Miguel Pinto
Miguel Pinto
21 Nov, 2025 - 10:00

Ryanair deixa de voar para os Açores em março de 2026

Miguel Pinto

A companhia de aviação low-cost Ryanair anunciou que vai deixar de voar para os Açores. Em causa estão as taxas cobradas no aeroporto.

avião da Ryanair

A Ryanair anunciou esta quinta-feira, 20 de novembro, que vai cancelar todas as operações de voo de e para os Açores a partir de 29 de março de 2026, após dez anos de presença na região.

A decisão surpreendeu tanto o Governo Regional dos Açores como a ANA – Aeroportos de Portugal, que afirmam que as recentes negociações apontavam precisamente no sentido contrário, ou seja, o aumento da operação da companhia no arquipélago.

A companhia aérea de baixo custo irlandesa justifica a saída com o que considera serem taxas aeroportuárias excessivas e a falta de ação do Governo português.

De acordo com o comunicado da empresa, as taxas de navegação aérea aumentaram 120% após a pandemia de covid-19, tendo ainda sido introduzida uma taxa de viagem de dois euros, numa altura em que outros países europeus estariam a reduzir ou abolir estas taxas.

Ryanair acusa ANA de situação monopolista

A Ryanair acusa a ANA, detida pelo grupo francês Vinci, de ter uma posição monopolista e de não ter planos para aumentar a conectividade de baixo custo com os Açores.

Segundo a empresa, os aviões que atualmente fazem as ligações ao arquipélago serão realocados para outros aeroportos europeus com custos mais reduzidos.

Outra crítica apontada pela companhia irlandesa prende-se com as taxas ambientais da União Europeia.

A Ryanair argumenta que o sistema de comércio de emissões (ETS) se aplica apenas a voos intraeuropeus, enquanto voos de longo curso para destinos como os Estados Unidos e o Médio Oriente estão isentos, criando uma situação de concorrência desleal que penaliza regiões remotas como os Açores.

Surpresa dos responsáveis nacionais

Tanto o Governo português como a ANA manifestaram surpresa com a decisão e contestam os argumentos apresentados pela Ryanair.

O Ministério das Infraestruturas, liderado por Miguel Pinto Luz, sublinha que a taxa de rota aplicada aos Açores é a mais baixa da Europa e que a taxa de terminal se encontra entre as mais reduzidas do continente.

O Governo esclarece ainda que a taxa de terminal tem registado uma trajetória descendente desde 2023, passando de aproximadamente 180 euros para os atuais 163 euros.

Quanto às taxas cobradas pela ANA, estas mantêm-se nos 8,14 euros por passageiro desde 2024, sem qualquer aumento previsto para 2026, o que coloca Portugal entre os países com taxas aeroportuárias mais competitivas da Europa.

A tutela recordou também que a Ryanair beneficiou de dezenas de milhões de euros em incentivos ao longo dos anos, através de diversos programas de apoio ao tráfego aéreo para os Açores.

Por seu lado, a ANA confirma que as taxas aeroportuárias em vigor nos Açores são as mais baixas de toda a sua rede e que não houve qualquer aumento em 2025 nem está previsto para 2026.

A concessionária afirma ainda que as conversas mais recentes com a companhia irlandesa estavam orientadas no sentido de aumentar a oferta de voos para Ponta Delgada, e não de a reduzir, tornando o anúncio completamente inesperado.

Ryanair com quatro rotas para o arquipélago

Atualmente, a Ryanair opera quatro rotas para os Açores: duas ligações entre Lisboa e Ponta Delgada (São Miguel), com duas frequências semanais cada, e outras duas para as Lajes (ilha Terceira), com dois voos por semana desde Lisboa e três desde o Porto.

Todos os voos de e para São Miguel serão cancelados a partir de 29 de março, enquanto os voos para a Terceira cessarão a 22 de março.

Os passageiros que já adquiriram bilhetes para voos após essas datas foram notificados pela companhia e receberam opções para alterar as reservas sem custos adicionais ou solicitar reembolso.

Entretanto, o Governo Regional dos Açores manifestou surpresa com o anúncio, considerando-o “extemporâneo” e contrário a declarações recentes do CEO da Ryanair, Michael O’Leary, que em setembro afirmou a vontade de investir nos Açores e reabrir a base operacional em Ponta Delgada.

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