Há automóveis que desafiam a imaginação. Outros que redefinem o que entendemos por tecnologia, engenharia e exclusividade. O Mercedes-AMG ONE pertence a essa elite que vive algures entre a pista e o impossível.
Com apenas 275 unidades produzidas para todo o mundo e um preço que ultrapassa 2,5 milhões de euros (antes de impostos), este é o culminar de meio século de obsessão pela performance. E Portugal acaba de recebê-lo pela primeira vez.
A Sociedade Comercial C. Santos, representante da Mercedes-Benz em Portugal, foi a responsável por trazer o AMG ONE ao nosso país.
E não se trata apenas de mais um supercarro, mas sim do primeiro e único exemplar português de um automóvel que transpõe, com rigor quase científico, a tecnologia da Fórmula 1 para o quotidiano (ou, pelo menos, para o asfalto público).
Mercedes-AMG One: um Fórmula 1 legalizado
Apresentado pela primeira vez em 2017, o projeto do AMG ONE enfrentou uma longa gestação. Foram mais de cinco anos até à primeira unidade sair da linha de montagem em 2023.
O motivo é simples: transformar um monolugar de Fórmula 1 num automóvel de estrada exige um nível de precisão e complexidade que roça o impossível.
No coração desta máquina pulsa um motor V6 turbo de 1,6 litros, derivado diretamente do bloco utilizado pelos monolugares da Mercedes-AMG PETRONAS F1 Team de 2015.
A ele juntam-se quatro motores elétricos, numa cadeia cinemática híbrida E PERFORMANCE construída pelos mesmos especialistas de Brixworth, no Reino Unido, os guardiões da tecnologia que levou Lewis Hamilton e a Mercedes ao topo da Fórmula 1 moderna.
O resultado é uma sinfonia de potência: 1.063 cv no total, distribuídos por um sistema que combina combustão e eletricidade como nunca antes visto num veículo homologado para estrada.
O motor térmico, montado em posição central traseira, produz 574 cv às 9.000 rpm, e só cede fôlego ao limitador às 11.000 rpm.
Os motores elétricos acrescentam mais 611 cv, com um deles integrado no turbocompressor (para eliminar o atraso de resposta), outro na cambota, e dois no eixo dianteiro, responsáveis pela tração integral.
O desempenho é, como seria de esperar, brutal: 0-100 km/h em 2,9 segundos, 0-200 km/h em 7 segundos e 0-300 km/h em apenas 15,6 segundos, antes de atingir uma velocidade máxima limitada eletronicamente a 352 km/h.
Mas mais do que números, o AMG ONE oferece uma sensação quase irreal, uma transferência direta da filosofia e da resposta de um carro de competição para o domínio público.
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Inteligência mecânica
A sofisticação técnica do ONE não termina na potência. A cadeia híbrida plug-in, com autonomia elétrica até 18 km, possui múltiplas estratégias inteligentes de funcionamento, adaptadas a diferentes contextos.
O condutor pode alternar entre modos que vão do silêncio absoluto de um funcionamento puramente elétrico a uma configuração “STRAT 2”, inspirada nos modos de qualificação da Fórmula 1.
Neste modo, toda a potência é libertada, a suspensão baixa, e o carro transforma-se, literalmente, num protótipo de pista com matrícula.
A transmissão manual automatizada de sete velocidades utiliza uma embraiagem de corrida de carbono com quatro discos, garantindo trocas fulgurantes e comunicação direta com o condutor.
Mesmo o turbocompressor elétrico é controlado com a precisão de um engenheiro de box, eliminando completamente o “turbo lag” e assegurando uma resposta instantânea em qualquer regime.
Espetáculo em repouso
Mesmo parado, o AMG ONE é um exercício de fascínio. O ritual de ignição, que exige uma sequência de passos específica, a elevação da carroçaria e dos ailerons de refrigeração, a geometria aerodinâmica que se transforma diante dos olhos de quem observa.
É, literalmente, uma máquina viva, uma criatura mecânica em repouso, pronta a devorar o ar.
O design mistura brutalidade e elegância. O capot baixo, a asa traseira ativa e as grelhas de ventilação móveis são mais do que elementos visuais, são parte integrante de um sistema que gere fluxos de ar com precisão milimétrica.
O resultado é uma silhueta que parece saída diretamente de uma box da Mercedes-AMG, mas domesticada o suficiente para circular nas avenidas de Lisboa ou no circuito de Portimão, se o proprietário tiver coragem.
Mercedes AMG-One: da Grã-Bretanha ao Porto
A produção artesanal do AMG ONE decorre em Coventry, no Reino Unido, onde cada unidade é montada por equipas especializadas em processos inspirados na construção aeronáutica.
Não há linha de montagem tradicional. Cada automóvel é tratado como uma peça de arte mecânica, passando por estações manuais de afinação e testes.
Em Portugal, a unidade apresentada pela C. Santos não ficará escondida. A marca confirmou que o modelo será exibido, sob fortes medidas de segurança, no Salão Automóvel Híbrido e Elétrico do Porto, entre 17 e 19 de outubro, na Alfândega do Porto.
O público poderá assim, pela primeira vez, aproximar-se de um dos automóveis mais exclusivos e tecnicamente avançados alguma vez criados.
A perfeição como destino
O Mercedes-AMG ONE é mais do que um carro, é a materialização de um sonho coletivo que passa por unir a eficiência elétrica à herança mais pura do desporto automóvel. É um lembrete de que a engenharia ainda pode emocionar, surpreender e até intimidar.
Pinho da Costa, administrador-delegado da Sociedade Comercial C. Santos, empresa que em 2026 celebra 80 anos de vida, lembrou que “ser o único concessionário português a comercializar um automóvel raro como o Mercedes-AMG ONE e mostrá-lo em primeira mão é motivo de orgulho”.
O mesmo orgulho do feliz proprietário de um carro com este motor. Feliz não apenas pelo barulho de um V6, mas por estar a ouvir o eco distante de uma era em que a velocidade era uma forma de arte.