O grupo franco-neerlandês Air France-KLM formalizou uma manifestação de interesse no processo de privatização da TAP Air Portugal, adiantando-se à data limite definida pelas autoridades portuguesas.
A intenção é entrar no capital da companhia nacional (cuja privatização parcial prevendo a alienação de cerca de 44,9 % foi aprovada pelo Governo) e esse movimento revela a relevância estratégica da TAP para redes mais amplas de aviação e conectividade internacional.
Segundo o comunicado da Air France-KLM, “o forte e continuado interesse” na operação demonstra que o grupo encara a TAP como um ativo relevante no quadro europeu da aviação, incluindo os hubs de Lisboa e as rotas para Brasil, África de língua portuguesa e América do Norte.
A candidatura da Air France-KLM insere-se num contexto mais amplo em que outros grandes operadores europeus, nomeadamente International Airlines Group (IAG) e Deutsche Lufthansa AG (Lufthansa), também anunciam vontade de participar no processo.
Sob o ponto de vista de Lisboa, a venda de participação no capital da TAP aparece como uma aposta estratégica para reduzir a intervenção estatal, melhorar a governação da companhia e captar investimento privado com experiência internacional, mantendo porém o Estado português como acionista maioritário e reservando 5 % para os trabalhadores.
Resultados financeiros da TAP animam o negócio
Enquanto o mercado se prepara para estudar as propostas dos potenciais investidores, a TAP divulgou resultados que surpreendem pela viragem: nos primeiros nove meses de 2025, a companhia apresentou um resultado líquido positivo de 55,2 milhões de euros.
As receitas operacionais até setembro ascenderam a 3 281,3 milhões de euros, um aumento marginal de 0,5 % face a igual período de 2024. O número de passageiros transportados atingiu 12,7 milhões, mais 2,9 % do que no período homólogo.
A liquidez da empresa também registou melhoria significativa. No final de setembro de 2025, a TAP reportava uma posição de caixa de 1 025,6 milhões de euros, um acréscimo de 373,9 milhões face a 31 de dezembro de 2024.
No entanto, nem tudo são rosas, já que o EBITDA recorrente para o período foi de 592 milhões de euros, com uma margem de 18,0 %, mas regista uma queda de 11% face a 2024.
Esses resultados tornam-se particularmente relevantes para o processo de privatização.
Se por um lado demonstram que a TAP está em condições operacionais e financeiras mais saudáveis do que em anos recentes, por outro, permitem aos potenciais investidores uma base mais sólida para avaliar valor, riscos e retorno futuro.
Posição mais apelativa para os concorrentes
O facto de a TAP apresentar lucros, ainda que modestos num contexto de aviação desafiante, cria uma narrativa mais apelativa para grupos como a Air France-KLM.
A companhia portuguesa deixa de ser vista como “um fardo permanente” e passa a ter traços de rentabilidade que interessam a acionistas que procuram crescimento em hubs estratégicos.
A localização de Lisboa, o acesso aos mercados lusófonos e a rede de rotas da TAP são ativos que encaixam na estratégia da Air France-KLM de reforço de hubs e presença internacional.
TAP: condicionantes do processo
Mas o processo de privatização ainda está sujeito a várias condicionantes. O caderno de encargos impõe requisitos de dimensão aos licitantes, como, por exemplo, um volume de negócios mínimo de 5 000 milhões de euros em pelo menos um dos últimos três anos para poderem concorrer.
Há também preocupações regulatórias, de concorrência e geopolíticas (nomeadamente no que respeita à manutenção da marca TAP e da base em Lisboa). O Estado português continua a deter a maioria das ações e insiste na manutenção da soberania estratégica de certas rotas.
Os próximos dias dirão se mais concorrentes irão formalizar a sua intenção de avançar neste processo de privatização da companhia aérea nacional.