Se há um momento em que Guimarães se transforma completamente, é durante as Festas Nicolinas. Até 7 de dezembro, a cidade berço de Portugal pulsa ao ritmo dos bombos e caixas, numa celebração única que une gerações de estudantes numa homenagem vibrante a São Nicolau, o padroeiro dos estudantes.
As Nicolinas são muito mais do que festas académicas, são um fenómeno cultural profundamente enraizado na identidade vimaranense. Com a primeira referência documentada em 1664, ano da construção da Capela de São Nicolau em Guimarães, estas celebrações atravessaram séculos mantendo viva uma tradição que já teve altos e baixos, mas que hoje regressa anualmente com uma força impressionante.
As festas estudantis vimaranenses constituem uma das tradições académicas mais antigas do país, a par das coimbrãs, com uma particularidade de contar com a participação conjunta de jovens estudantes e antigos nicolinos, criando uma ponte entre gerações.
A magia já começou, no passado dia 29 de novembro, com o Cortejo do Pinheiro. Mas há muito mais animação para que rumar ao Minho seja uma aposta ganha este Natal.
Nicolinas: um calendário de emoções
As Nicolinas são compostas por vários momentos, cada um com o seu simbolismo e tradição. Escolha a que quer participar ou, melhor ainda, vá a todas.
Posses e Magusto (4 de dezembro). Os estudantes recolhem ofertas pela cidade, essencialmente castanhas e vinho, que depois partilham com toda a população num grande magusto junto ao Pinheiro. É um momento de convívio genuíno, onde a festa se abre verdadeiramente a todos.
Pregão (5 de dezembro). Um texto satírico e retórico em verso, declamado pelo Pregoeiro em cinco locais nobres da cidade, onde se faz crítica social, se evocam os clássicos e se exaltam os símbolos locais e nacionais. É um documento vivo da sociedade contemporânea, uma crónica humorística do ano que passou.
Roubalheiras: Uma tradição polémica e divertida, inspirada nos antigos costumes rurais minhotos. Durante a noite, os estudantes “desviam” objetos variados que depois aparecem depositados no Largo do Toural, sempre com um bilhete explicativo. É uma brincadeira organizada que faz parte da irreverência estudantil.
Maçãzinhas (6 de dezembro). O número mais romântico das Nicolinas. Neste momento de clara inspiração romântica, as raparigas aguardam nas varandas e janelas da Praça de Santiago enquanto os rapazes desfilam em carros alegóricos, oferecendo maçãs e fitas coloridas num ritual de galanteio que mantém intacto o seu encanto apesar dos tempos modernos.
Danças de São Nicolau (6 de dezembro, 21h30). Realizadas no Centro Cultural Vila Flor, são um momento solene e festivo que celebra o dia do santo padroeiro, fechando em grande as atividades principais.
Viver as Nicolinas é uma experiência imperdível

Para quem visita Guimarães durante este período, as Nicolinas são uma imersão total na cultura popular portuguesa.
As ruas do centro histórico, já de si deslumbrantes com a sua arquitetura medieval, ganham uma nova vida, preenchidas por estudantes mascarados, pelo rufar constante dos bombos, pelas decorações coloridas e por uma energia contagiante.
A maioria das atividades é de acesso livre, permitindo que qualquer pessoa se junte à celebração.
É comum ver turistas e visitantes surpreendidos pela intensidade da festa, pela forma como toda uma cidade se transforma e participa ativamente nesta tradição estudantil.
Património a preservar
Nos últimos tempos tem vindo a ser defendida a candidatura das Festas Nicolinas a Património Oral e Imaterial da Humanidade, reconhecimento que faria jus a uma tradição que consegue, ano após ano, manter-se vibrante e relevante, adaptando-se aos novos tempos sem perder a sua essência.
As Nicolinas são, no fundo, muito mais do que festas. São memória coletiva, identidade cultural, celebração da juventude e da comunidade.
São o momento em que Guimarães se torna ainda mais Guimarães, numa explosão de tradição, irreverência e emoção que atravessa gerações.