Cláudia Pereira
Cláudia Pereira
24 Out, 2025 - 18:00

Mudança da hora no inverno: será que ainda faz sentido em 2025?

Cláudia Pereira

Saiba por que motivo a mudança da hora continua a gerar discussão em Portugal: origem da prática, impactos reais, o debate político e como preparar o regresso ao horário de inverno.

Na madrugada do último domingo de Outubro de 2025, os relógios em Portugal continental e na Madeira serão atrasados uma hora – às 02h00 passa a ser 01h00. Nos Açores, o ajuste segue a hora local. Esta alteração marca o fim do chamado horário de verão e o regresso ao horário de inverno.

Este pequeno gesto, aparentemente simples, afeta milhões de pessoas e relança questões práticas — e filosóficas — sobre se vale ou não a pena esta prática anual.

Por que continuamos a mudar a hora

Uma tradição com raízes históricas

A mudança bi-anual (verão → inverno) existe em Portugal desde a Primeira Guerra Mundial, num esforço de economia energética geral. Algumas entidades especializadas salientam que alterar o relógio, mesmo por uma hora, “perturba o ritmo circadiano” — o nosso relógio biológico interno. Os motivos atuais invocados são pistas como: poupança de energia, mais luz no fim da tarde para lazer, melhor produtividade.

Por que motivo o tema volta sempre à mesa

Todos os anos, quando chega a viragem do outono e da primavera, a mudança da hora volta a ganhar espaço nas conversas, nos media e nas redes sociais. O tema parece simples, mas envolve várias dimensões ao mesmo tempo: científica, económica, social e política.

Em Portugal, esta discussão é especialmente prática: pais, professores, trabalhadores por turnos e empresas de transporte perguntam-se, ano após ano, de que forma esta hora a mais ou a menos vai interferir no sono, na produtividade, na organização familiar ou nos serviços públicos. No fundo, o debate mantém-se vivo porque não se trata apenas de mexer no relógio, mas de mexer no ritmo da vida.

O que a vizinha Espanha está a propor

O governo de Espanha apresentou recentemente à Comissão Europeia uma proposta para acabar com a mudança de hora duas vezes por ano a partir de 2026. A justificação apontada é dupla: por um lado, os ganhos energéticos estimados são agora considerados “mínimos ou nulos”; por outro, o impacto no corpo humano e nos ritmos de vida é cada vez mais documentado.

A Comissão Europeia já manifestou apoio à ideia e anunciou que vai fomentar o consenso entre os Estados-Membros para avaliar a viabilidade da medida. Neste contexto, o debate sobre o horário de inverno ou de verão fixa-se também em Espanha — que ainda não definiu qual dos dois manteria caso a mudança fosse abolida.

Quais os argumentos a favor e contra

Vantagens apontadas

Com o regresso ao horário de inverno, a luz da manhã surge mais cedo. Para quem começa o dia muito cedo — trabalhadores de turnos, escolas, serviços e transportes — esta alteração pode facilitar a adaptação ao ritmo diário, tornando as primeiras horas do dia mais naturais e alinhadas com a luz solar.

A mudança de hora também foi inicialmente defendida com base na ideia de poupança energética. A lógica era simples: ao aproveitar melhor a luz natural, utilizava-se menos iluminação artificial, o que poderia reduzir o consumo de eletricidade. Durante décadas, esta justificativa sustentou a prática em vários países europeus.

Contra-argumentos e dúvidas

Contudo, estudos recentes indicam que a poupança energética associada à mudança de hora é cada vez menos significativa e, em alguns casos, praticamente inexistente. Ao mesmo tempo, os impactos na saúde tornaram-se um ponto central no debate. Alterar o relógio mesmo por apenas uma hora pode perturbar o ritmo circadiano, interferindo no sono, no humor e na sensação de bem-estar.

Alguns estudos apontam até para um aumento de risco de eventos cardiovasculares nas semanas imediatamente após a mudança. Há também o impacto direto na rotina de quem depende da luz natural para trabalhar ou cumprir horários, incluindo muitas crianças: uma hora de diferença pode parecer pouca, mas é suficiente para desregular o corpo e provocar sensação de cansaço ou desorientação temporária.

    Como se preparar para esta mudança

    Na véspera da mudança, pode ser útil deitar-se um pouco mais cedo. Este pequeno ajuste ajuda o corpo a adaptar-se gradualmente ao novo horário. Verificar os relógios que não alteram a hora automaticamente — como despertadores, eletrodomésticos ou o relógio do carro — também evita imprevistos na manhã seguinte.

    Aproveitar a luz da manhã é uma das formas mais simples de facilitar a adaptação. Um breve momento ao ar livre, abrir as janelas ou tomar o pequeno-almoço com luz natural ajuda o organismo a regular o ritmo.

    Se, nos dias seguintes, surgir alguma sensação de cansaço ou alteração no padrão de sono, é importante reconhecer que se trata de uma resposta normal à mudança. O corpo ajusta-se de forma progressiva, geralmente ao longo de poucos dias. A recomendação principal é manter rotinas estáveis e dar tempo ao organismo para encontrar novamente o seu equilíbrio.

    Se o tema lhe interessa e quer acompanhar futuras atualizações sobre o possível fim da mudança da hora na União Europeia, fique atento.

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