Share the post "Festas de Santo António em Lisboa: o coração popular da cidade"
Santo António nasceu em Lisboa, no século XII, com o nome Fernando de Bulhões. Frade franciscano, ficou célebre pelos seus sermões e pelas causas sociais que apoiava. Tornou-se padroeiro dos casamentos e dos mais humildes — apelido-lhe “casamenteiro oficial” de Lisboa.
Arraiais nos bairros de Lisboa
Durante todo o mês de junho, os bairros históricos acendem as luzes e decoram-se com balões, manjericos com quadras divertidas. Sardinhas na brasa, bifanas, sangria, caldo-verde e música popular não podem faltar. Estes são os mais emblemáticos:
- Arraial de Alfama – ativo em diversos fins-de-semana desde 30 de maio até ao fim do mês de junho;
- Arraial da Vila Berta – entre 31 de maio e 12 de junho;
- Arraial em Santos – de 16 de maio até 15 de junho;
- Arraial da Praça da Alegria – de 26 de maio a 22 de junho, no coração do bairro Santos-Antonio;
- Arraial de São Miguel (Alfama) – durante todo o mês, com música ao vivo aos fins de semana;
- Arraial da Misericórdia (Bairro Alto) – no miradouro de São Pedro de Alcântara, de 30 de maio a 29 de junho;
- Arraial dos Navegantes – no Parque das Nações, entre 6 e 8 de junho;
- Arraial de São Vicente (Graça) – de 5 a 13 de junho, no Largo da Graça;
- Grande arraial de Benfica – de 19 a 22 de junho na Alameda Padre Álvaro Proença;
- Outros bairros em festa: Avenidas Novas, Campolide, Alvalade, Belém e Campo de Ourique apresentam grandes eventos populares.
Marchas populares
No dia 12 de junho, pelos 20h30, realiza-se a célebre Grande Marcha de Santo António, pela Avenida da Liberdade (Marquês de Pombal → Rossio). Também participam Alfama, Bica, Bairro Alto, Mouraria, Graça, Castelo, Carnide, Marvila e Alcântara, num desfile comparável ao carnaval — com música, cor e figurinos trabalhados. Na véspera, muitos grupos fazem ensaios em locais como a Altice Arena e o Centro Cultural Dr. Magalhães Lima (Alfama).
Casamentos de Santo António
A 12 de junho, véspera do feriado municipal, Lisboa celebra uma das suas tradições mais queridas: os Casamentos de Santo António. São cerimónias colectivas, organizadas pela Câmara Municipal de Lisboa, que juntam dezenas de casais que dizem o “sim” com o apoio da cidade inteira.
A tradição remonta a 1958, quando foram promovidos os primeiros casamentos patrocinados, como forma de apoiar jovens lisboetas com dificuldades económicas. A iniciativa foi interrompida durante algum tempo, mas voltou em força nos anos 90 e nunca mais parou.
A cerimónia decorre habitualmente na Sé Catedral de Lisboa, com pompa e emoção, ou nos Paços do Concelho. Depois segue-se o desfile dos noivos pela cidade, muitas vezes em carro aberto, a acenar ao povo que os aplaude como verdadeiras estrelas da festa.
Além do matrimónio, os casais recebem o tradicional “enxoval” com ofertas de marcas e entidades parceiras. E, claro, o apoio logístico: vestido, fato, flores, cabeleireiro e até lua-de-mel, tudo tratado pela autarquia. Os escolhidos vivem um dia que nunca mais esquecerão — com Santo António como padrinho e Lisboa como testemunha.
Procissão de Santo António
Na tarde do dia 13 de junho, Lisboa abranda o ritmo para a procissão de Santo António. Parte da Igreja de Santo António, mesmo ao lado da Sé de Lisboa, onde se acredita que o santo terá nascido. O percurso segue pelas ruas estreitas da zona histórica, passando por locais ligados à vida e culto do santo. Fiéis, curiosos e turistas acompanham o andor decorado com flores, ladeado por escuteiros, irmãos da confraria e músicos.
Há paragens para leituras e preces. Os sinos tocam e o cheiro a incenso mistura-se com o aroma dos manjericos ainda frescos do dia anterior. É uma celebração sentida, com forte carga emocional e ligação à identidade lisboeta.
Apesar do ambiente festivo dos arraiais, este é um tempo de recolhimento. Um equilíbrio entre o sagrado e o profano, como só Lisboa sabe fazer.
Por que se celebra o Santo António?
No dia 13 de junho, assinala-se a morte de Santo António, em 1231, em Pádua. Mas Lisboa nunca o esqueceu como “filho da terra”, a ligação de Santo António à capital portuguesa é pessoal e profunda.
A festa mistura devoção com a típica alegria lisboeta. A vertente religiosa vive-se nas igrejas, procissões e nos tradicionais casamentos de Santo António. A secular, nos arraiais, nas sardinhas, nas marchas e nos bairros iluminados.
O mês de junho transforma-se num ritual de pertença. É quando os lisboetas saem à rua, voltam aos bairros de origem e convivem com vizinhos, amigos e desconhecidos. É tradição com sabor a verão. O dia 13 de junho é o ponto alto: feriado municipal, celebração litúrgica e, acima de tudo, um símbolo de identidade.