Cláudia Pereira
Cláudia Pereira
16 Mai, 2025 - 16:30

Como são contados os votos? Entenda o Método de Hondt em Portugal

Cláudia Pereira

Saiba como funciona o método de Hondt em Portugal e como os votos são transformados em lugares no Parlamento. Entenda o processo de forma simples e direta.

Nas eleições legislativas portuguesas, votar é só o começo. Depois disso, entra em cena o método de Hondt, o sistema usado para converter votos em lugares no Parlamento. Parece complicado? Não é. Vamos explicar.

O que é o método de Hondt?

É um sistema matemático de representação proporcional usado para distribuir os lugares no Parlamento. O objetivo? Que os lugares reflitam o número de votos de forma proporcional. Foi criado por Victor D’Hondt, um jurista belga do século XIX, e é usado em vários países da Europa. Em Portugal, é aplicado nas eleições legislativas, autárquicas e europeias.

O método de Hondt favorece partidos com mais votos, sem excluir os mais pequenos. É uma forma de garantir proporcionalidade com governabilidade. Não é perfeito, mas tem sido eficaz. Existem desvantagens: os partidos pequenos podem ficar sem representação, mesmo com percentagens significativas de votos. Isso gera críticas, mas é um equilíbrio entre eficiência e diversidade política.

É aqui que entra o voto útil. Muitos eleitores votam num partido maior para evitar desperdiçar o voto. O método de Hondt, ao não ser linear, incentiva este comportamento.

Como o método de Hondt funciona na prática?

Portugal está dividido em zonas chamadas círculos eleitorais. Cada uma dessas zonas escolhe um certo número de deputados, consoante o número de pessoas que lá vive. Os partidos políticos apresentam listas de candidatos para cada zona. Depois das pessoas votarem, começa a contagem.

Como se transformam os votos em lugares?

  1. Vê-se quantos votos cada partido recebeu numa zona.
  2. Esse número de votos é dividido por 1, depois por 2, depois por 3, e por aí fora, até chegar ao número de deputados a eleger nessa zona.
  3. Todos esses resultados são postos numa lista, do maior para o menor.
  4. Os lugares vão para os partidos com os maiores resultados.

Se, por exemplo, numa zona se escolhem 5 deputados, os 5 maiores resultados ficam com esses lugares. E assim se decide quem vai para o Parlamento.

Exemplo prático do método de Hondt

Imagine que há 3 partidos a concorrer numa zona onde se elegem 5 deputados. Estes foram os votos:

  • Partido A: 10.000 votos
  • Partido B: 6.000 votos
  • Partido C: 4.000 votos

Agora aplicamos o método de Hondt. Vamos dividir os votos de cada partido por 1, 2, 3, etc., até termos pelo menos 5 resultados para analisar:

Partido÷1÷2÷3÷4÷5
A10.0005.0003.3332.5002.000
B6.0003.0002.0001.5001.200
C4.0002.0001.3331.000800
Método de Hondt.

De seguida escolhem-se os 5 maiores valores da tabela e chega-se ao resultado final:

  1. 10.000 (Partido A)
  2. 6.000 (Partido B)
  3. 5.000 (Partido A)
  4. 4.000 (Partido C)
  5. 3.333 (Partido A)

Resultado final

  • Partido A: 3 deputados
  • Partido B: 1 deputado
  • Partido C: 1 deputado

O que interessa reter

O método de Hondt pode parecer um puzzle matemático, mas tem uma lógica simples: transformar votos em lugares de forma proporcional. Ajuda a garantir que o Parlamento reflete, de forma geral, a vontade dos eleitores.

Não é um sistema perfeito. Favorece os maiores, complica a vida aos pequenos e incentiva o voto estratégico. Mas, até agora, tem cumprido o papel: dar voz à maioria, sem calar completamente as minorias.

Em democracia, cada voto conta. E mesmo que o processo pareça um pouco técnico, entender como funciona é meio caminho andado para votar com consciência. Afinal, não basta pôr o boletim na urna. É bom saber o que acontece depois.

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