7) registaram os valores mais baixos em termos de procura, mas isso deve-se sobretudo a uma quebra abrupta de contactos, respetivamente -62% e -73% em relação ao ano anterior, reflexo talvez da saturação do mercado ou da escassez da oferta em determinadas tipologias.
As capitais de distrito ressentem-se
Em 18 capitais de distrito verificou-se uma diminuição da média de contactos por anúncio.
Para além de Coimbra e Porto, destacam-se Viseu (-56%), Bragança (-51%) e Lisboa (-49%). Esta tendência indica que, mesmo nas cidades onde historicamente a procura é elevada, há sinais claros de disfunção no mercado de arrendamento.
Uma exceção digna de nota é a Guarda, que registou um aumento de 40% nos contactos, sugerindo um novo dinamismo local ou maior atratividade do mercado. O Funchal também apresentou um crescimento modesto (+7%).
Habitação: um bem cada vez mais inacessível
Estes dados reforçam a perceção generalizada de que o acesso à habitação, nomeadamente através do arrendamento, continua extremamente difícil para a maioria dos portugueses.
As rendas mantêm-se altas, especialmente nas áreas metropolitanas, ao passo que os salários permanecem estagnados, criando uma clivagem profunda entre a oferta disponível e a capacidade económica das famílias.
O mercado imobiliário nacional parece estar num ponto crítico, exigindo uma resposta urgente por parte das autoridades, seja através da regulação de preços, do aumento da oferta pública de habitação, ou de incentivos ao arrendamento acessível.
Sem uma intervenção eficaz, o direito à habitação continuará a ser, para muitos, uma miragem.