Miguel Pinto
Miguel Pinto
13 Nov, 2025 - 13:00

Acabou o penny. E o futuro das moedas de 1 e 2 cêntimos na UE?

Miguel Pinto

Os americanos acabaram com o histórico penny. E o debate na Europa sobre as moedas de 1 e 2 cêntimos continua em aberto.

moedas de um e dois cêntimos

A ideia de que estamos mesmo a dizer “até logo” às moedas de 1 e 2 cêntimos na zona euro já não é ficção ou curiosidade de economista: vários países europeus implementaram ou estão a avançar para eliminar estas pequenas moedas.

Muito especialistas defendem que estas moedas deixaram de fazer sentido e que não devem continuar em circulação.

Por outro lado, nos Estados Unidos um fenómeno semelhante está em curso, com o fim da produção da moeda de 1 cent (penny).

O que se vai passar num futuro próximo na Europa quais os impactos e o que poderá significar para nós em Portugal?

Moedas: o que está a mudar na Europa

Na zona euro, as moedas de 1 e 2 cêntimos surgiram originalmente para garantir que, aquando da introdução do euro, os valores poderiam ser cotados com a precisão possível.

Mas com o tempo verificou-se que essas moedas circulam de forma muito reduzida, muitos terminais evitam-nos, as pessoas acumulam-nos e não os usam sequer.

Um relatório da Comissão Europeia e várias autoridades monetárias apontam que produzir e gerir estas moedas custa mais do que o próprio valor que têm.

Alguns países deram passos concretos. A Estónia, por exemplo, aprovou regras de arredondamento para pagamentos em numerário, de modo que as somas finais sejam ajustadas ao múltiplo de cinco cêntimos, e ao mesmo tempo deixou de colocar em circulação novas moedas de 1 e 2 cêntimos.

Uma sondagem Eurobarómetro mostrou que cerca de 64 % dos cidadãos da zona euro apoiam o fim destas moedas ou pelo menos a obrigatoriedade de arredondamento.

Em termos práticos, em muitos países que adoptaram estas medidas, as moedas de 1 e 2 cêntimos continuam a ser aceites, embora a produção seja quase irrelevante.

O paralelo nos Estados Unidos

Nos EUA, a discussão sobre eliminar a moeda local de 1 cêntimo (o penny) já tem muitos anos. Uma das razões principais referidas é que custa muito mais produzi-la do que o valor dela.

Em 2024, a produção de cada penny custou cerca de 3,7 cêntimos, e o governo estimou que deixar de os produzir poderia poupar dezenas de milhões de dólares por ano.

Além disso, o Departamento do Tesouro anunciou que a última encomenda de blanks para penny foi feita este ano e foi mesmo a última.

Claro que isso não significa que os pennies que já existem deixem de valer. Continuam em circulação como moeda legal. Mas a mudança põe em causa muitos aspetos práticos.

Assim, quando se vai pagar em numerário, passar-se-á a arredondar os montantes para o nickel (5 cêntimos equivalente), o que vai mexer com hábitos de troco, de preços e de estruturas de pagamento no retalho.

moeda de penny americano

E em Portugal, o que poderá significar?

Para nós, portugueses, a eliminação das moedas de 1 e 2 cêntimos ou a adoção completa do arredondamento não é automaticamente garantida, porque ainda não há uma decisão de âmbito europeu que imponha isso a todos os estados-membros da zona euro.

O euro é emitido em série única e para retirar formalmente uma denominação teria que haver consenso ou decisão comum.

Por outro lado, Portugal já está inserido no debate e a sondagem mostra que somos dos países menos favoráveis à eliminação total dessas moedas (cerca de 49 % contra retirar, segundo dados anteriores).

Se a medida avançar, podemos esperar duas mudanças principais: os pagamentos em numerário poderão sofrer arredondamentos automáticos, e a circulação de moedas de 1 e 2 cêntimos tenderá a decrescer até ficarem efetivamente raras.

Para o consumidor isso pode significar que o troco será arredondado, para cima ou para baixo e que quem trabalha nas caixas deixará de receber ou devolver tantas dessas moedas pequenas.

Moedas mudan de forma gradual

Se usa numerário de vez em quando, ou tem trocos em casa, fique a saber que a moeda pode mudar não de um dia para o outro, mas de forma gradual. Quem usa cartão ou pagamentos digitais não vai notar tanto a diferença. Mas para quem depende de trocos ou trabalha com cash, é útil estar preparado.

O argumento económico é simples e assenta no facto de que fazer, transportar, distribuir, contar todas essas moedas de 1 e 2 cêntimos tem um custo que a sociedade está cada vez menos disposta a suportar.

É verdade que seSe houver arredondamento, há risco de subida ligeira de preços em alguns casos, até porque se arredonda para cima, acaba por “custar” mais. Mas por outro lado, há economia para os operadores. É um equilíbrio que cada país vai ter de calibrar.

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