Share the post "Entre a lama e o asfalto: pick-up Foton mostra tudo o que vale"
A primeiro a imagem é uma manhã húmida, pinheiros a pingar resina e um trilho que começa suave e, sem pedir licença, vira escadaria de pedra. A Foton Tunland G7 olha para isto como quem diz “vamos a isso” e engrena o modo 4×4 com a naturalidade de quem foi feito para tal.
O resto é binário, tato e alguma paciência. Depois, já em asfalto, 70 km de curvas largas e piso remendado. Aqui, a história é outra, com conforto, ruído a bordo, caixa automática a marcar o pulso. Dois mundos e uma máquina a fazer de ponte.
Debaixo do capot está o conhecido 2.0 turbodiesel de 163 cv e 390 Nm, que não promete milagres, mas entrega o que interessa. Falamos de uma força disponível cedo e sustentada, ideal para subidas de baixa velocidade ou reboque pesado ( uns notáveis 3.000 kg rebocáveis com travão).
Em estrada, não impressiona pela rapidez absoluta, impressiona pela consistência. Carregado de gente, ferramentas e aquela teimosia que os trabalhos de campo exigem, a G7 não perde compostura.
E quando o caminho aperta, há o resto do arsenal, com uma tração 4×4, bloqueio de diferencial mecânico, HAC e DAC para ajudar em arranques a pique e descidas mais manhosas. Tudo de série no espírito utilitário certo.
Foton
O terreno molhado é um bom professor. Com 210 mm de altura livre ao solo, ângulo de aproximação de 28° e ângulo de saída de 19°, a pick-up sobe valas, cruza regos e salta lombas com menos raspadelas do que se imagina olhando para o tamanho.
A suspensão dianteira independente de duplo braço triangular aponta o nariz com precisão surpreendente para o segmento. Atrás, as molas de lâminas lembram-nos que esta Foton nasceu para carregar e durar, não para fazer tempos em circuito.
Em todo-o-terreno rápido, esse eixo traseiro mais rijo pede ritmo redondo, mas compensa na robustez quando a caixa vai cheia. É uma troca honesta.
Muda-se o cenário. Estrada nacional, 90 a 110 km/h, longas ligações entre vilas. Aqui a caixa automática de 8 velocidades revela o seu melhor: escalonamento longo, rotações contidas, aquele deslizar que evita cansaço e poupa gasóleo.
Não é uma transmissão desportiva, nem precisa de ser. É, antes, uma companheira sensata, que raramente hesita e sabe segurar relação em subidas continuadas.
Para quem prefere pedais e engrenagens, há uma manual de 6 disponível, mas a lógica da G7 pede o conforto da automática na maior parte dos dias.

Filosofia “musculada”
Por fora, a filosofia é “sem gritos, com presença”, consubstanciada numas mgenerosas medidas de 5.340 x 1.940 x 1.870 mm, pneus 265/60 R18 e uma caixa de carga de 1.520 x 1.580 x 440 mm que engole paletes e tralha agrícola sem fazer perguntas.
A carga útil anunciada é em redor dos 900 kg, número realista numa plataforma com peso bruto de 2.980 kg. Nas manobras apertadas, os sensores dianteiros e traseiros e a câmara 360º evitam toques em pilares e muros que surgem sempre onde não deviam. Pequenas vitórias do dia a dia.
Interior funcional
Dentro, a história é outra vez mista, ou seja, funcionalidade com polimento suficiente para vida familiar.
O ecrã central de 10,25” (com ligação a smartphone e câmara de marcha-atrás), o painel de 7”, o ar condicionado automático com filtro PM2.5, os bancos dianteiros aquecidos e o travão de estacionamento elétrico na versão automática colocam a G7 no presente.
O volante tem comandos iluminados, cruise control, muito arrumação útil e seis colunas. E sim, a chave inteligente e o acesso sem chave fazem diferença quando temos as mãos ocupadas com material.
Em termos de segurança, a lista é convincente e integra, entre outras coisas, ESP com ABS/EBD/EBA, monitorização da pressão dos pneus, alerta de colisão frontal, deteção de ângulo morto ou alerta de fadiga.
Há ainda airbags frontais, laterais e de cortina, e reforços discretos (placas inferiores de proteção para motor e depósito) que contam muito quando a rota teima em passar por um caminho que já foi melhor.
Não é um exército de radares de luxo, é um conjunto coerente para quem vive entre obra, estaleiro e autoestrada.

Foton: pronta para o trabalho
E o que dizer em termos de consumos? A marca indica 7,8 a 12,2 l/100 km (WLTP combinado), com emissões entre 200 e 290 g/km. Em uso real, estes números variam com peso, vento, pressa e, claro, com a percentagem de fora de estrada envolvida.
A aerodinâmica de uma pick-up não ajuda a fazer milagres, mas a caixa longa e o binário disponível permitem números honestos numa condução sem exageros. É uma viatura que recompensa regularidade mais do que pé pesado.
A Foton Tunland G7 Diesel AT transmite aquela confiança tranquila de ferramenta bem escolhida. Não faz fita, faz o trabalho. A direção não é cirúrgica como num SUV de estrada, mas comunica o suficiente e evita surpresas em piso irregular.
Os faróis LED iluminam com largura e alcance aceitáveis (úteis em ligações noturnas por serra) e quando a chuva engrossa, o conjunto de ajudas eletrónicas entra silencioso, sem assustar o condutor, a segurar a trajetória e com travagens de boa previsibilidade.
Falhas? Claro que as há. Nenhuma pick-up vence as leis da física e em paralelo maltratado, e sem carga, a traseira pode tremer. Com peso atrás, melhora muito e assenta como deve.
O isolamento acústico é competente, mas não esconde totalmente rugosidade de piso. E a ergonomia, apesar de globalmente boa, podia oferecer mais ajustes finos de banco e volante para condutores mais altos. Mas nada que estrague a experiência.
A Foton Tunland G7 Diesel AT é uma pick-up honesta, musculada onde interessa e moderna o suficiente para não cansar em estrada. Cumpre o papel de parceira de trabalho e de escapadinha ao monte ao fim de semana. E o preço também é de combate. Começa nos 41 mil euros.
É um carro que não quer ser mais do que é e ainda bem. Porque quando a lama seca e a semana recomeça, o que precisamos é precisamente disto, um veículo que acorda cedo, faz-se à vida e volta inteiro.